Camila Fremder traz podcast ‘É Nóia Minha?’ para Fortaleza: ‘Sessão de terapia a cada episódio’
Roteirista, escritora e apresentadora paulistana virá à capital cearense com turnê do podcast no próximo sábado (13); apresentação será no Teatro RioMar
Foi compartilhando “nóias” que todo mundo divide e refletindo sobre as burocracias, conexões, decepções e pequenas loucuras do cotidiano adulto moderno que a escritora, roteirista e apresentadora Camila Fremder criou, há seis anos, uma comunidade on-line que se tornou uma das mais engajadas do País.
À frente do podcast “É Nóia Minha?”, que logo se tornou um queridinho dos ouvintes nas plataformas digitais, Camila conta com 1 milhão de ouvintes mensais e mais de 70 milhões de plays nas plataformas digitais, e já demonstrou conseguir levar a audiência para além dos fones de ouvido.
Desde o ano passado, Fremder saiu do estúdio onde grava o podcast, em São Paulo (SP), e começou a rodar o Brasil, se apresentando em diferentes palcos, em edições ao vivo do “É Nóia Minha?”.
Em entrevista ao Verso, a escritora e roteirista conta como tem sido a experiência de colocar o programa “na rua” e experimentar um contato que ainda não tinha tido com os ouvintes.
Ao vivo, a criadora e seus convidados batem um papo descontraído e convidam o público a participar do momento, dividindo questões íntimas e, por vezes, sem nexo algum – mas que são vistas como parte quase essencial da experiência humana pela apresentadora e seu público.
Camila conta que a ideia de fazer edições ao vivo do podcast não partiu dela, inicialmente, mas de um convite da produtora Opus Entretenimento, no que já se tornou uma tendência do mercado.
Até o momento, a turnê já passou por São Paulo, Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Recife (PE). Neste sábado (13), a apresentação especial chega a Fortaleza, no Teatro RioMar, com participação da influenciadora pernambucana Dandara Pagu e da influenciadora cearense Mila Costa.
Em breve, o ‘Nóia’ ao vivo chegará ainda a Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG) – cuja data foi adiada em decorrência de uma cirurgia emergencial da qual Camila ainda se recupera –, além de contar com novas datas em São Paulo no fim deste ano.
Conhecida por ser uma pessoa caseira, ela brinca que descobriu na turnê uma vontade ainda desconhecida de ocupar os palcos e se conectar com a plateia.
A oportunidade tem servido para estreitar laços com a comunidade – e conhecer pessoas que, há bastante tempo, já a consideram meio que uma amiga próxima, sempre ali, presente na rotina, ouvindo e compartilhando questões e confissões sem julgamentos.
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Do estúdio para o teatro
Por muitos anos, o “É Nóia Minha?” se manteve apenas como um podcast tradicional, baseado apenas no áudio, sem se render ao formato videocast, que começou a dominar a categoria e hoje é a base dos maiores players da podosfera. Depois, Camila experimentou manter parte da produção em vídeo e parte em áudio, para agradar uma fatia maior do público.
O salto do vídeo para o presencial, no entanto, era algo ainda impensado para alguém que brinca ser “sem carisma”, e que, por muitos anos, teve como contato único com os fãs os lançamentos de livros, que costumam contar com um público mais modesto.
A princípio, quando Camila topou ensaiar uma versão em teatro do projeto, seriam apenas três datas em São Paulo, no fim do passado. No entanto, os ingressos para as edições ao vivo esgotaram tão rápido que logo uma data extra foi marcada na capital paulista e surgiu a ideia de excursionar com o É Nóia Minha?.
Hoje, as viagens fazem parte da rotina da escritora, que conta que pretende realizar apresentações em teatros por um bom tempo, em paralelo às gravações corriqueiras no estúdio. “Sempre que a Opus fala ‘a gente tem a oportunidade da cidade tal, você quer?’, ‘quero’. Eu nunca neguei nenhum convite, nenhuma cidade, nenhuma data”, ressalta.
As experiências de apresentações em São Paulo, sua cidade natal, e capitais de outros estados, têm demonstrado o que muita gente ainda custa a entender: que podcasters nem sempre furam bolhas e chegam às massas, mas contam com uma comunidade cativa e engajada que se diferencia de outras plataformas, já que os criadores passam a integrar a rotina de quem ouve, numa relação de proximidade que poucos formatos possibilitam.
“É muito maluco entender que eu tenho audiência fora da minha cidade e das bolhas da minha cidade. Isso, para mim, é surreal. Assim, de chegar em Recife e ver um teatro lotado, chegar em Porto Alegre e ver muita gente, ver que a gente já vendeu quase tudo para Fortaleza... É incrível”, comenta. Camila.
