Projeto com Inteligência Artificial pode identificar uso irregular de água nos reservatórios do CE
Os usuários estão ligados, principalmente, à irrigação, carcinicultura e indústrias e quase 6 mil estão com os dados atualizados
Um projeto criado em parceria entre a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e Universidade Estadual do Ceará (Uece), que usa Inteligência Artificial, pode evitar o uso irregular de água bruta no Ceará – retirada diretamente dos reservatórios – extraída sobretudo para irrigação, carcinicultura (criação de camarões) e de forma industrial. Para isso, a tecnologia precisa de dados que ainda estão sendo coletados com o cadastro e a atualização dos usuários de água.
A solução tecnológica deve ser usada no “Sistema de Alerta para Detecção Diária de Uso Irregular de Recursos Hídricos” que, na prática, pode identificar o uso da água por pessoas sem cadastro por meio de imagens de satélite. A Gerência de Outorga e Fiscalização da Cogerh informou, em nota, que a tecnologia é aplicada em uma área prioritária nas regiões do Médio e do Baixo Jaguaribe, onde há uso intenso de irrigação e carcinicultura.
Isso deve abranger os reservatórios monitorados pela Cogerh, além de poços, rios e riachos e outros reservatórios com o desenvolvimento pleno do sistema e de seus ajustes e aprendizado pelo algoritimo. A proposta foi apresentada no painel "Impactos das Mudanças Climáticas no Ceará" da Superintendência Estadual da Agência Brasileira de Inteligência (Sece/Abin), na última semana.
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"O que estamos trabalhando agora é na sua efetivação de modo automatizado e sistematizado com a utilização de IA – inteligência artificial. A metodologia de identificação dos alertas foi gerada e desenvolvida dentro da Cogerh, agora aproveitando a expertise dos nossos técnicos e uma pesquisa de ‘pos-doctor’, em parceria com a UFC/DEHA - Departamento de Engenharia Hidráulica e do Programa 'Cientista Chefe' do Governo do Estado do Ceará", detalhou a gerência.
Serão usadas imagens de satélite de alta resolução com revisitas diárias sobre o mesmo ponto, o cruzamento de banco de dados espaciais da COGERH/SRH, de outorgas e licenças, informações do CAR – cadastro rural do Incra, Cadastro do Idace, geolocalização de poços da Sohidra e CPRM, bases de informações do IBGE e possivelmente os dados de localização de usuários de consumidores de energia.
Além disso, a Gerência de Outorga e Fiscalização da Cogerh acrescentou que estão sendo levantados em campo amostras de uso regulares e irregulares com a utilização de GPS e drones para que as assinaturas espectrais sejam informadas ao sistema/algoritmos. "Esse passo é muito importante para a automatização mais precisa e efetiva, ou seja, objetivando o acerto mais consolidado para o sistema ser automatizado", frisou.
Mapeamento dos usuários
Essa iniciativa faz parte do pós-doutorado do analista Silvio Morais, analista de Recursos Hídricos da Cogerh e professor na Uece. O projeto é desenvolvido em meio ao processo de regularização dos usuários cearenses que já alcançou 5.846 cadastros atualizados em um ano.
Esse é uma espécie de ‘censo’ dos usuários de água bruta, iniciada em novembro de 2022 com financiamento do Banco Mundial. Até o momento, 1.626 cadastros foram feitos entre quem já usava a água sem autorização.
Os cadastros e regularizações devem se estender até junho de 2024, quando as 12 bacias hidrográficas forem mapeadas, para a conclusão do banco de dados. A partir desse momento poderá ser aplicada a tecnologia que deve funcionar como um sistema de alerta.
As águas brutas são aquelas que não passam por tratamento para consumo humano retiradas diretamente de açudes e poços, por exemplo, e, nesse caso, atendem usuários a partir de 5 hectares. O maior controle do uso desse recurso tem relevância ampliada com a possibilidade de seca no Ceará.
"Estamos tentando fazer com que isso seja feito por meio de inteligência artificial e vamos cruzar os dados do Idace (Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará)", explica Silvio.
"Nós já levantamos as áreas irrigadas e estamos tentando estimar a quantidade de água consumida nessas áreas, cruzando o banco de dados de Idace com o da Cogerh para ver quem são os usuários cadastrados e quais não estão", detalha o analista.
Para isso, a Inteligência Artificial deve usar imagens de satélite e um grupo da Engenharia Hidráulica da Universidade Federal do Ceará (UFC) deve contribuir com a produção de um algoritmo.
Cadastro dos usuários
Os novos usuários com cadastro feito neste ano são das bacias Acaraú e Coreaú, Serra da Ibiapaba e Sertões de Crateús, Salgado e Alto Jaguaribe e Médio e Baixo Jaguaribe. Em cada região hidrográfica, com 2 bacias em cada, o tempo de coleta é de 4 meses.
Em dezembro deve ser concluída a região hidrográfica do Médio e Baixo Jaguaribe e no próximo ano será mapeada a região das bacias metropolitanas de Banabuiú e Região Hidrográfica do Curu e o Litoral.
Veja as localidades com maior número de usuários:
- Salgado e Alto Jaguaribe: 2.528
- Médio e Baixo Jaguaribe: 1.416
- Serra da Ibiapaba e Sertões de Cratéus: 1.285
- Acaraú e Coreaú: 617
Marcílio Caetano, gerente de Outorga e Fiscalização da Cogerh, explica que além de fazer os pedidos de autorização para o uso da água, a intenção da identificação dos usuários é conhecer as demandas pelo uso da água.
“Com base nessas informações, a gente vai poder operar os reservatórios conhecendo mais de perto, de forma mais atualizada, a demanda que está instalada nos vales perenizados”, acrescenta Marcílio.
O projeto trouxe uma inovação que é a isenção da taxa de recolhimento de análise do pedido de outorga, durante a execução do projeto da bacia, o nosso sistema está atualizado e automatizado de forma que o usuário facilmente consegue solicitar a outorga pela internet
O gerente detalha que a maior demanda está centralizada no Médio e no Baixo Jaguaribe. “O índice de cobertura na Região Metropolitana é o melhor que tem, tem muita demanda conhecida, cadastrada e outorgada, para abastecimento humano e das indústrias, todas são regularizadas”, conclui.