Trombose: a doença que provocou a internação de Anitta pode ser irreversível na falta de tratamento

O angiologista Dr. Fred Linhares fala sobre causas, efeitos e tratamento nos casos de trombose

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Imagem; Reprodução/Instagram
Legenda: Anitta foi diagnosticada com trombose
Foto: Reprodução/Instagram

A trombose, doença que provocou a internação da cantora Anitta, 27 anos, pode causar danos irreversíveis, tanto pela demora no diagnóstico quanto pela falta de tratamento adequado.

A própria funkeira, que deixou o hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or, em São Paulo, nesta sexta-feira (26), após ter sido internada na quinta (25), usou as redes sociais para tranquilizar seus fãs de que está bem e falar sobre a importância do tratamento na fase inicial da doença.

A preocupação da Anitta em alertar o público (mesmo estando bem) sobre a necessidade de seguir as recomendações médicas para o resultado satisfatório do tratamento, pode ser explicada pelo angiologista Fred Linhares,  membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Regional Ceará.

Veja também

A trombose ocorre pela formação de coágulos nas veias, os quais surgem com maior  frequência nos membros inferiores, como aconteceu em uma das pernas de Anitta. Para o médico, os principais fatores de risco para contrair a doença estão relacionados à imobilidade prolongada. "Pacientes internados por longos períodos ou mesmo quem se submete a grandes cirurgias e ficam impossibilitados de realizar a mobilização da musculatura da perna. Nesses casos, o bombeamento do sangue é reduzido, o que prejudica o fluxo do líquido, favorecendo a formação de coágulos".

Sintomas

Um dos principais sinais relacionados à trombose dos membros inferiores é a perna inchada. "É difícil se ver um caso em que a formação de coágulo acometa os dois membros, o que facilita identificar a diferença de uma perna para a outra".

Vermelhidão, calor excessivo no local, geralmente na panturrilha, e dores permanentes, sem evolução de  melhora após o repouso são indicativos de  trombose venosa profunda. O ideal é procurar assistência médica.

"Nesse caso, a falta de tratamento favorece o aumento do coágulo. Ele pode descolar da perna, fazer um percurso até o pulmão e desencadear uma embolia pulmonar, tornando o  quadro mais severo e com risco de vida".

Causas

Dentre as principais causas da trombose estão o sedentarismo, alimentação desequilibrada, idade avançada, excesso de peso, tabagismo, neoplasias (câncer), uso de medicações, destaque para os métodos contraceptivos orais (os quais Anitta declarou, no insta do Hugo Gloss, não utilizar). Conforme o Dr. Fred Linhares, o consumo da  pílula anticonceptiva pode contribuir para o quadro de trombose por apresentar hormônios que possibilita a formação dos coágulos. O  especialista também faz um alerta para as futuras mamães. "Dependendo do estado da gestante, o período de risco para a doença pode se estender por até três meses após o parto", declara o médico.

Em relação aos exercícios físicos, o médico pontua que, nesse período de pandemia, no qual muitos deixaram de praticar atividade física ou realizam com restrições, as queixas de inchaço e dores nas pernas são frequentes.  

Quando a contração da musculatura da panturrilha e da perna não é  feita de forma eficiente,  o sangue tem maior dificuldade de retornar para o coração. Com isso, extravasa mais líquido de dentro dos vasos para fora, causando o edema e consequentemente a dor. Em casos extremos, se não houver uma movimentação adequada, pode ocasionar a formação da trombose venosa profunda. O médico diz ser muito importante, mesmo nesse período, fazer exercícios em casa, a exemplo de agachamento, subir e descer escadas. A prática diminui os sintomas da imobilidade prolongada.

Nas viagens longas de avião, o curto espaço entre as poltronas dificulta a mobilidade dos membros inferiores, o que  aumenta o risco de trombose. A orientação é levantar a cada duas horas, andar um pouco nos corredores. Uso de meia elástica é importante para impedir que o sangue fique parado nas pernas. O acessório melhora o retorno do sangue. "Em casos de pessoas com risco aumentado, recomendamos uso de medição anticoagulante antes do embarque".

Público jovem

O angiologista diz que, a trombose não é um acometimento tão frequente em pessoas jovens, a exemplo da cantora Anitta. Nesse público, observamos que os casos estão mais relacionados ao uso de contraceptivo oral, viagens mais prolongadas,  traumas direto na veia ou doenças genéticas que causam predisposição ao aparecimento das tromboses, principalmente as chamadas trombofilias.  Nas  famílias com incidência  aumentada de trombose, o angiologista afirma ser  comum outros parentes apresentarem episódios da doença, o que simplifica o diagnóstico. 

"Porém, existem casos em que os sintomas não são identificados como trombose.  Isso ocorre  em quem  desempenha as atividades normais do dia a dia e,  de uma hora para a outra, apresenta o evento, o qual fazemos a investigação e não encontramos nenhum motivo específico para o desenvolvimento de problema vascular. Essa é a chamada trombose idiopática. Ou seja, sem causa determinada", explica o médico.

"Nesse período de isolamento social, observamos o aumento da incidência de trombose venosa profunda, principalmente nos quadros mais grave. Em pacientes que necessitam de internamento,  fazemos uso dos anticoagulantes para prevenir ou tratar o caso de desenvolvimento da doença, inclusive, nos que apresentam infecção pelo coronavírus".

Tratamento

O exame realizado para o diagnóstico de trombose é o ultrassom com dopller venoso. Por meio da tecnologia é possível identificar a presença dos coágulos. O tratamento para a trombose diagnosticada deve ser feito com uso de anticoagulantes, medicamentos que afinam o sangue e impedem que o coágulo aumente, reduzindo assim o risco de embolia pulmonar.

A evolução das medicações anticoagulantes possibilita que o tratamento seja realizado sem internação. Conforme o especialista,  "antigamente tínhamos que manter os pacientes internados de cinco a sete dias para iniciar o procedimento por meio de injetável. Atualmente, após o diagnóstico, receitamos a medicação em comprimido, em duas ou quatro horas. Após o consumo, é possível comprovar o efeito".

Assuntos Relacionados