Após cancelamento do Edital Ceará Junino, Secult-CE estuda alternativa para o setor
Pasta analisa formular edital de premiação para grupos de cultura popular tradicional, que incluiria as manifestações do Ciclo Junino no Estado
O anúncio do cancelamento do edital Ceará Junino 2020 pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE), na última segunda-feira (20), foi recebido com preocupação pelo movimento de quadrilhas juninas do Estado. Mesmo compreendendo que a decisão alinha-se a medidas governamentais de combate ao novo coronavírus, os grupos lamentaram a situação com a qual passam a lidar a partir da revogação do documento.
Diretor da União Junina do Ceará e membro do comitê gestor Ceará Junino, Tácio Monteiro afirma que, antes da reunião que aconteceu na segunda-feira com o comitê gestor e membros da Secult, já havia sido enviado um requerimento solicitando que a Secretaria dialogasse com o movimento de quadrilhas juninas. A maioria delas, como é de costume, havia investido bastante para o São João deste ano.
“Elas pararam agora por causa do isolamento social, mas os trabalhos já estavam bem adiantados, iniciados ainda no segundo semestre do ano passado. Muitos profissionais da cadeia produtiva do movimento estavam atuando para compor os espetáculos das quadrilhas juninas”, situa, enumerando sapateiros, costureiros, cabeleireiros, músicos, aderecistas, entre outros integrantes da rede de trabalhadores do setor diretamente envolvidos na composição das apresentações.
“Com o cancelamento do edital, ficamos numa situação bem complicada, porque a gente conta com esse fomento do Ceará Junino, que nos ajuda nas despesas dos nossos trabalhos. O edital foi cancelado sem nenhuma conversa prévia para que a Secretaria da Cultura entendesse como os movimentos de quadrilha estão neste momento”, completa, destacando ainda que, em média, 350 grupos juninos atuam no Estado.
Também no posto de presidente da Quadrilha Junina Babaçu, de Fortaleza, Tácio, então, junto a outros integrantes do movimento, sugeriu à Secult que transferisse o recurso para um novo edital, de caráter de premiação. Assim, na visão deles, os grupos poderiam ao menos resolver uma parte das atividades que já foram iniciadas com a cadeia produtiva, evitando gerar endividamento das quadrilhas juninas e também o comprometimento do São João do próximo ano.
A Secretaria se posicionou diante da alternativa. Em nota, a pasta informou que analisa a possibilidade de formular um edital de premiação para grupos de cultura popular tradicional, que incluiria as manifestações do Ciclo Junino no Estado.
Além disso, o Secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, afirmou que a decisão do cancelamento do edital foi bastante difícil de ser tomada. “Tentamos segurar, para ver se o cenário se alterava de acordo com as medidas que seriam tomadas de enfrentamento no Estado”, disse.
“No entanto, nós compreendemos o Ciclo Junino como uma celebração da vida, uma festa de renovação da colheita. Então, nós estamos adiando o edital, mas não o ciclo da vida. Vamos fazer do próximo período junino uma grande festa de renovação por meio da economia criativa e pulsante que é o junino em nosso Estado".
Impacto
Integrante da quadrilha junina Tradição da Roça, há 20 anos atuando na cena – proveniente do bairro Parque São Vicente, na Capital – Paula Regina também dimensiona os impactos do cancelamento do edital.
Segundo ela, entre grupo regional, brincantes e coordenação, são 60 pessoas participando ativamente dos preparativos para os espetáculos juninos, incluindo mais de uma dezena de fornecedores do material usado para as apresentações.
“Minha vida toda foi praticamente dentro desse movimento. E o cancelamento do edital foi um baque muito grande para as pessoas que vivem da economia informal e para os grupos juninos em si. Quando iniciaram os trabalhos em 2020, as quadrilhas já começaram as contratações desses profissionais e já se incluiu um percentual de endividamento dos grupos”.
A partir da possibilidade de um edital de premiação, Paula afirma: “Isso seria interessante para que o próprio movimento tenha um incentivo, não pare repentinamente, que as atividades continuem já pensando em 2021”, analisa.
“Temos que colocar o pé no chão: é isso que está acontecendo, não tem como fugir da pandemia, mas seria muito bom que o Governo repensasse o edital para que as quadrilhas em si não tenham uma ruptura muito brusca. No formato de cancelamento total, fica bem difícil”.