Força ancestral: dos 87 quilombos cearenses, 35 são liderados por mulheres
Lideranças femininas estão na linha de frente das lutas sócio-político-culturais dos quilombos do Ceará. Presentes no litoral, serra, sertão e região metropolitana, elas assumem o protagonismo em comunidades que ainda buscam por direitos básicos
Estado do Ceará tem quilombo? Cristina, Socorro, Cleomar e Maria responderão quantas vezes for preciso que sim. Mulheres negras e quilombolas, elas exercem cargos de liderança nas comunidades as quais estão vinculadas, em quatro geografias diferentes: região metropolitana, serra, litoral e sertão. E num processo de autoafirmação, resistem à tentativa de apagamento de suas narrativas ancestrais, levantando a voz para contar “a história que a história não conta”.
Se a “Terra da Luz” é assim reconhecida por um movimento abolicionista pioneiro em relação ao Brasil, afinal data de 25 de março de 1884 a Abolição em nossa província, quatro anos antes da Lei Áurea, há muito ainda que se discutir sobre as “correntes simbólicas” arrastadas ao longo dos últimos anos por negras e negros cearenses.
A disputa atual por questões territoriais, além de outros direitos básicos, como saneamento, segurança, saúde e educação, atravessam os 87 quilombos contemporâneos identificados pelo próprio movimento no Ceará, um mapeamento inédito divulgado em março deste ano. O levantamento foi realizado em dois meses, graças a uma força-tarefa das lideranças quilombolas do Estado. É possível esse número ser ainda maior, chegando a 115 comunidades. Até o momento, 50 deles têm o reconhecimento nacional da Fundação Cultural Palmares.
O historiador quilombola João do Cumbe, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), contextualiza essas necessidades, quando afirma que “assegurar o território, nesses casos, é fundamental, para que nós possamos estar nos recriando, inovando, desenvolvendo outras tecnologias, formas de existir, produzir, de viver. Rompemos com o conceito do quilombo histórico, em que teríamos que estar isolados, numa casa de taipa. Nós éramos os foragidos”. Hoje não são mais.
Liderança
Cristina e Cleomar ocupam o lugar da presidência nas comunidades de Caetanos, em Caucaia, e do Cumbe, em Aracati, respectivamente. Já Socorro e Maria, apesar de também estarem em cargos de diretoria, dedicam-se mais especificamente à transmissão de saberes como mestras da cultura; a primeira na Serra do Evaristo, em Baturité, e a segunda, no Quilombo de Souza, em Porteiras (Cariri).
Ainda que geograficamente separadas, as quatro se encontram numa luta comum, e que perpassa também a afirmação da cor da pele, dos traços do rosto, da ondulação do cabelo, e do próprio gênero que representam.
Apesar de alguns enfrentamentos, são consideradas por muitos como referências nos ambientes em que nasceram, e cultivam junto ao seu povo as perspectivas e garantias de direitos que historicamente lhe foram negados.
Assim como elas, outras mulheres assumem essa responsabilidade no Estado. Só na presidência das comunidades, o Ceará contabiliza pelo menos 35 lideranças femininas. Vinte estão em quilombos reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares. Mas quando se amplia o olhar para a formação das diretorias, por exemplo, ou se observam as demais posições estratégicas que podem ser ocupadas num lugar, suas presenças são ainda mais expressivas.
As raízes negra e quilombola que as unem ultrapassam a data-marco para o movimento - 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, transformado no Dia da Consciência Negra - e encontram tempo e espaço em diferentes gerações de Marias, Mahins, Marielles, Malês. Chegou, então, a vez de ouvi-las, a começar pelas cearenses.
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