Pinacoteca do Ceará recebe mostra gratuita de performance com apresentações, seminário e audiovisual

18ª Verbo - Mostra de performance arte chega ao equipamento cearense a partir desta quinta-feira (11)

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
Mostra Verbo exibe performances e vídeos na Pinacoteca do Ceará; na imagem, registro de 'A noite mais bonita é quando somos o céu', de Trojany, que será apresentada no evento
Legenda: Mostra Verbo exibe performances e vídeos na Pinacoteca do Ceará; na imagem, registro de "A noite mais bonita é quando somos o céu", de Trojany, que será apresentada no evento
Foto: Trojany / Divulgação

Reforçando as vocações de abertura à diversidade das artes e de criação de pontes entre a produção cearense, o Brasil e o mundo, a Pinacoteca do Ceará acolhe a partir desta quinta-feira (11) mais uma edição de um dos mais importantes eventos de performance do País.

Até o próximo dia 14, o museu cearense irá acolher a programação da 18ª edição da Verbo - Mostra de performance arte. Os momentos de fruição, reflexão e debate têm acesso gratuito.

Artistas do Ceará, do Brasil e de outros países compõem as atividades do evento, que incluem apresentações de performances, sessões de vídeo e realização do seminário Verbo Conjugado, que debaterá questões ligadas à linguagem.

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Parceria contínua entre Pinacoteca e Verbo

Realizado em parceria com a Galeria Vermelho, de São Paulo, o evento já teve programações desta edição sediadas na capital paulista, em Ribeirão Preto (SP) e, após Fortaleza, segue para São Luís (MA).

A primeira vez que a Pinacoteca do Ceará recebeu a mostra ocorreu em 2023, quando a instituição compôs a curadoria e seleção da edição daquele ano do evento.

“Recebemos o festival transformando todos os espaços do museu (ateliês, corredores, pátio, auditório) em palco para performances. Para além da programação dos artistas nacionais e estrangeiros que se apresentaram, também realizamos oficinas e mostras de vídeo”, recupera o artista visual e diretor do museu Rian Fontenele.

“Diante daquela experiência que foi tão bem recebida por artistas, público e para nós do museu, ainda em sua fase inaugural, mantivemos a parceria como parte de um compromisso contínuo”, segue.

“Este ano, mais uma vez, estivemos presentes desde a concepção do evento, com a participação na curadoria e na seleção dos artistas para o evento; com oficinas; ocupando o museu com ações em todos os espaços e, ainda, com um seminário reunindo artistas e pesquisadores locais em diálogo com os convidados de fora”
Rian Fontenele
artista visual e diretor da Pinacoteca do Ceará

O diretor destaca a relação entre a instituição e o evento como um “um caminho estratégico para cumprir nossa missão de ser uma plataforma de intercâmbio e difusão da arte contemporânea”.

Artistas cearenses em destaque

Além da presença de artistas de fora aqui, um dos destaques da edição, decerto, é a presença cearense em toda a programação, que vai dos vídeos — com Lyz Vedra e Fluxo Marginal — às performances — com Trojany —, passando pelo seminário — no qual nomes como Bárbara Banida, Pablo Assumpção, o coletivo No Barraco da Constância Tem! e Alexandre Veras participam. 

Na mostra de vídeos, a artista Lyz Vedra participa estará presente não apenas com exibições do vídeo “Apesar De Você Continuarei Viva”, mas também numa fala ao público que antecede o programa da sexta (12).

O trabalho audiovisual, define a cearense ao Verso, se vale da fabulação para elaborar a pesquisa dela, que borra fronteiras entre o humano e o vegetal. “(Ele) mergulha em questões existenciais, sociais e históricas, abordando a regeneração do corpo e da vida por meio do resgate de uma relação profunda com práticas ancestrais e com os outros seres não humanos, como as plantas”, descreve.

Frame do vídeo 'Apesar de você continuarei viva' (2024), da cearense Lyz Vedra, que será exibido na Mostra Verbo
Legenda: Frame do vídeo "Apesar de você continuarei viva" (2024), da cearense Lyz Vedra, que será exibido na Mostra Verbo
Foto: Reprodução

Detalhes conceituais e técnicos serão apresentados na conversa que Lyz comanda no dia 12. “Apresentarei alguns aspectos fundamentais que me ajudaram a pensar e desenvolver o processo de criação da obra”, afirma.

