Biana Alencar, apresentadora da TV Verdes Mares, lança livro infantojuvenil sobre fósseis do Cariri

Lançamento acontece no Crato e depois na Bienal Internacional do Livro de São Paulo; história tem como inspiração a terra natal da jornalista, entre ficção e realidade

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Natural do Cariri, Biana Alencar desbrava uma das maiores riquezas da região com linguagem lúdica e criativa, para pequenos e grandes leitores
Foto: Aristóteles Alencar

Imagina você morar num lugar em que fósseis podem ser encontrados no quintal de casa. Imagina também viver uma aventura a partir dessa descoberta. Está tudo em “O Tesouro Encantado”, livro de estreia da jornalista Biana Alencar, apresentadora da TV Verdes Mares. O lançamento acontece neste sábado (20) no Bosque do Centro Cultural do Cariri e promete atrair crianças, adolescentes e toda a família para uma jornada de conhecimento e emoção.

Na história, um menino descobre que a própria avó tem um fóssil em casa e, por isso, tenta convencê-la a devolver a raridade para um museu. A velhinha, porém, diz que não fará isso, o que desencadeia os acontecimentos e reflexões da trama. Biana conta que o maior objetivo do trabalho é, de fato, volver olhares sobre a importância da preservação dessas peças únicas.

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“Quando a gente fala no Cariri, lembramos muito da religiosidade e da cultura popular. Mas também produzimos muita ciência aqui todos os dias. Por isso eu sentia que precisava estimular as novas gerações a observar isso. Acredito que a criança que lerá o livro entrará nesse tema e será estimulada a visitar os lugares”, partilha a escritora.

Tudo começou durante a pandemia de Covid-19 quando, acometida pelo vírus, Biana passou a escrever em uma agenda que ganhou de presente de uma amiga. Narrar sobre Paleontologia foi um percurso natural. Ao longo de oito anos, a até então repórter fez de matérias sobre tráfico de fósseis a uma escavação ao vivo, motivo de grande enriquecimento.

“Como aqueles bichos estavam inteirinhos ali debaixo da pedra por milhões de anos sempre me encantou”, diz. Une-se a isso as histórias contadas pela mãe da jornalista, natural de Santana do Cariri, e o combo estava feito: precisava desenvolver algo a respeito, sobretudo devido a uma triste percepção. Ao visitar o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, no Cariri, a apresentadora observava o brilho dos olhos das crianças sumir.

Legenda: Recorrer à literatura para falar sobre os fósseis do Cariri deve-se à própria trajetória profissional de Biana
Foto: Aristóteles Alencar

Segundo ela, a experiência de os pequenos entrarem na casa e não encontrarem dinossauros tal qual nos filmes atenuava a atenção deles. No lugar de grandes ossadas dos répteis gigantes, sapos, tartarugas e peixes incrustados em pedras. “O Tesouro Encantado”, assim, chega para tentar preencher um pouco essa lacuna e devolver o brilho perdido.

“Além de tudo, existe a missão de saber quem é que vai se preocupar no futuro para esses fósseis não pararem fora do Brasil. Já estamos vendo algumas políticas de fiscalização melhorando nos aeroportos, nas estradas… Mas foi uma caminhada longa. E as novas gerações? Sempre pensei muito sobre isso”.

Paleontologia, literatura e teatro

Recorrer à literatura para transmitir esse cuidado deve-se à própria trajetória profissional de Biana. Além de jornalista, ela é graduada em Letras pela Universidade Regional do Cariri e já foi atriz de teatro, o que possibilitou não apenas a concepção da história em palavras, como também o forte investimento em diálogos ao longo de todo o livro.

Regionalismos, claro, não faltam nas páginas – não à toa, a presença de um glossário ao término da história a fim de explicar aos desavisados palavras como “cuia” e expressões como “desmentir o braço” – acompanhados das belíssimas ilustrações de Edusá, designer mineiro. É o Ceará contado em curiosidade e riqueza. 

