Por que a Estação das Artes não usa praça em grandes eventos? Logística e hospital estão entre razões
Localizada em frente aos equipamentos do Complexo Cultural Estação das Artes, a Praça Castro Carreira tem usos em constante debate

Com o início da divulgação nas redes sociais da programação de aniversário de dois anos da Estação das Artes — equipamento do Governo do Estado com gestão do Instituto Mirante —, dezenas de comentários citavam — entre tons de sugestão, demanda e crítica — um mesmo espaço: a Praça da Estação.
Isso porque uma parcela do público frequentador percebe e questiona — não de hoje — uma “subutilização” do espaço nas grandes programações promovidas pelo equipamento. Com o anúncio das comemorações deste ano, uma pergunta se impôs: por que não levar as atrações para a praça, ao invés de limitar o acesso à parte interna do local?
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Apesar de popularmente ser conhecido como “Praça da Estação”, o logradouro público é oficialmente batizado de Praça Castro Carreira e tem gestão da Prefeitura de Fortaleza. De acordo com Uliana Lima, diretora da Estação das Artes, ele tem “ocupação orgânica” promovida por diferentes atores.
“As noites de segundas, quartas e sextas são utilizadas por um grupo de capoeira; a área também é ponto de encontro para atividades com skates e patins; e recebemos ainda ensaios fotográficos diários no local. A população compreende que é um espaço de uso coletivo”, inicia a gestora.

No tocante às programações ligadas ao equipamento, a Praça recebe atividades específicas que sejam “adequadas às possibilidades logísticas”. Entre elas, a Estação das Artes já realizou, ao longo dos dois primeiros anos de abertura, espetáculos de teatro e palhaçaria; ações do Abstrata - Festival Internacional de Videomapping; e o programa Som na Praça, que acolhe apresentações de cultura popular e música em diferentes ritmos.
A gestora ainda ressalta a Praça como “lugar de serviços”, ofertados à população em vulnerabilidade do território, citando o Projeto Acolher — iniciativa da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) — e a Estação Móvel — que realiza ações com profissionais de Psicologia, Serviço Social, Enfermagem, Educação Física e Nutrição.
Hospital, chuva e logística
“São diversos os fatores que definem quais espaços da Estação das Artes vão abrigar as programações”, começa Uliana Lima. “A utilização da Praça da Estação é condicionada a questões como quadra chuvosa, que inviabiliza a realização de eventos externos pela necessidade de preservar o público, os artistas e os equipamentos; e também pela proximidade com o Hospital Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza, o que nos exige atenção especial ao som”, elenca.
Outro fato central levado em consideração é a própria questão estrutural para receber apresentações, incluindo cobertura e presença de banheiros, por exemplo, o que já existe na Gare (parte interna da Estação das Artes).

“Ao realizar programações dentro do Complexo Cultural, conseguimos otimizar os recursos públicos ao utilizar todo o aparato já existente, o que nos possibilita direcionar o orçamento para a manutenção de uma programação semanal diversa. Ao realizar eventos na Praça da Estação, é necessário espelhar tudo o que já existe na Gare, o que requer um investimento também financeiro”, explica a diretora.
Produção, segurança, infraestrutura, saúde, tecnologia, comunicação e serviços gerais são aspectos levados em conta para a construção logística de um evento. A experiência oferecida ao público precisa, por exemplo, ofertar um quantitativo específico de banheiros e ambulâncias, por exemplo, dependendo da quantidade de público.
“Estamos sempre atentos aos retornos do público para dialogar sobre os muitos usos possíveis deste espaço, mas é importante reforçar que é nosso dever otimizar um recurso que possa garantir um ano inteiro de programações gratuitas para toda a população”, argumenta Uliana.
Apesar das explicações, a gestora ressalta que a Estação se soma ao pensamento coletivo sobre o espaço da Praça. “A observação que fazemos dos usos possíveis de espaços é diária. Compreendemos este equipamento de forma múltipla e, junto com o público e a classe artística, descobrimos cotidianamente novas possibilidades”, sustenta.
“Ressaltamos que todos os projetos e movimentações são pensados coletivamente, em diálogo com a Prefeitura de Fortaleza, com os grupos artísticos aprovados em Edital, por exemplo, e ainda com outros equipamentos da Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece). A utilização da Praça da Estação é, portanto, um pacto que envolve diferentes atores, e garanti-la com responsabilidade e segurança é um dever de todos”
Praça e acesso
O discurso que pede uma melhor utilização da Praça da Estação por parte da Estação das Artes está diretamente ligado à demanda por maior abertura de acesso das programações do equipamento. Quando realizados na parte interna, os eventos têm limite de acesso do público.
O músico Mateus Farias, que se apresenta no aniversário da Estação no domingo (31) com o parceiro musical Marcelo di Holanda, percebe a demanda. “O que todo mundo pede é para shows grandes terem maior estrutura. Acho que se começasse a utilizar a praça em eventos maiores, isso seria uma uma grande melhoria, mas eu sei que existem várias questões para isso”, reconhece.

Para os quatro dias de programação do aniversário de dois anos, a Estação ofereceu diferentes formas de acesso aos ingressos limitados. Para sexta e sábado, por exemplo, foram disponibilizados virtualmente, para cada dia, dois lotes de 750 ingressos cada. Outros 500 ingressos estarão disponíveis por ordem de chegada a partir da abertura dos portões em cada dia.
Nos primeiros meses de atuação da Estação das Artes, inclusive, o formato de acesso oficial do equipamento se dava a partir de distribuição de pulseirinhas na ocasião de cada evento realizado. Reclamações de lotação e desorganização das filas foram comuns à época.
Há nove meses, em junho de 2023, a Estação adotou outro protocolo de acesso, abrindo mão das pulseiras e efetivando a entrada sujeita à capacidade do espaço, com possibilidade de rotatividade de público. Pontualmente, há eventos com ingressos disponibilizados virtualmente.
“Pelas questões logísticas já enumeradas, fez-se necessário a adoção de diferentes metodologias para garantir o acesso seguro da população às programações dentro da Estação, como foi o caso das pulseiras, em um primeiro momento; e da retirada de ingressos pela plataforma Sympla ou da entrada por ordem de chegada, atualmente”, aponta Uliana.
A limitação de público, explica a gestora, se dá por diferentes motivos. “Por questões de segurança inerentes a qualquer evento com público, faz-se necessário limitar a quantidade de pessoas. Outra questão importante e que não pode ser desconsiderada é o fato de que atuamos em um bem tombado estadualmente e inscrito na lista de patrimônio do Iphan, o que por si só exige um cuidado dobrado”, aponta.

A diretora reforça a atenção do equipamento a buscar melhorias e ajustes necessários. “É por estarmos sempre atentos aos feedbacks do público frequentador e querermos oferecer a melhor experiência para todos, que estamos diariamente revisando essas metodologias e incorporando novos modos de fazer”, explica.
“Trata-se de uma relação de aprimoramento constante, com resolução de umas questões e abertura de outras, especialmente em uma dinâmica que envolve a atuação de mais de um equipamento do Complexo Cultural. Mas, o balanço geral é positivo, visto que, em dois anos, mais de 200 mil pessoas já foram diretamente beneficiadas por atividades culturais gratuitas”, finaliza.