Quase 500 árvores em avenida de Fortaleza são derrubadas para obras do VLT; veja imagens

Projeto prevê a construção de duas novas estações que ligarão o Aeroporto de Fortaleza e o Castelão em até seis minutos.

Escrito por
Paulo Roberto Maciel* producaodiario@svm.com.br
Imagem comparativa de uma calçada e uma pista de trânsito em construção na cidade, destacando melhorias na infraestrutura urbana para maior segurança e mobilidade urbana.
Legenda: Projeto interditou a Alberto Craveiro para a construção da Estação Castelão, que utiliza a malha de trilhos ao nível do trânsito.
Foto: Reprodução/Eraldo Sá/Kid Jr.

A Avenida Alberto Craveiro, no bairro Dias Macêdo, em Fortaleza, está menos verde. Devido às obras da Estação CEU, do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), 491 árvores foram removidas do local, sendo a maioria das espécies ipê-amarelo e ipê-rosa.

Recentemente, moradores da região e coletivos ambientas notaram que as centenas de árvores que faziam parte da paisagem local foram derrubadas, dando espaço para tapumes, equipamentos de construção e uma grande faixa de terra.

Segundo a Secretaria da Infraestrutura do Estado do Ceará (Seinfra), devido à necessidade de utilizar o canteiro central para a construção da estação, as árvores suprimidas não retornarão ao local.

Essa ação é resultado do avanço das obras da nova linha do VLT que pretende ligar o Aeroporto de Fortaleza até a Arena Castelão, por um trecho de 5,1 km e construir duas novas estações: Estação CEU (Condomínio Espiritual Uirapuru) e Estação Castelão.

Questionada pela reportagem, Seinfra que a supressão das árvores estava prevista no projeto, e foi autorizada pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). "A obra possui licença ambiental vigente desde o início das intervenções, em setembro deste ano", afirmou a pasta, em nota à reportagem.

3.573 mudas
de espécies nativas serão instaladas em outro espaço, como compensação pela perda na avenida Alberto Craveiro, explicou a Pasta.

O local escolhido para plantar as árvores foi o bairro Jangurussu, mais especificamente no Transecto Rua Catolé, no Polígono Complexo Residencial Sítio São João, no Polígono Principal Sítio São João e em Areninhas localizadas na região.

Essa decisão, segundo a Seinfra, segue norma ambiental e recomendação da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma).

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Impactos para a cidade

Para Francisco Rérisson Carvalho Correia Máximo, arquiteto, urbanista e professor do Instituto Federal do Ceará (IFCE), a derrubada de árvores em vias de grande locomoção, como a avenida Alberto Craveiro, torna a vida das pessoas que passam por esses trechos "mais difícil".

"Existe uma falsa contradição entre a cidade e o meio ambiente. Esses dois conceitos não podem ser antagônicos, porque as cidades ainda fazem parte de um grande meio ambiente. É preciso pensar estratégias de intervenção humana que levem em consideração o impacto na vegetação", alerta o professor.

Ainda segundo o especialista, Fortaleza é historicamente conhecida como uma cidade quente, caracterizada por ser a única capital brasileira litorânea inserida no bioma semiárido. Portanto, quanto mais árvores e outras plantas são desmatadas, mais o clima da cidade permanece com altas temperaturas.

Obras de construção e melhorias na infraestrutura de uma estrada urbana, com terra e brita sendo movimentadas, possível recuperação de vias urbanas.
Legenda: O prazo para o fim das obras é em 2027, segundo a Seinfra.
Foto: Kid Jr.

Além das questões climáticas, Francisco também cita outras consequências, como a perca da biodiversidade, a diminuição de áreas verdes, e a transformação paisagística.

