Biblioteca Estadual do Ceará abre espaço dedicado ao cordel com mais de mil títulos

Além dos mais de 1.600 exemplares disponíveis para leitura, Cordelteca Arievaldo Viana deve receber atividades voltadas para o gênero literário; confira novidades

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
Espaço dedicado à cultura popular cearense está localizado no setor Coleção Ceará
Legenda: Espaço dedicado à cultura popular cearense está localizado no setor Coleção Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Desde a última quarta-feira (28), a capital cearense conta com um novo espaço dedicado à literatura de cordel e aos autores cearenses que fizeram história e mantêm o gênero literário vivo e pulsante. Localizada na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), a Cordelteca Arievaldo Viana conta com 1.192 títulos e mais de 1.600 exemplares, entre obras clássicas e contemporâneas.

O espaço, que faz parte do setor Coleção Ceará, homenageia o cordelista cearense Arievaldo Viana (1967-2020), um dos grandes nomes da história recente do cordel no Estado. Além da vasta produção – cerca de 30 livros e mais de 150 folhetos de cordel –, Arievaldo foi responsável por revitalizar e difundir o gênero nas escolas cearenses, por meio do projeto “Acorda Cordel na Sala de Aula”.

Além de obras de Arievaldo, há cordéis de diversos outros artistas renomados do Estado – Mestre João Pedro do Juazeiro, Paola Tôrres, Vânia Freitas e Klévisson Viana (que, além de cordelista, é irmão de Arievaldo) são alguns dos nomes presentes na Cordelteca.

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Bibliotecária responsável pela Coleção Ceará, Regina Célia explica que a demanda por um espaço voltado para a literatura de cordel aumentou depois da reinauguração da biblioteca, em 2021 – e que o movimento veio não só de cearenses que frequentam o local, mas também de turistas que conhecem a Bece durante visitas ao Dragão do Mar. 

“As pessoas chegavam e perguntavam onde estavam os cordéis, então a gente achou que seria bom colocá-los em um espaço mais adequado, até por ser um material mais sensível”, explica Regina. Por serem frágeis, os folhetos da Cordelteca não podem ser locados, mas podem ser conferidos na própria Bece.

Espaço reúne algumas obras de Arievaldo Viana, como livros e cordéis, e deve receber mais exemplares do artista em breve
Legenda: Espaço reúne algumas obras de Arievaldo Viana, como livros e cordéis, e deve receber mais exemplares do artista em breve
Foto: Thiago Gadelha

“É aquela leitura que é simples, voltada para qualquer pessoa, de qualquer idade. Isso faz com que todas as camadas possam ter acesso, possam vir e fazer uma leitura rápida”, destaca Regina Célia. “Em alguns minutos aqui na biblioteca, você consegue consumir uma obra e sair daqui satisfeito”, completa.

Espaço Josenir Lacerda reúne obras de mulheres cordelistas
Legenda: Espaço Josenir Lacerda reúne obras de mulheres cordelistas
Foto: Thiago Gadelha

Além de ofertar um espaço dedicado à literatura de cordel na região central da Cidade, a Cordelteca da Bece supre outra necessidade: a valorização das mulheres cordelistas. No espaço, além de uma área dedicada às obras de Arievaldo, há um setor exclusivo para a produção feminina, com títulos de 50 autoras do Estado.

Intitulada Espaço Josenir Lacerda, em homenagem à famosa cordelista do Crato, a seção conta com obras de artistas como a fortalezense Vânia Freitas e a paraibana Maria das Neves Baptista, a primeira mulher a publicar folhetos de cordel no País.

Obras da cordelista cratense estão disponíveis para leitura
Legenda: Obras da cordelista cratense estão disponíveis para leitura
Foto: Thiago Gadelha

Junto ao acervo qualificado – e em permanente construção –, a Cordelteca da Bece também deve oferecer aos visitantes eventos de formação e fruição. Após uma série de atividades na inauguração, o espaço se planeja para ofertar, ao longo do ano, ações como feiras e rodas de conversa. A biblioteca também deve receber, periodicamente, lançamentos de cordéis.

