Reforma de praça vizinha ao Dragão do Mar completa seis meses com paralisação e expectativa por novo prazo de conclusão

Retomada das obras está prevista para fevereiro com nova empresa responsável; acesso ao centro cultural é desafio em meio aos trabalhos de requalificação

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
Acesso de visitantes ao Dragão do Mar foi impactado; Secretaria da Cultura e centro cultural buscam agir para 'reduzir ao máximo o transtorno' para visitantes
Legenda: Acesso de visitantes ao Dragão do Mar foi impactado; Secretaria da Cultura e centro cultural buscam agir para "reduzir ao máximo o transtorno" para visitantes
Foto: Thiago Gadelha

Era 11 de julho de 2024 quando o Governo do Ceará anunciou o início da reforma da Praça Almirante Saldanha, vizinha ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). Os marcos dos últimos seis meses, no entanto, foram de dificuldades no processo.

Em especial, por conta dos desafios de acesso de visitantes ao centro cultural — que segue com programação normal apesar dos trabalhos no entorno  — e, no final de 2024, pela paralisação das obras com 12% de execução após problemas com uma primeira construtora.

Ao Verso, a secretária da Cultura do Ceará Luisa Cela adianta que uma nova construtora está em processo de contratação e a reforma tem previsão de ser retomada em fevereiro, quando cronograma e previsão de conclusão atualizados devem ser apresentados. 

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“A obra deveria estar finalizando agora, mas infelizmente tivemos uma dificuldade com a empresa no cumprimento do cronograma apresentado. Não havia nenhum tipo de pendência por parte do governo, não houve atraso de pagamento. A gente — Governo do Estado, Secult e SOP (Superintendência de Obras Públicas ) — estava com a nossa parte em dia”, afirma a secretária.

A Superintendência de Obras Públicas, que conduz as contratações, efetuou o distrato com a empresa anterior no final de 2024. “É uma licitação, um contrato, então a gente precisa seguir os ritos previstos, tem regras. A SOP fez aviso, advertência, notificação, até chegar num momento onde tinha evidências suficientes para fazer o distrato”, compartilha.

Somente a primeira fase prevista para a reforma da Praça Almirante Saldanha foi concluída até o momento
Legenda: Somente a primeira fase prevista para a reforma da Praça Almirante Saldanha foi concluída até o momento
Foto: Thiago Gadelha

A empresa anterior havia cumprido a primeira das quatro fases inicialmente previstas para a reforma. “Ela fez o cercamento, retirou o piso antigo e aí agora as outras três fases que faltam para se concluir a obra da praça serão tocadas pela próxima empresa que está sendo contratada”, informa a secretária.

Segundo Luisa, os processos burocráticos para a entrada da nova empresa licitada na reforma começaram logo em seguida e não há previsão inicial de aditivos ao orçamento anunciado, no valor de pouco mais de R$ 5,1 milhões.

“Pelo que já foi executado pela primeira empresa e pelo que tem de saldo no contrato, a primeira sinalização é de que o recurso existente é suficiente para concluir”, afirma Luisa. A secretária lembra, no entanto, que eventuais necessidades podem transcorrer e serão, caso surjam, divulgadas.

Acesso é desafio para visitantes e gestão 

A colocação de tapumes para o início dos trabalhos na reforma e a posterior paralisação das obras com somente a fase inicial tendo sido executada impactam, de forma concreta e subjetiva, o acesso de visitantes ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, vizinho da Praça Almirante Saldanha e que não tem gerência sobre o logradouro.

O desafio é reconhecido pela gestão nas falas da secretária Luisa Cela e também de Lenildo Gomes, diretor de ação cultural do Instituto Dragão do Mar, organização social responsável pela gestão do CDMAC. 

“O tapume causa um afastamento das pessoas e aí a gente tomou algumas medidas, que foram melhorar a iluminação, iluminar as placas de sinalização, criar acessos alternativos para melhorar a entrada para a parte inferior do Centro, a própria questão da segurança”, elenca a gestora.

Entrada Arena Dragão, com acesso pela rua José Avelino, é um dos acessos ao CDMAC em meio às obras da Praça Almirante Saldanha
Legenda: Entrada Arena Dragão, com acesso pela rua José Avelino, é um dos acessos ao CDMAC em meio às obras da Praça Almirante Saldanha
Foto: Thiago Gadelha

Segundo Lenildo, o CDMAC “não registrou uma queda expressiva no número de visitantes desde o início das obras”. “Apesar da limitação de parte do acesso, o equipamento mantém seu fluxo de público cativo nos cinemas, teatros e exposições”, afirma o diretor. 

Para ele, o principal desafio “tem sido reforçar junto à população que a programação do equipamento segue ativa e acessível, independentemente das mudanças temporárias no espaço ao redor”.

