Cearenses representam Estado na Bienal do Livro de São Paulo: 'Cultura com nosso sotaque'
Participação do Ceará no maior evento literário da América Latina evidencia potências e demandas da literatura do Estado
Klévisson Viana, Biana Alencar, Tião Simpatia, Arlene Holanda, Lucinda Marques, Geraldo Amâncio, Paola Tôrres, Casemiro Campos… Estes são apenas alguns dos nomes de cearenses que levam o Estado e a nossa literatura para a 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Seguindo até o próximo dia 15 de setembro, no Distrito Anhembi, o maior evento literário da América Latina dedica um estande especial para a cultura e a produção nordestina, o Espaço Cordel e Repente. Nele — promovido pela editora Imeph em parceria com a Câmara Brasileira do Livro —, não é difícil achar representantes da cultura cearense.
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Ao Verso, alguns deles destacam as potências e conquistas da literatura do Estado no Brasil e no mundo, ao mesmo tempo, em que ressaltam que elas poderiam ser fortalecidas com ainda mais reconhecimento e apoio.
Espaço aberto para novos e reconhecidos nomes
Já no primeiro fim de semana da Bienal do Livro de São Paulo, no sábado (7), a jornalista e escritora Biana Alencar lançou no evento o livro “O Tesouro Encantado”, que teve lançamento em julho no Centro Cultural do Cariri.
A presença em São Paulo em 2024 marcou a primeira vez da cearense na Bienal da cidade. “Em 2022, conheci pela primeira vez uma Bienal do Livro, a internacional que aconteceu em Fortaleza, no Centro de Eventos. Naquela ocasião fui como visitante”, rememora.
Já na ocasião, no entanto, o projeto da publicação estava com a jornalista, inclusive fisicamente. “Levei o que chamamos de ‘boneca do livro’, uma impressão antes dos ajustes e correções”, explica.
“Essa será a primeira vez que participo de uma Bienal como autora, levada pela editora que apostou na minha história e me encantou com o projeto de levá-lo para as escolas públicas do Brasil, a IMEPH”, destaca, ressaltando o papel de Lucinda Marques, publisher da editora e curadora do Espaço Cordel e Repente.
Já a médica e cordelista Paola Tôrres partilha ser figura constante na Bienal de São Paulo, marcando presença desde 2018 no evento sempre no estande do IMEPH. “Foi uma jornada incrível que me permitiu levar o cordel para um público cada vez maior”, reconhece, também citando gratidão à editora e Lucinda.
Paola descreve o Cordel e Repente como “essencial para a divulgação da cultura popular nordestina”. “O espaço se tornou um ponto de encontro indispensável para quem deseja conhecer e valorizar a literatura de cordel e o repente”, avalia a escritora.
Quem faz coro sobre a importância do estande a Paola é a escritora e assistente de curadoria Arlene Holanda, outra figura frequente no espaço cearense da Bienal.
“É um espaço que a gente tem muito prazer de trabalhar porque é uma visibilidade para os fazedores de cultura na perspectiva da economia criativa e da cultura tradicional”, destaca.
O Espaço Cordel e Repente reúne mais de 160 profissionais, 15 editoras e 5 mil títulos de obras nordestinas. O objetivo de movimentação econômica é de cerca de R$ 1 milhão durante a Bienal.
Uma das editoras presentes no Estande é a Editora Caminhar, que promove quatro lançamentos no total, escritos por Prof. Dr. José Eustáquio Romão, Giselle Abreu e Gleice Nascimento.
"Tivemos a oportunidade de ter três autores conosco neste que é o maior evento literário da América Latina. Aqui na Bienal do Livro de São Paulo temos a grande vitrine de divulgação do livro em nosso país", celebra Casemiro Campos, escritor e editor.
"Oportunizar aos escritores, autores, poetas, cordelistas, repentistas, artistas participarem da Bienal Internacional do Livro de São Paulo é valorizar a cultura por meio da literatura do que melhor se produz, seja na poesia, seja na prosa", destaca o professor.
Reconhecimento no Brasil e no mundo
Autora de mais de 60 livros voltados ao público infanto-juvenil, Arlene ressalta que o desenvolvimento da literatura de cordel ao longo dos anos ajudou a alçá-lo “para o seu devido espaço”.
