Quer ler mais em 2025? Especialista dá dicas e escritores cearenses sugerem livros para você investir na leitura
Entre as dicas, estão sempre levar um livro na mochila ou na bolsa, visitar mais livrarias e bibliotecas e se atentar ao prefácio ou à orelha das obras
Se tem uma meta boa de repetir a cada ano é ler mais livros. Além de fortalecer a concentração, o conhecimento e até promover conexões interpessoais, a prática oferece novas perspectivas de vida e pode transformar a realidade. Em clima de começo de ano, o Verso conversou com gente especializada no assunto para que 2025 seja de muitas leituras.
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Idealizador da Biblioteca Viva, no bairro Barroso, em Fortaleza, Raphael Montag elenca dicas valiosas para quem deseja dar o pontapé literário ou retomar a prática de estar entre livros. Segundo ele, pesquisar relatos de pessoas sobre o que estão lendo e investir, num primeiro momento, em histórias mais curtas podem ser boas saídas.
Abaixo, veja as dicas de Raphael e veja como ajustar sua rotina para que as sugestões realmente funcionem e promovam boas mudanças no cotidiano.
Frequente lugares com livros
Visite uma biblioteca ou uma livraria em que se você se sente bem e percorra as estantes em busca de algo que te agrade. Já dizia Shiyali Ramamrita Ranganathan: “Todo livro tem seu leitor”. Você, sem dúvidas, encontrará o que mais lhe agrada o coração.
Leia o prefácio ou a orelha das obras
Quando bater o olho em algum livro interessante, tire um tempo para conhecer a proposta dele. Leia um pouco as primeiras páginas, se possível – muitas vezes, já somos fisgados nelas. Com o caminho pavimentado, será fácil saber se o livro será para você ou não.
Procure livros de contos ou crônicas
Por serem histórias curtas, é mais fácil se habituar a lê-las – você pode até mesmo ler somente as que preferir em determinada obra. Esta dica é ótima sobretudo para quem tem pouco tempo no cotidiano e, mesmo assim, não quer deixar a literatura de lado.
Acompanhe quem está lendo
Ao encontrar um bom livro, você provavelmente experimentará uma espécie de desligamento do mundo ao redor. É natural quando a história nos fisga. Pesquise, então, relatos de pessoas sobre o que elas estão lendo ou assim que terminaram um livro. Será uma boa experiência compartilhar ou verificar impressões. De todo modo, o segredo está em como você se sente ao terminar uma boa leitura. A experiência é única.
Leve com você
Levar um livro consigo – um de bolso pode ajudar – é um ótimo meio de manter frequente o hábito de leitura. Se você porta um celular sempre, é porque te ensinaram ou você se convenceu disso. A mesma coisa pode acontecer com o livro: tê-lo à mão pode te ajudar a preencher aquele tempo ocioso na hora do lanche ou durante uma viagem de trabalho.
Livros para ler em 2025
Diante das dicas de Raphael, nada como você também saber os livros imperdíveis para iniciar a maratona literária, sim? Quem estará com a gente nessa jornada são escritores e escritoras cearenses com maior destaque na seara editorial de 2024. À própria maneira, eles recomendam aquilo que certamente fará sua vida leitora mais dinâmica e especial.
Marília Lovatel
Neste ano, Marília se destacou em duas importantes honrarias. Uma deles foi o Prêmio da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ), na qual foi finalista com a obra “Grãos de Paisagens”, da Editora Anzol, selo editorial da SM Educação.
Outra alegria foi a conquista do Prêmio Barco a Vapor, um dos maiores dedicados à literatura infantil no Brasil, pela obra “Salvaterra - Breve Romance de Coragem”. O livro infantojuvenil aborda a preservação do meio ambiente a partir da história de uma menina que luta em prol da natureza na Ilha de Marajó (PA).
A escritora cearense recomenda os seguintes livros para 2025:
- “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves: “Em 2024, inspirou o desfile da Portela. Leitura essencial para entender o Brasil, as nossas mazelas, e para insuflar em nós a esperança em um país mais justo”;
- “Água de Barrela”, de Eliana Alves Cruz: “É comovente. Uma sensível narrativa do cotidiano das mulheres negras ao longo de três séculos de história. Considero o sucessor de ‘Um defeito de cor’, de Ana Maria Gonçalves. Para lavar, passar, enxaguar e quarar a alma de quem lê”;
- “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak: “É como ouvir das árvores, dos animais, dos rios, do solo, do ar, verdades que nos ecoam por dentro e mobilizam para uma existência de menos exploração e de mais respeito com os seres, o planeta, nós mesmos”;
- “Longe da água”, de Michel Laub: “Impressiona pela densidade e aparente leveza. A narrativa em estilo rondó retoma diversas vezes a mesma cena, sempre acrescentada. E surpreende”;
- “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez: “Vale a leitura e a releitura. Sugiro conhecer Macondo e os Buendía primeiro nas páginas do livro e depois ampliar a experiência com a série lançada pela Netflix, em 2024”.
