Alexia Twister, primeira drag queen a vencer o Prêmio Shell de teatro, comemora: 'lugar possível'

Artista enxerga impacto positivo do prêmio para dar visibilidade e protagonismo às drags

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 15:20)
Teatro drag
Legenda: Elenco é composto apenas por drags
Foto: Acervo pessoal/Reprodução/Instagram

Alexia Twister se tornou a primeira drag queen a ganhar o Prêmio Shell, um dos mais relevantes na área teatral pela interpretação do Rei Lear, famoso personagem de Shakespeare, na última terça-feira (18). Alexia, interpretada pelo ator Matheus Miranda, ganhou o prêmio de melhor ator pelo júri paulista. As informações são do g1.

"Consegue ajudar não só na visibilidade do meu trabalho, mas também de outras drag queens. As pessoas começam a entender que o lugar do teatro ou da TV é um lugar possível pra gente", refletiu ao portal. Todo o elenco de "Rei Lear", peça encenada em 2024, é formado por drags.

Já são quase 30 anos dedicados à arte drag e Alexia dedicou o prêmio ao elenco e "a todas as que vieram antes, que apanharam, que morreram, para que eu estivesse aqui", como pontuou.

Veja também

A artista é uma das drags com maior visibilidade no momento. Em 2020, foi coapresentadora de um reality show com Gloria Groove na Netflix.

Dedicação ao teatro

Matheus interpreta os personagens a partir da drag Alexia e considera o atual papel, no qual faz um rei que enlouquece ao ser enganado pelas filhas, o maior desafio da carreira.

"Ir pelo lado do humor e do escracho seria muito fácil. Mas não queriam que fosse um Snatch Game", explicou em alusão ao quadro do reality "Ru Paul's Drag Race" no qual as participantes se vestem como algum famoso para responder a perguntas de um jogo e fazer Ru Paul rir.

"Eu estava com um problema muito sério de entender Alexia ali", admitiu. Por isso, recorreu a elementos que trouxessem a drag para o rei, como salto, saia e leque.

Alexia considerou que Lear exigiu uma imensa carga emocional. "Na mesma frase, ele fica lúcido e enlouquece em questão de segundos. Vai e volta, vai e volta... o liga-desliga estava sendo muito pesado para mim", avaliou.

Ela contou que o dramaturgo e assistente de direção João Mostazo falou algo que norteou o caminho. "É uma personagem de 400 anos, ela tem uma carga emocional muito grande. Mas o que ela tira emocionalmente de você, ela devolve em glória", lembrou.

Rotina após o prêmio

Logo após a premiação no Rio de Janeiro, Alexia voltou para São Paulo, para fazer o "Drags de Quarta", uma noite semanal de entretenimento. No dia seguinte, foi a vez da preparação para ensaiar na Blue Space, boate onde Alexia faz shows de dublagem e dança há 20 anos.

"Esse lugar da boate foi o nosso lugar possível durante muito tempo e ainda é o nosso principal canal de comunicação com o público", considerou.

Vitória cearense

Artistas do Ceará também tiveram destaque na cerimônia da 35ª edição do Prêmio Shell de Teatro. Com três espetáculos protagonizados e dirigidos por cearenses indicados à honraria, o Estado levou duas estatuetas: “Melhor Direção”, pelo espetáculo “Monga”, da atriz e diretora Jéssica Teixeira, e “Destaque Nacional”, concedido à peça “A Força da Água”, do grupo Pavilhão da Magnólia

Outra conquista desta edição foi a indicação da atriz Ana Marlene, que concorreu ao prêmio de Melhor Atriz pela atuação no monólogo “Egoísta”, do diretor Juracy de Oliveira. Nesta categoria, no entanto, a premiada foi Débora Falabella, pelo espetáculo “Prima Facie”.

Após a premiação, as redes sociais foram tomadas por publicações elogiosas de cearenses orgulhosos de seus conterrâneos. Artistas e entusiastas do teatro celebraram a projeção que os prêmios trazem para a arte feita no Estado, um reconhecimento importante para uma cena que ainda enfrenta muitos desafios para seguir de pé, especialmente após a pandemia.

Assuntos Relacionados