Andava na swingueira? Pois chegou o filme que fala desse fenômeno em Fortaleza

Produção cearense que estreia com quatro sessões no Cineteatro São Luiz, documentário “Swingueira” retrata a garra e os dilemas da juventude que sonha com um mundo melhor

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
A dançarina Elizânegela Oliveira (Elly), durante apresentação do grupo Stylo Muvuka
Legenda: A dançarina Elizânegela Oliveira (Elly), durante apresentação do grupo Stylo Muvuka
Foto: Nigéria Filmes

“Na swingueira, todo mundo é livre para ser o que quiser”. Essa afirmação promete tocar o coração de quem é apaixonado pelo ritmo. Marcante na cultura das últimas décadas, a swingueira ganhou um filme que conta seu impacto em Fortaleza.  

Se já dançou ou ainda quebra tudo ao som dessa batida, a sugestão é assistir o documentário “Swingueira”. Destaque em festivais pelo país, a produção cearense chega aos cinemas e ganha a telona do Cineteatro São Luiz. Serão quatro sessões com entrada a R$10 e R$ 5 (meia). Imperdível. 

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Também conhecido como “pagode baiano” em Salvador ou “muvucão” em Recife, esse movimento explodiu da Bahia e ganhou as periferias do Nordeste. Inúmeros jovens montaram grupos e começaram a criar e ensaiar coreografias. A capital cearense chegou a contar com 30 companhias e ter festivais e campeonatos voltados a este fenômeno cultural. 

Passeando por Fortaleza, Salvador e outras cidades brasileiras, o filme acompanha quatro jovens dançarinos de swingueira. Quem conta essa movimentada história são os diretores Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão (que formam a Nigéria Filmes) e Felipe de Paula.  

Colorido e vibrante 

Se você espera encontrar aquele tipo de documentário mais paradão, focado no depoimento de pessoas em frente da câmera, "Swingueira" é outra pegada. A batida e o ritmo da dança conferem ação e movimento. Do Bom Jardim à comunidade Verdes Mares, conhecemos a garra e sensibilidade de grupos como Tommy Swing, Swing Stylo, Uz Patifez e Stylo Muvuka. 

Atravessando essa geografia periférica da cidade, conhecemos os ensaios e a dedicação dos entrevistados. A câmera também nos aproxima da paixão pela arte, mas também das lutas e dificuldades destes jovens em buscar o tão almejado sonho.

A swingueira mistura elementos de axé, dança de salão, hip hop e até o batidão do funk
Legenda: A swingueira mistura elementos de axé, dança de salão, hip hop e até o batidão do funk
Foto: Nigéria Filmes

Com vivências pessoais diferentes, mas unidos pela realidade da periferia, essa cultura é mostrada pelas jornadas de Cícera Wiane (Índia), Elizânegela Oliveira (Elly), Tiago Oliveira e Issac Charada. O filme também mergulha no berço do ritmo e vai até Salvador para entender a força dessa expressão musical. Ao todo, o projeto consumiu cinco anos de produção dos envolvidos. Essa história começou em 2013. 

Naquele ano, o ator, músico, compositor e mestrando em Antropologia, Felipe de Paula, assistiu na Beira-Mar (na popular Praça dos Estressados) uma apresentação dos Uz Patifez. “Fiquei de cara com a potência, a dança, como eles se comunicavam e a diversidade”, relembra o diretor.  

Registro histórico 

Dali em diante, Felipe de Paula se aproximou e iniciou o mapeamento e pesquisa daquela expressão junto à Universidade. Para o realizador, a swingueira era o local onde estes jovens podiam explorar a criatividade e sensibilidade. Um respiro, por meio da arte, da invisibilidade e vulnerabilidade destes jovens cearenses. “Tem viés lúdico, de local de expressão e encontro consigo mesmo”. 

Após a monografia pronta, Felipe de Paula entende que a investigação antropológica podia ser apresentada para o público a partir de outra forma de comunicação. É quando entra a parceria com a Nigéria Filmes. Conversamos com o diretor Roger Pires.

“É um filme sobre juventude. Aquele momento da vida em que você é muito ativo, com tempo livre e consegue fazer muitas coisas. De fazer ensaio, não ter como pagar figurino, mas participar, fazer parte de um grupo, de uma família, de uma representação no seu bairro”, detalha.  

Tiago Oliveira é um dos personagens que dividem o amor por esta expressão cultural
Legenda: Tiago Oliveira é um dos personagens que dividem o amor por esta expressão cultural
Foto: Nigéria Filmes

Em paralelo, alerta Roger, estes personagens lidam com o cotidiano da busca por emprego, casamento, mudanças de bairro, entre outras decisões na vida que os afasta do tão querido amor pela dança. Com mais de 10 anos de estrada, a Nigéria se notabiliza por adentrar histórias para TV, cinema e web. “Swingueira” guarda um capítulo especial dessa jornada. “Um grande aprendizado”, argumenta o realizador.  

Acompanhamos a vida da galera e os acontecimentos rolando. Os contatos precisavam ser contínuos com ligações, mensagens, encontros. Acompanhar os jovens, nós sentimos que essa galera está sem muita expectativa. Não tiveram acesso à faculdade, emprego, talvez não tenham concluído a escola. Isso é muito mais comum quando se está com essas pessoas” 
Roger Pires
Nigéria Filmes

Juventude criativa

O documentário que estreia no Cineteatro São Luiz saiu do papel após ser contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2015-2016. Para concluir o filme foi preciso também apoio do Fundo Setorial do Audiovisual pela chamada Prodecine 01. 

Filme dá continuidade à investigação antropológica da swingueira como manifestação cultural e artística
Legenda: Filme dá continuidade à investigação antropológica da swingueira como manifestação cultural e artística
Foto: Nigéria Filmes

“Swingueira” foi apresentado no Festival Cine Ceará (CE), em 2020. No ano seguinte participou do Fest Aruanda (PB), Mostra de Cinema de Tiradentes (MG) e In-Edit (SP). Agora é hora de o público cearense conhecer um pouco mais da difícil jornada de sua própria juventude.  

Compreender também como a inventividade desses adolescentes estabeleceu uma movimentação artística e cultural nos centros das periferias, sem recursos ou qualquer estrutura. “‘Swingueira’  mostra, sobretudo, a potência criativa da periferia. Que sem nada e no contexto de violência consegue criar e imaginar um mundo melhor”, finaliza Felipe de Paula. 

Serviço:

Filme “Swingueira”, de Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula.  Em cartaz no Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500, Centro - Praça do Ferreira). Sessões: Dia 18/03 (sexta-feira): 14h e 16h30, dia 22/03 (terça-feira): 16h30 e dia 23/03 (quarta-feira): 18h30. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

 

 

 

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