Museus têm o desafio de afastar o elitismo e atrair novos públicos
Criados pelas elites do País, boa parte dos equipamentos precisam apresentar acervos por meio dos quais o público visitante se aproprie
Para a metade do público consultado pela pesquisa “Narrativas para o Futuro dos Museus” (Oi Futuro), os museus seriam espaços “elitizados”. De acordo com os museólogos, a impressão não é recente, e tampouco carece de fundamento. Historicamente, a criação de uma série de equipamentos envolveu, sim, a apresentação de versões oficiais da história e a apropriação de classes sociais privilegiadas.
“Os museus como um lugar de elite são defendidos até hoje, inclusive por patrocinadores. Os espaços precisam ‘descolonizar’, pra usar uma palavra que está em voga”, sugere Marília Bonas, diretora do Memorial da Resistência de São Paulo (SP), durante a apresentação da pesquisa do Oi Futuro.
Carla Vieira, diretora do Museu do Ceará, recapitula como a cultura foi vista, durante muito tempo, como um “apanágio” das elites. Lembra que o brasileiro médio percebe a música erudita, o teatro e os próprios museus enquanto expressões culturais “para poucos”. "Essas linguagens foram construídas, sim, dentro de um contexto elitista”, reforça.
Ela exemplifica que o próprio Museu do Ceará foi criado para contar uma história oficial do Estado. Dessa maneira, como a elite e seus pares se reconhecem no espaço museológico, a maioria dos visitantes não tem o sentimento de “pertencimento” àquela versão histórica.
"Boa parte dos museus guarda esses acervos, e você vê muito das elites ali. Mas com a mudança do próprio conceito do que é ‘cultura’, você tem como reler esses patrimônios e perceber outro sentido na escrivaninha de um presidente, por exemplo”, detalha Carla.
Diretora do Museu de Arte da UFC, Graciele Siqueira situa que a pesquisa do Oi Futuro não é a primeira que aponta esse dado, e nem será a última. A gestora identifica que a maioria dos equipamentos museológicos foram criados pelo Estado para preservar a memória oficial e salvaguardar uma identidade nacional.
Graciele percebe como o discurso que taxa o museu de um “lugar chato, de coisa velha”, contribui para o estereótipo elitista. “Os museus são lugares de poder, de reconhecimento e de identificação; e a sociedade precisa se ver refletida lá”, orienta a museóloga. Ela cita que, na contramão do elitismo, iniciativas como a Rede de Museus Indígenas e Comunitários e a Rede de Educação em Museus se articularam no Ceará.
Silvio Frota, diretor do Museu da Fotografia Fortaleza, observa que desfazer essa impressão passa, também, pela proposta de gestão do museu quanto ao acesso. Atrair visitantes de baixa renda, por exemplo, aproxima o acervo das pessoas que normalmente não se “reconhecem” no conteúdo exposto. Bem mais novo em relação ao Museu do Ceará e ao Mauc, o equipamento fez dois anos no último mês de março.
“No ano passado, a gente levou 40 mil crianças carentes pro museu. Estamos sempre trabalhando com um público novo, para justamente essas pessoas terem acesso à cultura. Um museu é elitista em termos, depende da maneira como se trabalha”, situa Frota.