Já na quinta-feira (11), primeiro dia da mostra, a cearense Trojany apresenta a performance “A noite mais bonita é quando somos o céu”, que começa na entrada da Pinacoteca e segue para a Praça da Estação, evidenciando o que a artista chama de “inserção cotidiana da prática”.

“Do nada você tá passando e vê um ser passando e, depois, some e você nunca mais vê. Isso nos tira dessa lógica produtivista neoliberal e nos coloca dentro de outra atmosfera e relação com o mundo”, aponta.

Trojany ressalta, ainda, uma perspectiva ancestral no próprio trabalho: “Na arte contemporânea isso se instaura com esse nome de performance, mas para mim as minhas referências estão muito mais ligadas a práticas ritualísticas, ancestrais, do corpo diante de um espaço e de um tempo buscando conexão com a natureza, a comunidade”.

“A noite mais bonita é quando somos o céu”, inclusive, é fruto desse movimento, ampliando as pesquisas da artista sobre o conceito de “arquivo”, que se iniciaram ligadas aos álbuns familiares e arquivos digitais. A obra foi desenvolvida na residência artística JA.CA, de Minas Gerais.

“Começo a entender outras noções de arquivo indo além da imagem fotográfica ou da família, então começo a pensar que o céu, um animal em extinção ou um animal de determinado território pode ser um arquivo, contar uma história”
Trojany
artista

Na performance, a artista se debruça em um estudo sobre a relação dos povos originários com o céu no Brasil e no Ceará. 

“Esse céu que a gente vê agora é o mesmo céu que a gente via há muitos e muitos milhões de anos, então (é sobre) como ele é um arquivo, diz algo para nós da mesma forma como dizia a povos que estavam há 2 mil anos habitando esse território”, aprofunda.

Reverberar o Ceará 

A realização da Mostra Verbo no Ceará se liga de maneira direta ao cenário da performance no Estado. Como aponta Lyz, a arte aqui contribui de forma “significativa” para debates como ecologia, ancestralidade, gênero e tecnologia.

“O Ceará já concentra uma produção notável em Performance Arte e sediar a Verbo, uma mostra tão longeva que se dedica a esse campo artístico, torna possível não somente a fruição do público com a diversidade estética e poética das obras, mas, sobretudo, a afirmação do lugar de transversalidade que a Performance, enquanto campo de experimentação, inaugura.

Apresentação da performance 'A', do coletivo No Barraco da Constância Tem!, ocorrida na Praça da Estação em 2023 dentro da programação do Verbo
Legenda: Apresentação da performance "A", do coletivo No Barraco da Constância Tem!, ocorrida na Praça da Estação em 2023 dentro da programação do Verbo
Foto: Reprodução

Em diálogo, Trojany reconhece como “importante” e “complexo” o papel da Pinacoteca do Ceará neste cenário. “A gente está diante hoje de uma contemporaneidade que vai ter artistas trabalhando com muitas possibilidades de materialidade, de produção, então isso traz uma série de novas questões para uma instituição como essa que são muito desafiadoras”, elabora.

“A performance é uma prática, uma ação que não está vinculada a uma materialidade em específico, uma ação do corpo diante do espaço e do tempo. Quando se pensa que uma instituição como a Pinacoteca pode ter no acervo uma performance, a gente está falando de outra relação com a ideia de acervo”
Trojany
artista

“A performance é muito importante nesse lugar, para gerar e tensionar novas formas de habitar o mundo e acho que é muito importante uma mostra como a Verbo, que reúne esses nomes, e fico muito orgulhosa de fazer parte dessa edição”, celebra.

Enquanto diretor da instituição, Rian atesta que parcerias com festivais como neste caso são “um caminho do compromisso de difusão e interlocução com o melhor da arte contemporânea” por parte da Pinacoteca.

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“Esse compromisso se faz com parceria e em coletivo com instituições, dialogando para sermos sempre um trampolim para a arte cearense que cada vez mais se coloca no cenário nacional, gerando conexão e fortalecimento da linguagem da performance”, sustenta.

Uma ação direta citada por Rian que traz impactos neste sentido é o registro das ações realizadas no evento. “É entregue para os artistas e veiculado na plataforma Verbo/ Vermelho, tornando-se uma referência aberta para pesquisa e difusão de nossos artistas ao alcance internacional”, explica.