“Qualquer cordelista que queira fazer o lançamento do seu cordel pode procurar o setor de programação da Bece e será feito o encaminhamento”, destaca Regina Célia. A ideia, segundo ela, “é que a cadeia produtiva do cordel tenha espaço garantido na biblioteca”.

Cordelteca dá continuidade ao legado de Arievaldo

Poeta, radialista, ilustrador e publicitário, Arievaldo Viana morreu em maio de 2020, aos 52 anos, devido a uma infecção bacteriana severa. A homenagem da Bece se soma a uma série de honrarias que o artista recebeu por suas contribuições culturais e sociais – ele também nomeia duas outras cordeltecas no Ceará, uma escola na Capital  e até uma rua em Campina Grande (PB).

“Ele ainda tinha um caminho bem grande, então acredito que essa homenagem a ele é também para dar continuidade à obra que ele iniciou. A gente vai dar continuidade através das leituras, da fomentação dessa cadeia, de trazer os cordelistas para cá”, destaca Regina Célia.

Poesia, ilustração, educação: Arievaldo se destacava em diversas áreas da cultura popular
Legenda: Poesia, ilustração, educação: Arievaldo se destacava em diversas áreas da cultura popular
Foto: Fernanda Siebra

Natural de Madalena, no Sertão Central, o artista dividia a paixão pela cultura popular com o irmão, o também cordelista Klévisson Viana, com quem escreveu quase 40 obras. Emocionado, Klévisson destacou a importância do reconhecimento desse legado.

“A família fica muito feliz com essas homenagens, porque o Arievaldo era o primogênito, uma pessoa muito querida dentro da família. Foi uma perda imensurável, não superada ainda”, comenta. 

O artista rememora que, além do irmão, o Sertão Central cearense é terra natal de muitos outros grandes nomes da literatura de cordel do Nordeste e do País. “São no mínimo 20 grandes poetas, alguns com projeção, inclusive, internacionalmente. Então, uma Cordelteca como essa vai contribuir sobremaneira para que as pessoas saibam da riqueza que é essa cultura, esse gênero literário”, pontua.

Acervos fortalecem cultura do cordel na Capital

Cordelteca da Unifor é aberta ao público
Legenda: Cordelteca da Unifor é aberta ao público
Foto: Ares Soares/Divulgação

A inauguração do espaço dedicado ao acervo de cordéis da Bece – que, até recentemente, era bastante reduzido –, dá início a um novo momento para o público interessado em literatura de cordel em Fortaleza, já que reúne, em um só local, uma grande diversidade de autores e folhetos.

Outro marco importante para a cultura popular foi comemorado nesta semana na Capital. Localizada na biblioteca da Universidade de Fortaleza (Unifor), a Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel completou cinco anos de existência na última quarta-feira (27), com programação especial e entrega do Troféu Homenagem Cordel Brasileiro à cordelista Paola Tôrres.

Com um acervo que hoje contabiliza 1.606 títulos e mais de 3 mil exemplares, a Cordelteca da Unifor também não disponibiliza os cordéis para locação, mas possibilita a consulta e leitura dos materiais para o público em geral. 

Serviço
Cordelteca Arievaldo Viana (Bece)
Onde: Biblioteca Pública Estadual do Ceará (av. Presidente Castelo Branco, 255 - Moura Brasil - ao lado do Dragão do Mar)
Visitação: De terça a sexta-feira, das 9h às 20h; aos sábados e domingos, das 9h às 17h
Acesso gratuito
Mais informações: @bece_bibliotecaestadualdoceara

Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel (Unifor)
Onde: Unifor (av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz)
Visitação: De segunda a sexta-feira, das 7h às 21h55; aos sábados, das 8h às 14h10
Acesso gratuito
Mais informações: (85) 3477-3169 e @uniforcomunica

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