Vacinação contra meningite não atingiu meta nos últimos 2 anos no Ceará; conheça riscos e sintomas
Pandemia impactou a cobertura vacinal e menos pessoas estão protegidas contra formas graves da doença que tem evolução rápida e pode ser letal
Os cearenses deixaram de se proteger contra doenças preveníveis por vacinação durante os 2 primeiros anos da pandemia devido ao receio de sair de casa. E a janela aberta nesse período facilita a transmissão, por exemplo, das meningites - 4 vacinas contra a doença não atingiram a meta de imunização em 2020 e 2021 no Ceará.
Esse contexto ganha maior visibilidade neste domingo (24) com o Dia Mundial de Combate à Meningite. Por isso, o Diário do Nordeste traz análise de especialistas sobre sintomas, tratamento, consequências e prevenção da doença.
Antes disso, vale entender um pouco mais sobre o cenário da proteção no Ceará. A vacina BCG, eficaz contra a meningite ligada à tuberculose, deve ser aplicada em 90% do público-alvo, mas ficou na casa dos 60% no período. A última vez, inclusive, de cobertura satisfatória foi em 2018.
Nos dois últimos anos, as vacinas Meningococo C, Pentavalente e Pneumocócica, com meta de aplicação em 95% dos bebês, também ficaram abaixo do ideal no Ceará. Os dados são do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI).
Mesmo com essa ausência nos postos de saúde, houve uma queda de 49,8% dos casos confirmados da doença em 2020, porque as medidas de prevenção contra a Covid, como o uso de máscara, também dificultam a transmissão da meningite.
Enquanto 2019 registrou 528 pacientes com a doença no Ceará, esse número caiu para 265 no primeiro ano da pandemia. Esse monitoramento é feito pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Confira o número de casos confirmados de meningite no Ceará:
- 2018: 426
- 2019: 528
- 2020: 265
- 2021: 213
- 2022: 26 (com atualização feita no dia 5 de março)
Até o início de março, 13 cidades registraram casos de meningite. E agora vivemos em um momento em o convívio social acontece sem restrições e com menos pessoas protegidas da meningite, o risco é elevado, como avalia o pediatra Valderi Júnior.
"O risco no cenário atual, com essa quantidade de chuva e a volta do contato social, facilita muito o contágio das meningites já que a grande maioria delas é transmitida por via aérea", acrescenta.
Os imunizantes são determinantes para conter a disseminação da doença, como defende. "Alguns adolescentes são classificados como portadores sãos. Eles têm a bactéria, como a Meningococo, na garganta. Só que essa bactéria não causa nada a eles, mas pode ser transmitida", explica.
As vacinas diminuem muito a incidência dos quadros de meningite. Alguns grupos são mais suscetíveis, doenças que diminuem a potência do sistema imunológico
A Secretaria da Saúde alerta, com base na análise dos casos de 2018 a 2022, que a maioria dos casos (27,5%) acontece em pessoas entre 20 e 34 anos, do sexo masculino (65,2%), da raça/cor parda (95,3%) e moradores da região urbana (85%).
A Sesa também contextualiza que a condição de alta densidade populacional - muitas pessoas vivendo em um mesmo ambiente e até mesmo em condições precárias - favorece a propagação da doença.
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Como identificar a meningite
A meningite é a inflamação da meninge, que é membrana onde fica revestido o sistema nervoso central, como o cérebro, como explica Lauro Vieira Perdigão Neto, diretor técnico e infectologista do Hospital São José (HSJ).
"Essa é uma condição médica de extrema importância, porque pode levar a casos graves, incluindo, sequelas e até óbito", frisa.
A meningite pode ser causada por vírus, bactérias, como é o caso da tuberculose, além de fungos, como explica o infectologista. "Esses microorganismos são mais frequentemente transmitidos pela via respiratória, que é a principal forma de transmissão", completa.
Pacientes com suspeita da doença são considerados como emergência médica para avaliação adequada e início do tratamento.
"Os principais sintomas da meningite são a febre, frequentemente, alta. Convulsão, dor de cabeça, rigidez da nuca, vômitos e até lesão de pele", lista o médico.
O Ministério da Saúde indica sintomas e tratamentos conforme a causa da meningite. Confira as principais informações:
MENINGITES VIRAIS (QUADRO MAIS LEVE)
Sintomas:
- Semelhantes aos das gripes e resfriados
- Febre
- Dor de cabeça
- Rigidez na nuca
- Perda do apetite
- Irritação
Tratamento:
- Os medicamentos combatem febre e dor e são úteis para aliviar os sintomas.
MENINGITES BACTERIANAS (QUADROS MAIS GRAVES)
Sintomas:
- Febre alta
- Mal-estar
- Vômitos
- Dor forte de cabeça e no pescoço
- Dificuldade para encostar o queixo no peito
- Manchas vermelhas espalhadas pelo corpo
- Nos bebês, a moleira fica elevada.
Tratamento:
- Uso de antibióticos aplicados na veia do paciente. Isso precisa acontecer com agilidade para evitar complicações e sequelas.
Já as meningites causadas por fungos ou pelo bacilo da tuberculose, como informa o Ministério da Saúde, exigem tratamento prolongado à base de antibióticos e quimioterápicos por via oral ou aplicados na veia.
Formas graves da meningite
Valderi Júnior alerta sobre a rapidez com que a doença pode atingir os pacientes e causar a necessidade de acompanhamento em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Além disso, em alguns casos a evolução da meningite pode causar a morte em poucas horas.
Conforme a faixa-etária, a irritabilidade, a região da moleira ficando alta, vômitos e convulsões são sinais de alerta. "A criança não consegue encostar o queixo no peito", destaca sobre um dos sintomas.
"Tem uma característica muito forte da dor de cabeça, que a gente chama de cefaleia holocraniana, que pega a cabeça inteira da criança", exemplifica.
Entre 2018 e 2022, dos 1.458 casos confirmados de meningite, 136 (9,33%) causaram morte, conforme a Secretaria da Saúde. Mesmo com a redução dos casos, a taxa de letalidade se manteve estável no último ano.