Para ela, o formato de podcast ao vivo permite que o público seja muito mais espontâneo que em outros tipos de encontro, já que a troca é cênica, com ação de quem apresenta e reação imediata de quem escuta. “Você fala uma coisa e você tem de imediato a risada. Então, é muito mais emocionante, muito mais vibrante mesmo, até pros convidados”, conta.
Até o momento, a apresentação para Fortaleza ainda possui ingressos disponíveis para alguns setores, com preços a R$ 45, mas restam poucos assentos livres. As vendas seguem na bilheteria do Teatro RioMar e na plataforma Uhuu.
Conexão a partir do cotidiano mantém engajamento
Para quem nunca foi a uma apresentação de podcast ao vivo, Camila descreve a sensação do ponto de vista de quem está no palco: “é como estar de fato numa sala conversando com pessoas muito próximas”.
“Essa coisa do podcast, de ouvir e você levar suas questões ali, em primeira pessoa, traz uma conexão muito grande. Eu sei que as pessoas que estão ali têm as mesmas nóias que eu, e isso é sobre afinidade. Então, eu fico muito confortável de ir, de estar lá”, afirma a escritora que, apesar de já ter navegado em diferentes plataformas digitais e off-line, vê uma grande diferença na forma como os entusiastas de podcasts se comportam em relação aos criadores.
“Eu acho uma loucura, porque eu odeio sair de casa. Aí, ver as pessoas saindo de casa – que eu também sei que nem todos são de sair, tem uma galera ali que também é sem carisma, tipo eu – e ver eles saindo de casa pra assistir a gente é o máximo”, brinca. “Eu tô amando, eu tô completamente viciada e eu não quero parar, não tenho planos pra parar. Quero fazer cada vez mais lugares”, conta.
Em um momento onde muitos criadores de conteúdo digital buscam alternativas para superar as transformações constantes das big techs, Camila parece ter entendido a fórmula para navegar nos mares do engajamento sem grandes intercorrências. O segredo, conta, é a curiosidade e a vontade de falar para e ouvir o outro.
Como meio de manter a comunidade unida, ela destaca iniciativas como uma newsletter e um grupo de Telegram dedicados aos ouvintes dos podcasts que apresenta (além do É Nóia Minha?, Fremder apresenta o E os Namoradinhos?, com Pedro Pacífico).
“A gente olha para comunidade há muitos anos já”, destaca. “Sempre houve uma visão muito clara de que, no ‘É Nóia Minha?’, a nóia não é minha, a nóia é de todo mundo”, brinca.
A aproximação com os ouvintes é genuína, conta, porque parte de incômodos e questionamentos reais de quem apresenta o programa, trazendo diferentes convidados para contar como eles veem aquelas questões – com bom humor e sem pretensão de ter uma resposta pronta.
Para Camila, esse exercício de partilhar pequenas loucuras e ansiedades funciona para os outros porque funciona também para ela.
“É como se fosse, para mim, uma maneira mais saudável de sobreviver, porque eu penso muito! Eu tenho essa coisa de tudo eu adoro analisar, entender outros pontos de vista e tal. E quando você expõe essas suas questões, que às vezes são engraçadas, às vezes são vergonhosas, às vezes envolvem medo, te humanizam, você encontra muitos pontos em comum”, explica. “É aquilo que a gente diz: nenhuma experiência é única”.
Chegada ao TikTok ampliou rede de seguidores
Há alguns meses, além dos podcasts e da forte presença no Instagram, Camila decidiu investir também no TikTok. Primeiro, por curiosidade de entender como se comunicar com uma geração mais nova, que não necessariamente conhecia o Nóia; segundo, para entender como criar naquela plataforma, desbravar outro ambiente.
“Essa preocupação de encontrar o formato, de encontrar como eu me comunico com essa nova audiência, é uma coisa que eu adoro fazer. Para mim é um prazer descobrir como que eu vou me comunicar com esse novo lugar e com essa nova audiência”, conta.
@cafremder Sdds dos meus filhos ❤️ vcs estão bem?
♬ som original - camila.fremder
Assim nasceram, de forma quase despretensiosa, vários vídeos virais onde Camila ranqueia objetos aleatórios, que incluem análises profundas dos melhores sabores de bolo, as melhores nail arts e dos piores lugares para se ter um piercing, por exemplo. Ali, adotou a persona da “mãe” dos gen z e conquistou uma nova leva de fãs.
