Reforma da Praça do Ferreira troca grama natural por sintética
Material artificial substitui grama natural em trechos de área verde; especialista explica efeitos no conforto térmico e na permeabilidade.
Trechos da área verde da Praça do Ferreira, no centro de Fortaleza, passaram a utilizar grama sintética após a requalificação do espaço, entregue no último dia 26 de novembro. A substituição do material natural não constava no projeto original da reforma.
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) afirmou que a escolha foi adotada “para garantir maior durabilidade, praticidade na manutenção e melhor aproveitamento do espaço pelos frequentadores”.
A Pasta destacou ainda o plantio de 26 novas árvores de espécies como Palmeira Imperial, Ipê-roxo, Pau-brasil, Oiti e Palmeira Real Australiana, que devem ampliar a sombra e melhorar o conforto térmico à medida que se desenvolvem.
Impactos no conforto térmico e no solo
Questionado se a mudança traz efeitos, o arquiteto e urbanista Lucas Rozzoline, que conselheiro federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) pelo Ceará, explicou que a grama natural exerce funções ambientais importantes, como a absorção de água, troca térmica e amenização do calor, serviços que o material sintético não desempenha.
Segundo ele, a grama sintética, por ser feita de plástico, absorve mais calor e contribui para o aumento da temperatura da superfície.
Do ponto de vista térmico, é como cobrir o chão com lonas de plástico. Ela retém calor e não realiza trocas ambientais como uma vegetação natural faria, afirma Lucas.
Rozzoline acrescenta que as 26 novas árvores só devem surtir efeito significativo no microclima quando atingirem porte adulto. “Enquanto não produzem sombra suficiente, o impacto no conforto térmico é praticamente nulo. Isso pode levar pelo menos cinco anos”, explica.
De acordo com o arquiteto, a permeabilidade do solo também é afetada. Ainda que perfurada, a grama sintética não infiltra água da mesma forma que um gramado natural, o que influencia a drenagem em uma área já bastante pavimentada.
Uso adequado da grama sintética
O urbanista destaca que o uso da grama artificial é mais comum em áreas esportivas ou locais de alto desgaste, como campos de futebol, onde uniformidade e resistência são prioridades.
Em praças históricas, afirma, existem soluções mais adequadas. Para ele, poderia ter sido feito um sistema de irrigação subterrâneo por debaixo da grama, por meio de gotejamento.
Com o uso de grama sintética e o porte reduzido das novas árvores, Rozzoline projeta que o ambiente deve permanecer mais quente no período inicial.
Obra de requalificação
Entregue em parceria entre Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, a requalificação da Praça do Ferreira recebeu investimento de R$ 8 milhões e inclui:
- substituição completa do piso;
- instalação de travessias elevadas;
- requalificação dos passeios com foco em acessibilidade;
- novos quiosques;
- reforma da fonte da Coluna da Hora;
- instalação de paraciclos.
Durante a entrega, o prefeito Evandro Leitão (PT) afirmou que a intervenção marca “o início do resgate do Centro”, com próximas ações previstas para a Praça da Bandeira, Passeio Público e Rua Senador Pompeu.
Confira nota completa da Seinf
"A Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) informa que a utilização de grama sintética na Praça do Ferreira foi adotada como solução para garantir maior durabilidade, praticidade na manutenção e melhor aproveitamento do espaço pelos frequentadores.
O projeto também foi responsável pelo plantio de 26 novas árvores de diversas espécies, como Palmeira Imperial, Ipê-roxo, Pau-brasil, Oiti, Palmeira Real Australiana, entre outras, que contribuem para o conforto térmico da área, oferecendo mais sombra e melhor qualidade ambiental".
*Estagiária sob supervisão da jornalista Dahiana Araújo.