“Hoje são dezenas, até centenas, de livros em cordel adotados em programas governamentais do MEC, dos governos de São Paulo, Rio, em Belo Horizonte”, elenca.
Em relação à aceitação da literatura nordestina e cearense na Bienal, o cordelista Klévisson Viana é taxativo: “É impressionante a predominância da cultura nordestina e. São Paulo. Quando a gente vem para cá, a receptividade é imensa, gigantesca”.
Já Biana — que brinca ser “da família” do celebre José de Alencar devido ao sobrenome e à dedicação à escrita compartilhados — ressalta “a responsabilidade de representar uma terra de grandes nomes da literatura”, citando de Rachel de Queiroz a Patativa do Assaré e Moreira Campos.
“Nas páginas dos autores cearenses estão não só regionalidades, mas também ciência, educação, cultura com o nosso sotaque e o nosso jeito bem humorado de ver o mundo”, elabora.
“Somos potentes, nos destacamos na educação nacional, e nossas obras nas prateleiras da Bienal Internacional são um reflexo disso”, celebra Biana.
Para além do Brasil, o Klévisson Viana ainda destaca que a literatura de cordel é estudada em importantes universidades de países como Japão, Estados Unidos e França. “Viagens internacionais eu já fiz mais de 10, tudo por intermédio da cultura nordestina e brasileira, atesta.
"Digo, sem medo de errar, que a literatura de cordel que nós produzimos em especial no Nordeste é uma das maiores contribuições do Brasil para as letras universais”
Em diálogo, Paola Tôrres destaca que o lugar do Estado na programação do evento em São Paulo “reflete a riqueza da nossa cultura e literatura”.
“O fato de o Ceará ter esse espaço na Bienal só reforça as nossas potencialidades e mostra o quanto temos a oferecer. No entanto, também evidencia a necessidade de maiores incentivos e investimentos na produção literária local”
Apoio necessário
Paola defende que apoio é elemento importante para potencializar ainda mais a produção e a cultura do Estado.
“A nossa literatura é forte e diversa, mas para continuar crescendo e se expandindo, precisa de apoio. A visibilidade que o Ceará tem na Bienal é um passo importante, mas há muito mais a ser feito para consolidar ainda mais a nossa presença no cenário nacional e internacional”, reflete.
Em diálogo, Casemiro ressalta a importância de programas de compras de livros por estados e municípios. "É necessária a manutenção, ampliação e atualização dos acervos literários das salas de leitura e bibliotecas", defende.
"Saliento a relevância das políticas do livro que devem promover o incentivo à leitura como uma atividade cultural, pedagógica e prazerosa, e neste sentido, a escola cumpre um papel fundamental com a missão de alfabetização e letramento"
"O Ceará é um grande destaque na educação brasileira no atual contexto. O livro, a leitura e a literatura por meio dos eventos literários são responsáveis por formar leitores no gosto e no hábito de ler", relaciona Casemiro.
A defesa de apoio pelo poder público é ecoada por Klévisson, que reconhece conquistas, mas também desafios da literatura cearense pelo mundo.
“A gente precisaria de mais apoio inclusive para participar de mais feiras e mais bienais, porque a literatura de cordel é amada e respeitada no mundo todo”, aponta.
Com esse suporte, elabora o artista, o público leitor conseguiria não somente ter mais acesso ao cordel, mas às possibilidades do livro e da leitura.
“O que acontece com cordel é o que ocorre com a maioria dos gêneros literários: a ignorância de uma parcela muito grande da população ainda que não é leitora. Mas, a partir do momento que a pessoa desperta para esse encanto, descobre o cordel e outros gêneros também”, confia.
27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
- Quando: até 15 de setembro
- Onde: Distrito Anhembi, São Paulo
- Mais informações: no site
Siga autores e editoras:
- Arlene Holanda: @arleneholanda_
- Biana Alencar: @bianaalencar
- Klévisson Viana: @tupynanquimcordelbrasil
- Paola Tôrres: @paolatorresmedicacordelista
- Editora Caminhar: @editoracaminhar
- Editora IMEPH: @editoraimeph
*de São Paulo