Exposição 'Águas de Março', de Sérgio Helle, traz leveza e reflexão para Espaço Unifor

Mostra individual marca retorno do artista plástico à instituição na qual começou a carreira nos anos 1980

Escrito por Redação ,
“Águas de Março” segue todos os protocolos de biossegurança que o momento requer
Legenda: Com 50 obras, exposição “Águas de Março” segue todos os protocolos de biossegurança que o momento requer
Foto: Ares Soares

"É pau. É pedra. É o fim do caminho...", cantam os primeiros versos da popular "Águas de Março". Tom Jobim (1927-1994) compôs e a gravou em 1972. Dos possíveis significados da obra, letra e melodia permitem metáforas acerca do fim dos ciclos e a esperança por renovação. Estes temas alimentam a recente produção do artista plástico Sérgio Helle.

A música composta pelo maestro carioca inspira o batismo da nova exposição do cearense. Em cartaz no Espaço Cultural Unifor, a mostra "Águas de Março" terá abertura virtual nesta terça-feira (30), às 19h. A transmissão será realizada via perfis da Universidade de Fortaleza no InstagramYouTube e Facebook

O acervo, reunido nas séries "Resurgentis" e "Paradisus", retrata os últimos sete anos de atuação do pintor. 50 obras compõem a coleção e a curadoria é assinada por Izabel Gurgel. A iniciativa se une à exposição “50 Duetos” e também celebra os 50 anos da Fundação Edson Queiroz.

“Águas de Março” é a maior mostra individual já protagonizada pelo realizador. Abaixo, o vídeo promocional explica como foi organizada a pesquisa e as influências conceituais da coleção.  

Além de matéria-prima, a natureza é referência conceitual ao conjunto de peças. São infogravuras gravadas em tela, pedra e limo. Completam o acervo, peças compostas a partir da pirogravura, bem como o recurso da pedra Cariri. O fio condutor é a relação entre “vida e morte". A pandemia trouxe tempos dolorosos e influenciou o processo criativo do produtor. 

Arte no isolamento social

“Resurgentis” eclode nesse contexto. As infogravuras se cercam de menos cores e traduzem o foco da vida brotar em um cenário de destruição. O artista avalia o significado de criar em meio ao período. A entrega a esse projeto representou equilíbrio. “Em tempos tão pesados isso iria refletir de alguma forma no que faço”, descreve.   

A 13ª mostra individual do artista também faz conexões com os acervos e os espaços da Fundação Edson Queiroz, destaca Izabel Gurgel.
Legenda: 13ª mostra individual do artista também faz conexões com os acervos e os espaços da Fundação Edson Queiroz, destaca Izabel Gurgel
Foto: Ares Soares

“Ainda tendo a natureza, a vida e a morte, como referência, o cenário ficou mais cinza e sombrio, as imagens mais nítidas, quase fotográficas. Mas, sou uma pessoa otimista. Sempre. Dessa destruição surgem insetos e a vida rebrota. Mostrar a força e a resistência da vida nunca foi tão essencial”, compartilha.

"Paradisus" despertou a partir do interesse de Helle pela forma das plantas quando definham. Em especial, a “folha seca de Torém”, observa Izabel Gurgel a partir do material de apresentação da mostra. A arquitetura de dobras desta planta, o caráter retorcido, entregam essa ideia de fluxo ente fim e renascimento.  

Unifor e experimentação

A pintura é a base da criação idealizada por Sérgio Helle. O início veio na pintura a óleo, acrílica e mistas. Contudo, o autor é pioneiro em aliar estas tradicionais técnicas às ferramentas digitais. Desde meados dos anos 1990, incorporou o computador à criação. É quando realiza, em 1995, a primeira exposição de infogravuras, a partir deste recurso híbrido.  

Legenda: "Aguas de Março" representa décadas de pesquisa e experimentação
Foto: Ares Soares

Sérgio Helle participou de nove edições da Unifor Plástica, a primeira delas em 1983. Foi premiado em duas, 1991 e 2011. O artista plástico se formou na Unifor em Administração de Empresas em 1986. Ele é autor dos livros “Acqua” (2010), “Sérgio Helle – infogravuras” (2013), “Perfil Cearense” (2013) e “Paradisus – Uma reverência ao sagrado” (2018). 

“Voltar à instituição onde me formei e representou tanto na minha carreira é uma grande honra. Expor na Unifor é um privilégio para qualquer artista, a instituição é muito respeitada no circuito artístico pela qualidade do que sempre apresenta”, descreve o expositor. 

Alerta pontual

“Águas de Março” evoca a passagem do tempo e a metamorfose dos recursos naturais. Alerta, em paralelo, à necessidade de conviver com a natureza sem destruí-la.

A folha seca de Torém atraiu o olhar do artista. Segundo a curadora Izabel Gurgel, os materiais podem vir da Amazônia brasileira (onde Sérgio Helle fez residência artística em 2018),  Jardim Botânico (RJ) e Parque do Cocó, em Fortaleza
Legenda: A folha seca de Torém atraiu o olhar do artista. Segundo a curadora Izabel Gurgel, os materiais podem vir da Amazônia brasileira (onde Sérgio Helle fez residência artística em 2018), Jardim Botânico (RJ) e Parque do Cocó, em Fortaleza
Foto: Sérgio Helle

“Precisamos rever nossos hábitos de consumo, exigir leis rígidas de proteção animal e das florestas”, observa o criador. A disparada das queimadas no Brasil e a atuação do Ministério do Meio Ambiente preocupam o artista.  

“É um grito de revolta, mas também de esperança. Fé que as forças mais essenciais do universo irão regenerar feridas tão profundas”, finaliza o artista Sérgio Helle.  

Serviço:

Abertura virtual da mostra “Águas de Março”, de Sérgio Helle. Hoje, às 19h, com transmissão via perfis da Universidade de Fortaleza no InstagramYouTube e Facebook

Informações acerca da previsão de abertura para visita presencial pelo telefone (85) 3477.3319.