O que é literatura de cura? Conheça gênero para quem busca refúgio na ficção e conforto em momentos de crise
O Diário do Nordeste organizou uma lista com 8 livros para quem busca se aprofundar nesse gênero
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Se os cafés foram o berço do impressionismo, cubismo e modernismo literário, servindo de palco para encontros de poetas e figuras da contracultura, hoje eles também se tornam espaços de cura. A literatura de cura, também conhecida como "healing fiction", é um gênero literário que vem ganhando força no mercado asiático. No Brasil, começou a encantar os leitores com suas narrativas focadas em transformações pessoais e recuperações emocionais.
Ao fazer um mergulho sobre o surgimento das metrópoles — no livro "Metrópoles: A história das cidades, a maior invenção humana" — o pesquisador Ben Wilson já havia destacado que "os cafés são o símbolo mais poderoso do espaço urbano público-privado. Aberto a todos os visitantes, eles mantêm, no entanto, um caráter individual que ajuda a construir uma comunidade".
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Os cafés são espaços vitais da experiência urbana. Não surpreende, portanto, que muitas narrativas do gênero da literatura de cura estejam ambientadas em cafés. Locais em que se pode ficar sozinho, observar pessoas ou trocar conversas. Nessas partilhas, as pessoas também se deparam com a oportunidade de elaborar suas dificuldades.
Livros como "Meus Dias na Livraria Morisaki" e "A Extraordinária Cozinha dos Livros" se tornaram best-sellers no Japão e na Coreia do Sul, e gradualmente chegaram às livrarias brasileiras. As obras buscam oferecer conforto e inspiração, criando uma sensação de bem-estar nos leitores.
Elementos da ficção de cura
Na ficção de cura, é comum encontrar personagens em processo de mudança, protagonistas que enfrentam desafios emocionais ou traumas e se lançam em jornadas de autodescoberta e cura. Os cenários que acolhem essas histórias são frequentemente espaços serenos e encantadores, principalmente cafeterias e livrarias.
São locais que transmitem paz e tranquilidade, algumas vezes até com um toque mágico, como no livro "Antes que o café esfrie", em que os clientes podem viajar no tempo. As tramas, por sua vez, exploram assuntos como esperança, luto, perdão e resiliência, focando na força dos personagens de se reerguer diante das crises da vida.
A editora da Gutenberg, selo jovem do Grupo Autêntica, Flávia Lago percebe que os livros desse gênero apresentam uma tendência crescimento. Isso porque, apesar dos livros serem ambientados na cultura asiática, os personagens enfrentam conflitos universais, como: luto, burnout, depressão e mudança de carreira.
"Acredito que muitos desses livros oferecem insights sobre como lidar com emoções, superar desafios e encontrar um propósito, o que pode ser transformador para aqueles que buscam crescimento pessoal".
Para ela, em momentos de instabilidade e incertezas, os leitores buscam livros de ficção de cura que oferecem conforto e um senso de propósito. "O aumento do interesse por esse tipo de leitura costuma estar ligado a fatores como crises econômicas, pandemias, polarização política e mudanças sociais intensas, tudo o que vivemos recentemente e ainda estamos vivendo".
Esse movimento vêm atrelado também à valorização do bem-estar mental e emocional nos últimos anos, em que existe uma busca por reflexões sobre a simplicidade do cotidiano. "Acredito que muitos desses livros oferecem insights sobre como lidar com emoções, superar desafios e encontrar um propósito, o que pode ser transformador para aqueles que buscam crescimento pessoal", afirma Flávia.
Busca pelo refúgio na ficção
Assim como ela, o escritor e professor de letras da Universidade Federal do Ceará (UFC), Sahmaroni Rodrigues, também aponta que o contexto social, político e econômico influencia o surgimento de novas formas de arte. “Esse subgênero surge em um momento em que as pessoas estão desesperadamente buscando conforto. A realidade não é fácil e, para alguns grupos sociais, ela é menos fácil ainda”, declara.
Por isso, percebe o movimento da tentativa de fuga da realidade e a busca pelo refúgio na ficção. “Nós buscamos outras possibilidades de realidade, mas nem todos têm o privilégio de poder vivenciar ela, ainda que seja de um ponto de vista de pequena fuga, como a literatura de cura pode fazer”.
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No entanto, ele reflete sobre a importância de ter um olhar atento a essa busca pela cura. “Esse termo cura vem nessa promessa de venda de bem-estar”, aponta. E, para ele, é preciso ter cautela para não cair na crença de uma cura rápida e imediata.
"A literatura de fuga tem surgido e tem crescido no mercado editorial, mas há um risco de criar expectativas irreais, soluções simplistas. Ter uma visão muito individualistas dos problemas sociais".
Apesar disso, aponta que deseja que essa literatura ou ficção de cura promova, de forma geral, empatia e autoconhecimento, atravessando diferentes gerações de leitores.
Confira 8 livros de literatura de cura
1. Bem-vindos à Livraria Hyaunam-Dong
O livro "Bem-vindos à livraria Hyunam-dong", da escritora Hwang Bo-Reum, foca na história de Yeongju, uma mulher que tem se sentido desmotivada, cheia de frustrações. Com tradução de Jae Hyung Woo, o público acompanha o momento em que ela decide deixar tudo para trás e realizar o sonho de abrir uma livraria.