“O Dragão do Mar tem intensificado ações para informar sobre os acessos alternativos, como uma nova entrada pela Avenida Pessoa Anta, além da rua José Avelino e outros pontos estratégicos, garantindo que os visitantes possam acessar os espaços culturais de forma tranquila e segura”
Lenildo Gomes
diretor de Ação Cultural do Instituto Dragão do Mar

A nova entrada da av. Pessoa Anta dá acesso direto ao piso inferior do centro cultural e fica ao lado da rampa do mural de Aldemir Martins. Lenildo também cita a instalação de bicicletário ao lado da entrada da estátua do poeta Patativa do Assaré como uma melhoria efetivada pela gestão. 

Acessos ao Dragão do Mar no período de reforma da Praça Almirante Saldanha

  • Nova entrada por portão na Av. Pessoa Anta com acesso direto ao piso inferior (Arena Dragão do Mar, Cinema do Dragão, Teatro Dragão do Mar, Multigaleria e Espaço Rogaciano Leite Filho)
  • Entrada pela rampa do mural de Aldemir Martins, na Av. Pessoa Anta, com acesso direto ao piso superior (Planetário Rubens de Azevedo, Anfiteatro Sérgio Motta, área administrativa e Museus)
  • Entrada dos museus, na Av. Presidente Castelo Branco, ao lado do Biblioteca Pública do Ceará
  • Entrada Arena Dragão do Mar, com acesso pela rua José Avelino, ao lado da estátua de Patativa do Assaré e na altura do Espaço Rogaciano Leite Filho
  • Entrada Praça Verde, com acesso pela rua José Avelino, com entrada pelo elevador panorâmico para acesso ao piso superior (em frente ao Museu de Arte Contemporânea do Ceará) 

“O Centro Cultural não parou, está com atividades, tem público. O que nos cabe, que é iluminar, sinalizar e trazer a sensação de segurança, nós estamos fazendo e fizemos”, reforça a secretária.

Em visita ao Dragão do Mar no início da tarde de chuva da última terça-feira (14), a reportagem encontrou visitantes de Fortaleza e de fora no local. Entre eles, os turistas Marco Antônio Ferreira de Sousa e Marcel Gonçalves, que vieram de Santos (SP) passar férias em Fortaleza.

Os dois decidiram retornar ao Dragão do Mar, que já conheceram em viagem anterior há cerca de três anos, pelas boas lembranças do lugar. "A gente chegou e descobriu na hora que (a praça) estava assim, porque da outra vez que a gente veio estava bem bonito aqui, bem arrumado”, partilhou Marco. 

Placas de sinalização foram afixadas para orientar visitantes no acesso ao CDMAC
Legenda: Placas de sinalização foram afixadas para orientar visitantes no acesso ao CDMAC
Foto: Thiago Gadelha

Apesar da “surpresa”, os dois não encontraram grandes dificuldades para saber como acessar o centro cultural. “O caminho estava tortuoso, mas deu pra chegar. A gente já conhecia, então ficou mais fácil de entrar, viemos por cima, pelas escadas”, relata o turista. 

O conhecimento prévio também ajudou o músico Yuri Costa, morador de Fortaleza, a chegar ao Dragão do Mar naquela terça-feira para uma atividade no Planetário. No entanto, em uma visita de noite, há cerca de três meses, a situação foi diferente. 

“Eu não sabia (como fazer) para chegar tanto até o Anfiteatro quanto ao cinema e de noite fica muito perigoso. Tive que dar uma volta no quarteirão, sozinho. Depois já me preparei, agora quando venho já sei mais ou menos como está”, partilha.

Reforma da Praça Almirante Saldanha impactou também estabelecimentos comerciais como bares e boates nos arredores do Dragão do Mar
Legenda: Reforma da Praça Almirante Saldanha impactou também estabelecimentos comerciais como bares e boates nos arredores do Dragão do Mar
Foto: Thiago Gadelha

Estar no CDMAC à noite também foi um entrave para o designer Lucas Bruno Sales, que ficou no Cinema do Dragão até quase 21 horas no último sábado (11). Segundo ele, as luzes se apagaram e os espectadores tiveram que deixar o local “no escuro” indo pelo novo acesso da avenida Pessoa Anta. 

Ele e um amigo foram até um supermercado próximo, “o único estabelecimento por perto que ainda estava aberto”, para aguardar o transporte por aplicativo. “A reforma da praça prejudicou bastante o movimento naquela área à noite, das boates e barzinhos, então a minha impressão era de que estava tudo deserto”, avalia. 

“No geral, achei que faltou um cuidado maior para guiar as pessoas que estavam ali. Não vi seguranças ou funcionários em ponto nenhum dispostos a dar instruções, sinalizar a saída, acompanhar. Se havia placas, também não percebi, já que estava tudo no escuro” 
Lucas Bruno Sales
visitante do CDMAC

“Tem o impacto, as pessoas reclamam, claro, mas é para um bem maior”, reforça a secretária Luisa Cela sobre a reforma. “A revitalização da Praça já vai dar uma boa condição para o Centro Dragão do Mar funcionar com mais qualidade, receber melhor as pessoas”, aponta.