A supressão vegetal vai causando impactos que a gente não consegue mensurar de forma imediata, mas que vai transformando as condições de vida na cidade de maneira negativa, para todos os habitantes. É preciso que Fortaleza também olhe para essa questão, protegendo os parques, as trilhas, as pequenas florestas e consolidando esses locais como espaços de lazer.
Francisco Rérisson Máximo
Arquiteto e urbanista

O professor acrescenta que é no planejamento urbano onde é possível encontrar estratégias que diminuam os efeitos negativos da interferência humana no meio-ambiente.

"É preciso ter um plano de arborização urbana, tanto no sentido da manutenção, mas também na ampliação das áreas verdes. Temos tido cada vez mais uma relação de negação desse elemento natural como algo importante para o ambiente urbano. Para o futuro, isso vai precisar ser revisto", finalizou.

Ciclofaixa também passou por mudanças

Outra mudança também presente na interdição da avenida Alberto Craveiro foi a retirada da ciclofaixa presente no canteiro central. Agora, ela está divida em duas, localizada nos dois sentidos da via. Para fazer isso, foi necessário liberar as faixas exclusivas de ônibus para todos os veículos.

Na nota enviada ao Diário do Nordeste, a Seinfra informou que a ciclofaixa foi ampliada para ficar com 3 metros de largura, um a mais do que na antiga disposição, e que ela agora está isolada por tapumes, para proteger os ciclistas.

"O projeto de realocação da ciclofaixa foi aprovado pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), entidade que também definirá a localização definitiva da ciclofaixa após o término da obra, prevista para 2027", complementou a Pasta.

Imagem de uma via urbanizada em construção, com múltiplas faixas de trânsito, árvores ao lado e um céu parcialmente nublado, em uma área de cidade.
Legenda: Vista aérea da área interditada na avenida Alberto Craveiro. A ciclofaixa, em seus dois sentidos, está ao lado do canteiro, protegida por tapumes.
Foto: Erivaldo Veira/Divulgação/Seinfra.

Mesmo assim, ciclistas que costumam frequentar o trecho se dizem insatisfeitos com as alterações. O ambientalista Eraldo Sá percorre o local semanalmente de bicicleta, e já sente o abalo da falta das árvores durante os passeios.

"Como ciclista urbano que adotou a mobilidade ativa há uns dez anos, é lamentável a falta de respeito com relação ao nosso verde. Quem se locomove em seu conforto do ar condicionado em veículo motorizado não sente o impacto da perda crescente da cobertura verde na cidade", desabafa.

Mateus Barboza também não está feliz com os rumos tomados na Alberto Craveiro. O ciclista e estudante de Arquitetura e Urbanismo lembra que as árvores foram plantadas há menos de dez anos. Ou seja, ainda estavam em desenvolvimento, e que apenas atualmente estavam fornecendo sombra aos ciclistas.

"A gente luta para que mais ciclovias tenham arborização, ciclofaixas, enfim, que atualmente não possuem nenhum tipo de tratamento. E as que tem, a gente está destruindo. É muito triste, comentar sobre esse episódio", diz.

Como está a obra do VLT Aeroporto/Castelão?

Iniciada em setembro deste ano, a obra para a instalação da nova linha do VLT de Fortaleza está em fase embrionária. Conforme dados públicos, divulgados pelo governo do Estado, apenas 4% da execução física está completa. O investimento total é previsto em R$ 181 milhões.

O ramal permitirá que os passageiros acessem o Aeroporto e a Arena Castelão em apenas seis minutos entre eles. Essa medida busca beneficiar, principalmente, turistas que desembarcam na Capital para acompanhar eventos esportivos e de entretenimento.

Quando em operação, o trecho terá capacidade para transportar cerca de 35 mil pessoas por dia. A Estação Aeroporto também está diretamente conectada com a Estação Expedicionários. Assim, será possível se deslocar, de forma prática, entre a Arena Castelão e bairros como Parangaba, Montese, Aldeota, Papicu e Mucuripe.

*Estagiário sob supervisão da jornalista Dahiana Araújo

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