Com 20 anos de palco, grupo cearense Pavilhão da Magnólia se apresenta pela primeira vez na Europa

Um dos destaques da cena artística do Ceará, grupo apresenta espetáculo “Há uma festa sem começo que não termina com o fim”

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
Grupo completa 20 anos em 2025 e já circulou por todo o País
Legenda: Grupo completa 20 anos em 2025 e já circulou por todo o País
Foto: Vivian Gradela/Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto

Pela primeira vez em 20 anos de carreira, o grupo cearense de teatro Pavilhão da Magnólia irá se apresentar no exterior. A circulação ocorre entre os dias 24 de julho e 2 de agosto, nas cidades de Lisboa e Porto, em Portugal, com apoio do programa Ceará Criativo, iniciativa da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult). 

Na ocasião, o grupo apresentará o espetáculo “Há uma festa sem começo que não termina com o fim”, além de participar de encontros com artistas e coletivos portugueses. Em entrevista ao Verso a caminho de Portugal, os atores Nelson Albuquerque e Jota Júnior Santos, que também atuam na gestão e produção do grupo, respectivamente, destacaram a importância desse momento.

“É muito significativo que isso aconteça justamente no ano em que o grupo completa 20 anos de trajetória. Estrear internacionalmente nesse marco não é algo aleatório – é fruto de duas décadas de trabalho contínuo, de uma pesquisa coletiva e aprofundada que vem sendo construída ao longo dos anos”, pontuaram, em resposta conjunta.

“A gente espera que essa experiência crie novos canais, novas possibilidades de troca e parceria. É muito importante que esse tipo de circulação aconteça com mais frequência, para que a distância entre o que se produz aqui e o que se pensa em outros territórios vá diminuindo”, completaram.

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A série de apresentações internacionais consolida um momento especial na trajetória do Pavilhão da Magnólia. Em março deste ano, o grupo conquistou o Prêmio Shell de Teatro, maior honraria nacional das artes cênicas, na categoria Destaque Nacional, com o espetáculo “A Força da Água”. 

Os artistas destacaram a importância das políticas públicas para o teatro, essenciais não só para formação e criação, mas também para assegurar a difusão e a circulação das produções cearenses, que ainda enfrentam barreiras para se manter em atividade e alcançar outros palcos.

“Editais como esse não apenas viabilizam a presença fora do País, mas também reafirmam a potência de uma cena que pensa e realiza arte com profundidade, consistência e engajamento político”, concluem.

“Há uma festa sem começo que não termina com o fim”

Apresentações acontecerão em Lisboa e Porto
Legenda: Apresentações acontecerão em Lisboa e Porto
Foto: Vivian Gradela/Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto

Primeiro espetáculo do grupo a estrear presencialmente após o período de isolamento social pandêmico, “Há uma festa sem começo que não termina com o fim” é uma criação coletiva do Pavilhão da Magnólia, pensada por quatro artistas, que mistura teatro e festa “num manifesto poético-político”, explicam Nelson e Jota Júnior.

A peça aborda temas como ancestralidade, gênero e racismo, além de se posicionar como uma obra pró-democracia, que contextualiza e repudia o avanço mundial da extrema-direita – algo que também demarca a história recente de Portugal. “É uma reflexão urgente sobre os tempos atuais, marcada pela resistência, pela celebração da vida e por estarmos juntos de novo”, pontuam os artistas.

“Sabemos que em Portugal está acontecendo um avanço da extrema-direita, com muitas semelhanças ao que vemos no Brasil. Mas seguimos insistindo, resistindo e reafirmando a importância da democracia, lutando para que ela se mantenha viva”, completam.

O espetáculo tem dramaturgia de Francis Wilker, codireção e dramaturgia de Thereza Rocha, e interlocução dramatúrgica do artista português Ricardo Cabaça.

Em Lisboa, as apresentações da peça serão realizadas na sede do grupo Teatro do Imigrante, coletivo formado por artistas brasileiros, algo que o Pavilhão da Magnólia considera “muito significativo”. Nos últimos anos, além do avanço da extrema direita, Portugal tem enfrentado uma onda de xenofobia, especialmente contra imigrantes brasileiros.

“De certa forma, essa circulação representa também uma travessia, um encontro com nossos pares que estão do outro lado do oceano”, ressaltam Nelson e Jota. “Mas o verdadeiro encontro que buscamos é com o público, com quem estará lá assistindo, compartilhando esse momento e essa festa que não tem começo nem fim”.

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