“Todas as áreas do Dragão estão abertas e funcionando, a gente fez sinalização dos acessos, tem buscado reduzir ao máximo o transtorno que a obra traz para os frequentadores. Nosso desejo é que a gente possa o mais rápido possível tirar aqueles tapumes e apresentar para Fortaleza, o Ceará, a praça revitalizada e o Dragão do Mar com o funcionamento que ele merece”, defende a gestora.

Alinhamento entre Governo e Prefeitura pode ajudar na revitalização da região, defende secretária

Centro de uma disputa entre as gestões do ex-prefeito José Sarto (PDT) e do governador Elmano de Freitas (PT), a Praça Almirante Saldanha — tipo de espaço de responsabilidade geralmente municipal — foi cedida pela Prefeitura ao Governo em 2024 após série de tentativas do ente estadual.

“A gente vem desde o começo da gestão nessa batalha para iniciar essa obra. Já foi muito divulgado e tratado, tanto pelo Governo como pela Prefeitura, que tivemos ali um primeiro momento de dificuldade”, reconhece a secretária estadual Luisa Cela.

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Em fevereiro de 2024, por exemplo — como apurou o colunista do Diário do Nordeste Inácio Aguiar —, o Governo fez mais um pedido de cessão para efetivar um projeto assinado pelo arquiteto Fausto Nilo.

O projeto citado inclui a reforma da Praça Almirante Saldanha, mas vai além e prevê ações que vão da avenida Monsenhor Tabosa até o Pavilhão Atlântico, na comunidade do Poço da Draga.

A expectativa é que os demais trabalhos ocorram em parceria entre os governos petistas no Estado e na Capital, com Evandro Leitão.

“A parte que foi licitada pelo governo de uma forma mais emergencial, pensando inclusive no cuidado com o Centro Dragão do Mar, foi a praça. A gente agora vai discutir com o governador e o prefeito Evandro para dar andamento às outras etapas do projeto e revitalizar toda aquela área”
Luisa Cela
secretária da Cultura do Ceará

Dificuldades envolvendo os entes municipal e estadual em relação à praça, porém, não são novidade. Há 11 anos, em janeiro de 2014, o Diário do Nordeste noticiava o anúncio de uma reforma da mesma praça — à época, o projeto seria de responsabilidade da organização social Instituto Dragão do Mar.

Construída no século XIX, Praça Almirante Saldanha se tornou ligada ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Legenda: Construída no século XIX, Praça Almirante Saldanha se tornou ligada ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura; na foto, registro do logradouro em 2014
Foto: Fabiane de Paula / Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc)

As intervenções previstas há mais de uma década, porém, aguardavam na época o andamento burocrático da transferência oficial do logradouro da prefeitura — ocupada então por Roberto Cláudio (então PROS) — para o Governo — recém-assumido pelo então aliado Cid Gomes (à época PROS).

Reprodução de matéria publicada em 24 de janeiro de 2014 no Diário do Nordeste sobre anúncio de reforma da Praça Almirante Saldanha
Legenda: Reprodução de matéria publicada em 24 de janeiro de 2014 no Diário do Nordeste sobre anúncio de reforma da Praça Almirante Saldanha
Foto: Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc)

Segundo o ex-gestor do CDMAC Paulo Linhares afirmou ao Diário do Nordeste na ocasião, a “transferência da praça para o domínio do Estado é uma proposta existente desde a inauguração” do Dragão do Mar, ocorrida em 1999.

Confira nota pública da Secult e da SOP sobre a obra de requalificação da Praça Almirante Saldanha:

"A Secretaria da Cultura do Ceará informa que o contrato entre a empresa CETUS Construtora e a Superintendência de Obras Públicas (SOP) foi encerrado em dezembro de 2024, após avaliações sobre o andamento do cronograma de execução do projeto de reforma da Praça Almirante Saldanha. A Secult ressalta, ainda, que um novo processo de contratação para a empresa responsável pela requalificação urbana da praça está em andamento, com previsão de retomada das obras em fevereiro de 2025.

Com relação à execução da obra, de acordo com a SOP, hoje o percentual é de aproximadamente 12%, englobando os serviços de demolição, remoção de entulhos e sistemas de drenagens já realizados. A partir da retomada em fevereiro, estima-se que a obra seja concluída até o fim deste ano. O Governo do Ceará está investindo cerca de R$ 5,16 milhões para as intervenções urbanísticas nos entornos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A obra na Praça contempla uma área total de 24.065,42m², compreendida entre a Avenida Almirante Jaceguai, trechos da Rua José Avelino, da Avenida Almirante Barroso (Av. Pessoa Anta) e da Rua Boris.

Trata-se de uma obra de reestruturação urbanística da Praça Almirante Saldanha.

A ação será executada pela SOP em quatro etapas:
1ª fase: cercamento da obra, demolição dos equipamentos existentes, recuperação estrutural dos equipamentos que irão continuar;
2ª fase: conformação e compactação da base (piso) e instalações elétricas, como postes e iluminação;
3ª fase: concretagem do novo piso;
4ª fase: instalação de novos equipamentos como bancos, lixeiras, luminárias e pinturas de meio fio."

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