Clube de leitura em escola do CE inspirou alunos a lerem dezenas de livros em 2025

Duas das alunas entrevistadas afirmaram terem lido mais de 30 livros neste ano.

Escrito por
Paulo Roberto Maciel* paulo.maciel@svm.com.br
Grupo de pessoas participando de uma reunião ou oficina em sala de aula, com cadeiras dispostas em círculo e documentos na mão
Legenda: Além dos encontros dentro da escola, o Clube já se reuniu em museus por Fortaleza para incentivar os alunos a pensar nas diferentes formas de criar arte
Foto: Reprodução.

"Um leitor vive mil vidas antes de morrer". Essa é a frase que encerra um vídeo produzido por estudantes de uma escola pública do bairro Conjunto Esperança, em Fortaleza, sobre quantos livros eles leram durante este ano, e quais foram os títulos preferidos.

A brincadeira foi compartilhada nas redes sociais da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Profª Adélia Brasil Feijó no último dia 17 de dezembro. Ao todo, participaram doze estudantes e três professoras. O diferencial do vídeo, no entanto, está no grande número de romances contabilizados pelos adolescentes.

Duas das alunas entrevistadas no vídeo afirmaram terem lido mais de 30 livros neste ano. Dentre os vários títulos, se destacaram "Desaparecido para sempre", de Harlan Coben, e "A Droga do Amor", de Pedro Bandeira, "A Metamorfose", de Franz Kafka, e "A Bailarina Fantasma", da cearense Socorro Acioli.

Já a lista da maioria dos participantes foi mais modesta, mas ainda expressiva: cerca de 17 títulos finalizados até dezembro.

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Sucesso com os livros é fruto de uma ação escolar

A escola atribuiu o alto número de exemplares lidos ao clube de leitura desenvolvido na unidade. Esse projeto foi criado no início do ano com o intuito de expandir o processo de aprendizagem dos alunos por meio da leitura, indo além da sala de aula.

Ao Diário do Nordeste, a professora Ana Natália Duarte Lima, uma das organizadoras do clube, explicou que a iniciativa surgiu quando ela e as colegas Idelsuite Duarte Lima e Emilu de Sousa Lobo perceberam o interesse de alguns estudantes em expandirem ainda mais a prática da leitura.

"Parte dos alunos tinha o costume da ler, mas ainda era muito pouco. Então veio a ideia de levar alguns livros para debate em sala de aula para ver se eles se interessavam. Quando isso aconteceu, criamos os encontros do clube para conversar com os alunos sobre esses livros, e incentivar eles a ler esses títulos", comentou.

Grupo de profissionais de saúde e educadores reunidos em uma mesa, discutindo projetos sociais e trabalhando para empoderar mulheres e jovens na comunidade.
Legenda: Participam do Clube de Leitura cerca de 18 estudantes do 1º do Ensino Médio
Foto: Reprodução.

Natália compartilhou que as leituras iniciais eram simples, como contos, crônicas e quadrinhos. Depois, ela apresentou mais opções de leitura, sempre seguindo o que os estudantes diziam que queriam ler.

"Como professora de língua portuguesa, eu observo que há uma necessidade de que os alunos comecem a ler pelos clássicos, o que é importante. Só que aí eu chego a conclusão que, para quem não gosta de ler, começar por um livro que tem uma capacidade mais difícil de entendimento pode limitar o gosto dela pela leitura", disse.

A gente sempre buscou, por todos os meios, tentar atualizar o acervo da biblioteca, por mais que seja difícil. Já recebemos doações dos alunos, das famílias e até de outras escolas. Esse ano, uma professora chegou a comprar livros em sebos e fazer essas doações, justamente para que a gente possa dar conta dessa demanda de livros atuais.
Ana Natália Duarte Lima
Professora e organizadora do clube de leitura

A educadora também conta que foi uma "satisfação" perceber que a persistência dela gerou efeitos positivos nos alunos. Ela cita como exemplo o caso de um estudante que, por conta das atividades do projeto, já sabe o que quer fazer quando terminar a escola.

"Tem o caso desse aluno que nem gostava de ler, mas participou de um encontro sobre 'A Metamorfose' e ficou admirado. Ele disse: 'Eu já li ele em quadrinhos!'. Ou seja, dali em diante ele tomou esse livro como o livro dele, um livro especial. Até que ele chegou depois e me disse que queria ser professor de literatura", relembrou.

Acesso à leitura ainda é um problema no Brasil

Em média, os alunos do clube de leitura da EEMTI Profª Adélia Brasil Feijó leram 18 livros no ano. Esse número já é maior que a média nacional de leitura.

Segundo a edição mais recente da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", publicada em 2024 pelo Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), o brasileiro lê até dois livros por ano, contando leitores e não leitores.

O levantamento também aponta que as escolas estão se tornando lugares onde a leitura não é mais um ponto de referência. Conforme os dados, em 2024, somente 19% dos entrevistados citaram o espaço escolar como ideal para a leitura. Esse foi o menor índice já registrado na história da pesquisa.

Grupo de pessoas participando de uma reunião ou oficina em sala de aula, com cadeiras dispostas em círculo e documentos na mão
Legenda: O relatório indica que o número de leitores no Brasil diminuiu de 100 milhões em 2019 para 93 milhões em 2024
Foto: Reprodução

Mesmo diante desse cenário, especialistas defendem que há espaço para o estímulo à leitura. "Através de iniciativas como os clubes de leitura, os jovens aprendem a compartilhar os aprendizados, criar um sentimento de pertencimento e formar vínculos com os colegas", aponta a psicopedagoga Luciana Bem, em entrevista à reportagem.

"Ler é essencial para o desenvolvimento da vida. O jovem que lê consegue formar uma identidade própria como cidadão, além de se sentir parte de algo maior do que ele próprio. A leitura também forma o pensamento crítico e fundamenta as bases para a nossa interpretação de mundo", complementa.

Embora defenda o livre acesso à leitura no Brasil, a profissional entende que há barreiras ainda difíceis de se ultrapassar. Entre os principais desafios, ela cita o encarecimento dos livros, e as distrações tecnologias que as crianças e adolescentes enfrentam atualmente.

Por fim, Luciana destaca que a escrita também precisa fazer parte da formação social dos mais jovens. "Quem vivencia a leitura também desperta a necessidade de escrever, porque encontra a vontade de se expressar a partir das próprias experiências de vida. O contato com os livros possibilita tudo isso, pois são uma janela de possibilidades", finaliza.

Abrir espaço para a prática da escrita está nos planos do clube de leitura da EEMTI Adélia Brasil Feijó para o próximo ano, conforme detalha a professora Ana Natália.

Ela também adianta a criação do primeiro sarau da escola. "O plano é fazer eles conhecerem a poesia e estimular a produção criativa deles. Os alunos estão sempre buscando alguma forma de se expressar, então tentamos permitir com que qualquer forma de arte seja válida", encerra.

*Estagiário sob observação da jornalista Dahiana Araújo

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