“Essa minha chegada no TikTok foi porque eu acho muito massa ter amigos de 50 e poucos anos e tal... mas cadê o meu pessoal de 20?”, brinca. “[Quero saber] o que eles estão falando, o que eles estão pensando, o que eles podem me ensinar, o que que a gente pode trocar, o que que eu estou perdendo?”, completa.
@cafremder Ola, como meus filhos estão?
♬ som original - camila.fremder
No fim das contas, seja nos livros, podcasts ou vídeos com filtros do TikTok, a escritora tem se dedicado a tornar as questões da vida adulta um pouco mais leves – para si mesma e para milhares de outros brasileiros.
“Eu acho que a maior sorte que eu tive na vida foi conseguir monetizar com uma paranoia. Eu podia estar presa em casa, muito sozinha, com mil questões, pesadelos, projeções e pensamentos intrusivos, quando na verdade eu faço quase uma sessão de terapia a cada episódio, né? E todo mundo faz junto”, celebra. “Então, é um trucão meu”, resume.
Polêmica com Vênus Day Talks teve 'saldo positivo'
Se a chegada ao TikTok fez com que Camila chegasse a ouvidos mais jovens, uma situação curiosa ocorrida em julho deste ano fez com que o nome da paulistana furasse bolhas e chegasse ao público mais amplo, ocupando lugar nas páginas de entretenimento e nos principais tópicos das redes sociais por dias a fio.
Ao receber um convite para participar do podcast Veêus Day Talks, Camila achou que tinha sido chamada para o Venus Podcast, um gigante dos streamings. Animada, topou participar do programa errado sem perceber a confusão, o que rendeu uma situação constrangedora,
O encontro rendeu uma série de memes e análises sobre comunicação digital, branding, direitos autorais e muito mais.
Experiente nas redes, Camila decidiu converter o episódio em algo positivo para ela, apesar do erro. Falou sobre o assunto com bom humor e chegou até a fechar campanhas publicitárias que brincavam com o assunto. Além disso, conseguiu atrair novo público para o "É Nóia Minha?".
“Eu já tive algumas viralizadas, principalmente no TikTok, mas nada desse tamanho assim, de realmente eu parar em canais do YouTube que eu nunca tinha ouvido falar, que são enormes e para públicos que não conversam com o meu. Foi muito doido", lembra.
Nas principais redes sociais em que está presente, Camila ganhou cerca de 100 mil seguidores com a polêmica, e muitos deles permaneceram.
"A gente observou também um pico de audiência muito grande do Noia. Muita gente chega pra xeretar e ver qual é e, nesse momento, escolhe se quer ficar ou não. E a gente percebeu que sim, muita gente escolheu ficar. Então, pra mim foi muito legal, foi muito bom o resultado, e não só financeiramente – porque a gente fechou algumas publicidades com marcas que eu já queria trabalhar e marcas muito legais com quem eu já trabalhei. A gente teve a velocidade", comenta.
Novo livro e próximos passos do podcast
Além de seguir com a turnê do É Nóia Minha?, Camila segue se aventurando em outra categoria de projetos que a aproximou, desde o início, do público: a literatura.
Além dos roteiros para a televisão, ela também escreveu livros infantis e obras bem-humoradas para o público adulto, como “Adulta sim, madura nem sempre: fraldas, boletos e pouco colágeno” (2018) e o best-seller “Como ter uma vida normal sendo louca” (2019), que escreveu com a amiga e também criadora de conteúdo Jana Rosa.
Nos próximos meses, “provavelmente no ano que vem”, um novo livro da escritora deve chegar às prateleiras. Sem adiantar detalhes, Camila destaca que o livro conversa com o podcast, já que abrange “o nascimento da nóia”.
“Acho que é um livro que se aprofunda, que ele é um passo antes do podcast, sabe? O podcast já chega com a ‘nóia’ pronta, a ser discutida com os convidados e apresentada para o público, mas acho que no livro tem uma coisa mais do nascimento da nóia mesmo, e do pós, de como ela se resolve ou não em mim”, conta.
Outros planos incluem o lançamento de produtos licenciados do podcast e, claro, seguir com atenção especial ao podcast que a fez gigante nas plataformas digitais e, cada vez mais, fora delas.
Serviço
‘É Nóia Minha?’, com Camila Fremder, ao vivo em Fortaleza
Quando: Sábado, 13 de setembro
Horário: 21h
Onde: Teatro RioMar Fortaleza
Ingressos: A partir de R$ 45 | Na bilheteria do teatro ou no site Uhuu!
Mais informações: @enoiaminha e @teatroriomarfortaleza