Stênio Gardel
O cearense Stênio Gardel foi outro que colheu bons louros em 2024 por meio da literatura. Com o romance de estreia “A Palavra que Resta”, ele foi semifinalista do Prêmio Jabuti, o maior da seara editorial brasileira; anunciou adaptação da obra para o cinema; viu o livro ser adaptado para o teatro; e foi indicado a um prêmio internacional da Irlanda.
Além disso, pela Companhia das Letras, ele publicou “Bento Vento Tempo”, uma narrativa sensível e belamente ilustrada por Nelson Cruz sobre um menino, o avô dele e a grande aventura que os dois vivem juntos.
Stênio recomenda os seguintes livros para 2025:
- “Escalavra”, de Marcelino Freire: “Novo livro do escritor com linguagem poética e cortante”;
- “Condições ideais de navegação para iniciantes”, de Natália Borges Polesso: “As profundezas das relações e intimidades nesse novo livro de contos de Natália Borges Polesso”;
- “Crônica da casa assassinada”, de Lúcio Cardoso: “Os segredos e a decadência de uma família em um clássico brasileiro às vezes esquecido”;
- “Nadando no Escuro”, de Tomasz Jedrowski: “Tocante relacionamento gay na Polônia da Guerra Fria”;
- “Absalão, Absalão”, de William Faulkner: “William Faulkner e toda sua maestria no fazer literário, da construção das vozes narrativas à revelação final. Indispensável”.
Lorena Portela
A publicação de “O Amor e sua Fome” pela editora Todavia alçou Lorena Portela a novos horizontes em 2024. Este segundo romance da escritora cearense residente em Londres – após o aclamado “Primeiro eu tive que morrer” – chegou de modo ainda mais forte no público e aumentou o raio de alcance da literatura de Lorena.
Com capa assinada por Tereza Dequinta, do coletivo Acidum Project, o livro narra a história de Dora, criada sem a mãe por um pai entregue à apatia. Ela divide os dias no interior do Ceará com Esmê, e a relação com essa prima inseparável reservará grandes momentos na vida de ambas. Fortaleza foi rota de lançamento da obra que ganhou o mundo.
Lorena recomenda os seguintes livros para 2025:
- “A Cabeça do Santo”, de Socorro Acioli: “O primeiro romance de nossa conterrânea é daqueles certeiros: leitura curta, cativante, inventiva, perfeita para quem precisa de incentivos para ler mais”;
- Qualquer um de Agatha Christie: “Histórias de crime e suspense sempre me prendem na cadeira, e li muito a escritora britânica na adolescência. Não dava pra parar”;
- “Capitães da Areia”, de Jorge Amado: “Um clássico de Jorge Amado e talvez meu preferido dele. Não é um tema super fácil, mas é tão irresistível quanto inesquecível”;
- Coleção Para Gostar de Ler: “Essa tem que garimpar em sites como Estante Virtual ou e-books, mas o nome já diz tudo, vale a pena qualquer exemplar da coletânea. Grandes nomes da literatura brasileira num compilado que é puro frescor, gostoso demais;
- “Pessoas Normais”, de Sally Rooney: “Acho um livro com cara de férias, daqueles que se lê na praia, na piscina, na redinha da varanda. Meu preferido da Sally Rooney e que rendeu uma série de TV maravilhosa também”.
Dalgo Silva
Nascido em Tabatinga, distrito maranguapense, Dalgo Silva surpreendeu e foi um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2024 na categoria Escritor Estreante. O livro que o levou à conquista – “Meu amor é político”, publicado pela Cepe Editora – é uma ode à Língua Portuguesa aprendida pelo cearense com a própria mãe.
A obra apresenta o cotidiano do jovem poeta, mergulhando em temas como homofobia, conflitos de classe, violência, desigualdades, racismo e misoginia. Psicólogo por formação, Dalgo já prepara o próximo livro enquanto sente a vida e a carreira ganharem novas camadas a cada dia a partir do incrível feito realizado em 2024.