Legenda: Fartamente ilustrado com cores e traços, livro convida público para uma viagem emocionante
Foto: Ilustrações de Edusá

“Comecei tendo apenas metade de um capítulo do livro. Quando reencontrei o texto durante minha mudança para Fortaleza, dividi-o com amigos paleontólogos e eles começaram a me incentivar a escrever mais e mais”, partilha, citando nomes como o de Flaviana Lima, Renan Bantim e Álamo Saraiva. Em menos de um mês, a trama estava pronta citando como fóssil um grilo, brevemente em exposição no Museu de Paleontologia do Cariri 

O fóssil citado por ela, inclusive, existe e brevemente estará em exposição no Museu de Paleontologia do Cariri. Trata-se de um grilo, um dos símbolos da sabedoria e bem distante de imagens de dinossauros e peixes. Não à toa, a autora recorda chorar muito ao longo do processo, tendo em vista as linhas passearem entre ficção e biografia.

Foi forte decidir o rumo de personagens frente a uma realidade tão presente na vida da jornalista. “Quando cheguei no capítulo em que o menino não conseguiu convencer a avó que precisava devolver o fóssil, me perguntei: ‘E agora, como será o final? Como vou fazer a avó ir para o museu devolver sem ele saber?’”.

Legenda: Capa do livro de estreia de Biana Alencar
Foto: Divulgação

Foi então que criou mais um texto de modo de amarrar as pontas soltas e entregar ainda mais emoção ao público. Por meio de sete capítulos e 70 páginas, é isso que “O Tesouro Encantado” faz: rebuliça o interior da gente sem se furtar de explorar termos técnicos – da Pedra Cariri à diferença no formato dos fósseis – e, ainda assim, ser simples e claro em todo o trajeto. 

“O desfecho me emocionou muito. Tanto que tive oportunidade de colocar uma criança e um adolescente para ler, pois eu precisava sentir o termômetro. Os dois me fizeram a mesma pergunta: ‘Isso aconteceu de verdade?’. Pra mim, isso foi importante porque percebi que minha linguagem chegou neles, não foi difícil para entenderem. Eles conseguiram acreditar”.

Circular pelo Brasil

Após o lançamento – em plena efervescência da ExpoCrato, por sinal – o próximo passo é a obra chegar às mãos de crianças e jovens estudantes de escolas públicas. Isso porque a editora Imeph, responsável pela publicação, promove parcerias com prefeituras de todo o Brasil para a circulação dos livros publicados. Mais que didática, a iniciativa é super bem-vinda.

Tão bem-vindo quanto o convite para Biana apresentar o livro no estande do Cordel e do Repente na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em setembro deste ano. “É uma coisa muito fantástica porque morei durante dois anos em São Paulo e trabalhei na Livraria Cultura. Essa vivência com livros acredito que tenha sido algo que me trouxe para esse contato direto com a literatura além do que eu tinha lido na faculdade”, analisa.

Legenda: Após lançamento, próximo passo da obra é chegar às mãos de crianças e jovens estudantes de escolas públicas
Foto: Aristóteles Alencar

O papo finaliza com a apresentadora confessando que no dia anterior à conversa leu o livro para a mãe – motivo de grande beleza – e afirmando que esteve recentemente em Londres, onde enfrentou fila para ver um fóssil vindo do Cariri. Aquilo a espantou e trouxe senso de urgência.

“É isso que eu quero: não que nossos fósseis estejam presos, mas que eles sejam tão valorizados quanto são fora do Brasil. Que as pessoas, desde muito cedo, tenham esse senso de pertencimento”.

 

Serviço
Lançamento do livro “O Tesouro Encantado”, de Biana Alencar
Neste sábado (20), a partir das 16h30, no Bosque do Centro Cultural do Cariri. Entrada gratuita. O livro é publicado pela editora Imeph, possui 70 páginas e será vendido a R$70

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