Conforme aprende a administrar seu próprio negócio, também aprende mais sobre si mesma, enquanto troca histórias, experiências e emoções com os clientes.
- Quantidade de páginas: 272 páginas
- Editora: Intrínseca
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2. A Extraordinária Cozinha dos Livros
O livro “A Extraordinária Cozinha dos Livros” é o romance de estreia de Kim Jee-Hye, que rapidamente se tornou uma autora best-seller na Coreia do Sul. Durante a pandemia, Kim trocou a carreira em tecnologia pela escrita, e atualmente ela administra a própria livraria independente, chamada Walking on the Clouds.

Neste livro, Yujin visita a pacata vila de Soyang-ri e decide abrir a "Extraordinária Cozinha dos Livros", uma livraria-café onde cada visitante encontra o livro perfeito acompanhado de uma refeição reconfortante.
- Quantidade de páginas: 256 páginas
- Editora: Gutenberg
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3. Vou te receitar um gato
O livro "Vou te receitar um gato", de Syou Ishida, virou um best-seller japonês ao tratar sobre como o amor de um animal pode transformar uma vida. Nesta narrativa, os leitores acompanham os tratamentos da Clínica Kokoro, que utilizam gatinhos para ajudar os pacientes. O tratamento nada convencional é receitado pelo excêntrico doutor Nike e sua enfermeira mal-humorada, Chitose.

Ao longo dos capítulos, os leitores vão conhecer os pacientes, como um corretor de investimentos que está lidando com a demissão, um homem de meia-idade que encontra paz no trabalho, uma mãe cansada que se reconecta com a filha, uma designer de bolsas aprende a relaxar e uma gueixa abalada pela perda de sua gata.
- Quantidade de páginas: 224 páginas
- Editora: Intrínseca
- Onde comprar: aqui
4. Meus Dias na Livraria Morisaki
O livro "Meus Dias na Livraria Morisaki", escrito pelo autor japonês Satoshi Yagisawa, acompanha a história de Takako, uma jovem de 25 anos, entra em depressão quando seu namorado anuncia que vai se casar com outra pessoa.

Arruinada, Takako aceita receber a ajuda de seu tio e se muda para o quartinho em cima da livraria dele, em Tóquio. O estabelecimento está na família há três gerações. Ao fazer mudança para o estabelecimento, ela começa a se envolver com os livros e a conhecer novas pessoas. O livro, que foca no poder da literatura, foi traduzido por Andrei Cunha.
- Quantidade de páginas: 176 páginas
- Editora: Bertrand Brasil
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5. A Inconveniente Loja de Conveniência
Do autor sul-coreano Kim Ho-yeon, o livro "A Inconveniente Loja de Conveniência" aborda a importância das segundas chances. O personagem principal, Dok-go, é um homem sem lembranças de próprio passado, que vive na Estação de Seul.

Ele acaba se aproximando da dona de uma loja de conveniências que fica na estação, a senhora Yeom, que todos os dias lhe oferece marmitas. Em um evento inesperado, Dok-go salva a loja de um assalto e é recompensado com uma vaga do turno da noite. Ainda que os outros funcionários desconfiem dele, Dok-go consegue cativar as pessoas ao redor.
- Quantidade de páginas: 272 páginas
- Editora: Bertrand Brasil
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6. Antes que o café esfrie
Em "Antes que o café esfrie", de Toshikazu Kawaguchi, um misterioso café no Japão possibilita que seus clientes viajem no tempo. No entanto, existem algumas regras: os viajantes só podem voltar no tempo e encontrar com pessoas que já estiveram no café, precisam se sentar em uma cadeira específica e não podem se levantar do lugar.

Além disso, nada do que for dito ou feito irá mudar o presente e, a principal regra: precisam voltar antes que o café esfrie. No livro, o público acaba conhecendo e se emocionando com a história de distintos clientes desse café que, por motivos diferentes, escolhem voltar no tempo.
- Quantidade de páginas: 208 páginas
- Editora: Valentina
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7. A biblioteca dos sonhos secretos
O livro "A biblioteca dos sonhos secretos", de Michiko Aoyama, logo se tornou um sucesso de vendas no Japão. Essa história foca na magia dos livros e no poder de conectar as pessoas. O que você procura? Questiona Sayuri Komachi para as pessoas que visitam a biblioteca do Centro Comunitário de Tóquio em busca de ajuda.

A lista de livros sempre contém um título inusitado, que ajuda a pessoa que o recebe. Ao todo, são cinco histórias independentes entrelaçadas de forma sutil, em que são abordados temas como: medo do fracasso, frustração com o trabalho, desejo de recomeçar e falta de oportunidades.
- Quantidade de páginas: 240 páginas
- Editora: Sextante
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8. A doceria mágica da Rua do Anoitecer
O livro "A Doceria Mágica da Rua do Anoitecer", escrito por Hiyoko Kurisu, aborda uma realidade que mistura o real e o mágico. Em uma rua localizada na fronteira entre o mundo dos espíritos e o real, criaturas sobrenaturais e pessoas vulneráveis por alguma angústia se encontram e se cruzam.

Nesta rua, tem a Doceria Mágica Âmbar, a única loja aberta. O proprietário, que tem olhos dourados e orelhas de raposa, vende confeitos com poderes mágicos que podem promover mudanças na vida dos seus clientes. O livro de Hiyoko conta com tradução de Jefferson José Teixeira.
- Quantidade de páginas: 176 páginas
- Editora: Arqueiro
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