Morre Erasmo Carlos aos 81 anos
Ícone da MPB, cantor e compositor foi internado há quase um mês, obteve alta e voltou ao hospital na noite desta segunda-feira (21)
Uma das principais vozes do Brasil, Erasmo Carlos morreu nesta terça-feira (22), aos 81 anos. Cantor e compositor reconhecido pelos inúmeros trabalhos de sucesso, o músico estava internado desde o dia 17 de outubro. Ele obteve alta e voltou ao hospital na noite desta segunda-feira (21).
Segundo comunicado oficial da família, Erasmo enfrentava um quadro de paniculite complicada por sepse de origem cutânea.
No início de novembro, o artista chegou a celebrar a alta após duas semanas de internação no Hospital Barra D'Or para realizar exames e tratar uma síndrome edemigênica. Em agosto do ano passado, Erasmo teve Covid-19 e precisou ser internado por oito dias para tratar a doença.
Ele estava casado com Fernanda Passos, de 32 anos, desde 2019. O casal oficializou a relação após nove anos de namoro. Nos últimos anos, o Tremendão mantinha concorrida agenda de shows e lançamentos de discos.
Criado no bairro fluminense da Tijuca, o artista despertou para a música quando o rock começou a penetrar no Brasil. Essa história luminosa começou na Rua do Matoso, lugar onde conheceu Roberto Carlos, Jorge Ben e Tim Maia (1942-1998).
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A partir daí, o país conheceria o cantor que escreveria importante capítulo em diversas mídias. Além das canções de sucesso, Erasmo levou o próprio nome à TV e ao cinema. A morte do músico desperta comoção entre amigos e admiradores. "Meu adeus ao querido Tremendão. Erasmo leva seu sorriso e o rock", compartilhou o diretor da TV Globo, Boninho.
Surge o Tremendão
Ícone da MPB e figura histórica no rock brasileiro, o carioca Erasmo Esteves destacou-se como importante compositor, principalmente pelas criações com o parceiro de longa data Roberto Carlos. Além de estrela da Jovem Guarda, o Tremendão também é dono de uma extensa e elogiada discografia solo.
Em 1957, aprendeu os primeiros acordes no violão com o amigo Tim Maia. Influenciado pelo rock'n'roll, no mesmo ano tornou-se membro (junto de Roberto Carlos) da banda "Os Sputniks". Até meados dos anos 1960, participou de programas da Rádio Guanabara, TV Continental e TV Tupi.
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Em setembro de 1965, a TV Record lançou o programa Jovem Guarda. O show televisivo daria origem ao movimento homônimo que marcou época. Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderlea eram as figuras principais da atração musical.
Com o fim da Jovem Guarda, Erasmo mergulhou ainda mais em outras musicalidades. Naquele início dos anos 1970, o músico investiu em discos que uniam a raiz roqueira com as novas tendências da MPB. Influenciado pelo movimento tropicalista e pela black music norte-americana, lançou álbuns consagrados como “Carlos, Erasmo...” (1971), “Sonhos & Memórias 1941-1972” (1972) ou “Pelas Esquinas de Ipanema” (1978).
Consolidação de Erasmo
Na década seguinte, Erasmo atravessou período de grande sucesso comercial com os discos “Erasmo Carlos Convida...” (1980), “Mulher (Sexo Frágil)” (1981) e “Amar Pra Viver ou Morrer de Amor” (1982). Nos anos 1990, o artista regravou antigos sucessos, participou de homenagens à Jovem Guarda e discos-tributos.
Veio os anos 2000 e a estrela do veterano passou a brilhar ainda mais. Em 2009, lançou o livro “Minha fama de mau”, autobiografia na qual revela episódios da vida e carreira artística. Em 2010, aos 69 anos, realiza diversas apresentações pelo país em comemoração aos 50 anos de carreira.
Uma das principais referências na pesquisa da música brasileira, o Dicionário Cravo Albim resume os últimos anos de produção artística de Erasmo Carlos: "Em pleno vigor criativo e atraindo um público numeroso e heterogênio, que cantou emocionado seus clássicos, Erasmo mostrou seu conhecido bom humor e o antigo carisma que lhe valeu o epíteto de Tremendão".
Repercussão
Pelas redes sociais, famosos e personalidades do país lamentaram a morte de Erasmo. Em publicação no Twitter, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva destacou o talento do artista.
"Erasmo Carlos, muito além da Jovem Guarda, foi cantor e compositor de extremo talento, autor de muitas das canções que mais emocionaram brasileiros nas últimas décadas. Tremendão, amigo de fé, irmão camarada, cantou amores, a força da mulher e a preocupação com o meio ambiente. Deixa saudades e dezenas de músicas que sempre estarão em nossas lembranças e na trilha sonora de nossas vidas. Meus sentimentos aos familiares, amigos e fãs de Erasmo Carlos", escreveu.
A cantora Maria Betânia também se manifestou, pelo Instagram. "'Agora eu choro só, sem ter você aqui’. Perdemos Erasmo, este “belo rapaz”. Nosso Tremendão!", escreveu ela na legenda de um vídeo postado no Instagram, em que aparece cantando com Erasmo.
O cantor Djavan escreveu sobre como são difíceis as despedidas, apontado o legado do artista para a música popular brasileira. "Uma tristeza a partida do Erasmo Carlos, o eterno Tremendão. As despedidas são sempre difíceis, mas além da saudade, ficará o legado desse grande artista. Nosso gigante gentil...", disse.
A atriz Patrícia Pillar escreveu uma mensagem de conforto a familiares e amigos. "Que fim de ano triste pra música brasileira! Agora perdemos nosso gigante gentil, o querido Erasmo Carlos, que aprendi a amar desde criança quando escutava suas músicas na minha vitrolinha. Nunca mais deixei de admirá-lo como cantor, compositor e, principalmente, como ser humano. Desejo paz e conforto para seus familiares, amigos e fãs", disse.
"Nosso gigante gentil se foi! Um amor em existência. Um cara com humor, poesia, melodia, que por onde passava era um rastro de luz! Vá em paz, gentil! Que sua soma pós aqui, seja de continuação de sua gentileza", escreveu em postagem no Instagram a cantora Vanessa da Mata.