“O Festival os coloca em contato direto com curadores, um público amplo e uma rede de circulação artística, integrando-os de forma mais sólida no cenário nacional da performance, com formação e integração”, segue o diretor.

18ª Verbo - Mostra de performance arte 

Programa das sessões de vídeos - Auditório

  1. "Baladatoxica", de Victoria Papagni & Tobibi Bienz (10’42’’)
  2. "Meu Pai Me Ensinou A Brincar", de So Cabrera (06’02’’)
  3. "Um Homem Chamado Cavalo É O Meu Nome", de Lorre Yégo Motta (04’10’’)
  4. "Pulso", de Tania Candiani (14’16’’)
  5. "Seliberation #3", de Estela Lapponi (05’45’’)
  6. "Bodies", de Edith Saldanha (17’32’’)
  7. "Apesar De Você Continuarei Viva", de Lyz Vedra (9’40’’)
  8. "Amor Residual", de Yan Soa (4’46’’)
  9. "Sumiço", de Marcelo Amorim (6’18’’)
  10. "Cariri Território Indomável - Idioma Das Máscara", de Fluxomarginal (1’)

Programação completa

Quinta-feira, 11

  • 10 às 18 horas - Sessão de Vídeos

Onde: Café

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 13h30 - Abertura oficial da 18ª Verbo - Mostra de performance arte 

Onde: Auditório

Gratuito, com acessibilidade em Libras

  • 14 horas às 15h30 e 16 horas às 17h30 - Sessão de Vídeos

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa 16 anos

  • 16 horas - Performance “Coro de Vozes não Humanas II” (2025), com Tania Candiani (México)

Onde: Exposições em cartaz e hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 16h30 - Performance “A noite mais bonita é quando somos o céu” (2024), com Trojany (Brasil)

Onde: Hall da Pinacoteca do Ceará e Praça da Estação

Gratuito, com classificação indicativa livre

Sexta-feira, 12

  • 10 às 18 horas - Sessão de Vídeos

Onde: Café

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 11 horas às 12h30 - Sessão de Vídeos

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa 16 anos

  • 14 horas às 15h30 - Sessão de Vídeos, com Lyz Vedra (Brasil)

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa 16 anos e acessibilidade em Libras

  • 16 horas às 17h30 - Sessão de Vídeos

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa 16 anos

  • 16 horas - Performance “Cenário para uma Genômica Nacional” (2025), com Wendy Cabrera Rubio e Carlos Martinez (México) 

Onde: Hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 16h30 - Performance “Coro de Vozes não Humanas II” (2025), com Tania Candiani (México)

Onde: Exposições em cartaz e hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 17 horas - Performance “Alva Escura, lição de açúcar” (2024), com Dori Nigro e Paulo Pinto (Brasil)

Onde: Pátio

Gratuito, com classificação indicativa livre e acessibilidade em Libras

Sábado, 13

  • 12 às 20 horas - Sessão de Vídeos

Onde: Café

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 14 horas às 15h30 - Seminário Verbo Conjugado: Articulações em rede, com Dori Nigro, Paulo Pinto e Pablo Assumpção (Brasil) e mediação de Bárbara Banida (Brasil)

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa livre e acessibilidade em Libras

  • 16 horas às 17h30 - Seminário Verbo Conjugado: Performance para a câmera de vídeo, com No Barraco da Constância Tem! (Brasil) e Tania Candiani (México) e mediação de Alexandre Veras (Brasil)

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa livre, acessibilidade em Libras e tradução português-espanhol

  • 17h30 - Performance “Pin Dor Ama, lição de raiz” (2024), com Dori Nigri e Paulo Pinto (Brasil)

Onde: Hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre e acessibilidade em Libras

  • 18h30 - Performance “Coro de Vozes não Humanas II” (2025), com Tania Candiani (México)

Onde: Exposições em cartaz e hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 19 horas - Performance “Amaraña” (2025), com Javier Velázquez Cabrera (México)

Onde: Hall da Pinacoteca 

Gratuito, com classificação indicativa livre e acessível em Libras

Domingo, 14 

  • 10 às 17 horas - Sessão de Vídeos

Onde: Café

Gratuito, com classificação indicativa livre

  • 11 horas às 12h30 e 14 horas às 15h30 - Sessão de Vídeos

Onde: Auditório

Gratuito, com classificação indicativa 16 anos

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