Dalgo recomenda os seguintes livros para 2025:
- “Tudo sobre o amor”, de bell hooks: “‘O amor é o que o amor faz’”. Esta é uma das frases que te atravessam o peito quando você decide caminhar com bell hooks neste livro, que funcionou para mim como uma espécie de oração e celebração ao corajoso ato de amar e deixar-se ser amado(a). Em dias que parecem inóspitos para o amor como ação, o livro aparece como um território esperançoso para as várias nuances amorosas”;
- “Chupim”, de Itamar Vieira Junior: “Primeiro livro infantil do consagrado autor de ‘Torto Arado’, Chupim reacendeu meu antigo encantamento com a literatura infantojuvenil. Neste livro, acompanhamos Julim em um cenário de desigualdades sociais, trabalho infantil e de relação com a natureza e fazemos os mesmos questionamentos da criança diante da ave indesejável, que ele e outras crianças têm que espantar das plantações de arroz em que seus pais labutam”;
- “Neca”, de Amara Moira: “Romance escrito inteiramente em pajubá, linguagem usada popularmente por pessoas LGBTQIAPN+. Neste livro, somos conduzidos(as) por uma travesti que revisita a própria trajetória. A escrita em pajubá – ou bajubá, como escreve a autora – potencializou minha relação com a literatura e me ajudou a habitar um mundo sensível, divertido e comovente. Um livro para quem gosta de boas histórias e dos múltiplos caminhos que nossa língua aprendeu a inventar”;
- “O estrangeiro”, Albert Camus: “É o livro que leio todos os anos. Não pelo fato de ser curto, mas por ser aquele que sempre me ajuda a fazer novas perguntas, que me deixa ‘estrangeiro’ na vida e me faz questionar o mais banal dos atos. Mersault, narrador-personagem, inicia a narrativa dizendo que a mãe morreu e ele não lembra se foi hoje ou ontem. Seguimos com Mersault sem muitas certezas, mas com um desejo imenso de nos agarrarmos ao ínfimo para não perecermos totalmente”;
- “Um buraco com meu nome”, de Jarid Arraes: “‘Um livro deve ser um machado que quebra o mar gelado em nós’, lembra-nos Franz Kafka. Jarid Arraes diz que só escreve o que rasga a sua carne. Gosto de ficar entre Kafka e Jarid: busco ler o que quebra minha frieza e o que rasga a minha carne. Este livro de poemas é um machado que me lembra que a poesia pode ser feita para abrir a vida e denunciar os buracos que são feitos nela”.
Julie Oliveira
Patrimônio cultural brasileiro, o cordel rompeu os limites do país em 2024 e chegou à Europa com toda a graça e inteligência nordestinas por meio de nomes como o de Julie Oliveira. Ela e os também cordelistas Patrick Lima e Izabel Nascimento foram nossos representantes na VI Conferência Internacional, realizada na Universidade de Leiden, Holanda.
Na ocasião, Julie apresentou artigo fruto da pesquisa do Mestrado, o qual contribui com a discussão sobre o lugar das mulheres no cordel e apresenta, de forma prática, a força dos coletivos feitos somente por elas. “Afinal, não há – ou não haverá – democracia real num mundo onde as mulheres ainda são oprimidas”, disse a poeta.
Julie recomenda os seguintes livros para 2025:
- “Livro sem nome", de Paulo Henrique Passos: "Minha primeira leitura do ano, e sem dúvidas a obra mais intrigante e “fora da caixa”. Um livro sobre o silêncio, memória e assombros. Um enigma envolvente pra quem assim como eu, gosta de “dar um susto no cérebro";
- “Harry Potter e o Cactus Patronum”, de Patrick Lima: "Um cordel divertidíssimo que entrega muito mais que uma “adaptação regional”, representando a inauguração do gênero “cordel geek”, dentro do folheto popular. Uma leitura ideal para apresentar nossas crianças e jovens à magia do cordel brasileiro"
- “A ficção dos calendários”, de Beatriz Caldas: "Beatriz é uma das poetas cearenses que mais consegue me prender com sua escrita. Há sempre algo muito intenso e humano nos seus versos. Nesta obra, cada poema é uma conversa frontal com o tempo";
- “Na memória do corpo”, de Mika Andrade: "Um erotismo pulsante. Cada página tem cheiro, suor, tesão e uma infinidade de delírios expressos numa escrita forte e quente. Uma leitura pra quem quer se sentir queimar";
- “YBY KÛATIARA – Um Livro de Terra”, de Ellen Lima Wassu: "Uma chance de aprender e desaprender através de poemas de amor a terra, mas também de lutas, de guerras ainda necessárias. Um misto de deleite e inquietação, um chamado a retomar o que nos foi saqueado".