Pesar e apreensão: como Aratuba, cidade serrana do CE, vive após mortes trágicas e sem precedentes

No município de 12 mil habitantes, a equipe do Diário do Nordeste ouviu relatos reiterados de que as vítimas “eram conhecidas” praticamente por toda a população

Escrito por Nícolas Paulino e Thatiany Nascimento , ceara@svm.com.br
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Legenda: As vítimas da tragédia, Antônia Samara, de 21 anos, João Gabriel Santos Martins, de 2 anos e 4 meses, e Antônio Guilherme, de 8 anos, foram enterradas na sexta-feira.
Foto: Fabiane de Paula

Uma cidade serrana pequena em luto no Ceará. Abatida pela tragédia sem precedentes no município, na qual casas desabaram e três vítimas (uma jovem e duas crianças) morreram soterradas na última quinta-feira (16), Aratuba, no Maciço de Baturité, segue apreensiva.

O cenário de alerta une: chuvas intensas, moradias em áreas elevadas próximas a barrancos e riscos de novos deslizamentos. Assim o município, localizado há 140 km de Fortaleza, tem vivenciado os últimos dias. 

A tensão e o horror diante das mortes na quinta-feira (16) comoveu os moradores. Na sexta-feira (17), a cidade paralisou. Velar os mortos e enterrá-los ainda em meio ao cenário de famílias desalojadas, casas interditadas e perigos iminentes.

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Foto: Fabiane de Paula

A necessidade de esforços por parte da Prefeitura e do Governo do Estado para mapear, de fato, todas as áreas de risco e atuar para evitar que novas tragédias ocorram, se intensifica. 

As vítimas são Antônia Samara Santos da Silva, de 21 anos, João Gabriel Santos Martins, de 2 anos e 4 meses, e Antônio Guilherme Martins Soares, de 8 anos. Outras três pessoas ficaram feridas. Entre elas, uma recém-nascida com menos de um mês de vida, socorrida ao ao Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza. 

Na cidade de cerca de 12 mil habitantes - conforme estimativas do IBGE -  a equipe do Diário do Nordeste testemunhou e ouviu relatos reiterados de que, dado o tamanho do município, as vítimas “eram conhecidas” praticamente por toda a população. 

As perdas mobilizaram moradores até de municípios próximos. No cemitério, a cidade parou para homenagear as vidas perdidas em uma situação tão assustadora.  

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Legenda: Na quinta-feira, quando ocorreu o deslizamento por volta das 12h, caía sobre Aratuba uma precipitação intensa.
Foto: Fabiane de Paula

Avanço das construções

Aliado ao clima de pesar, a pequena população segue também apreensiva diante das incertezas sobre o que ainda pode acontecer no município que, embora pequeno, cresce com certa rapidez sobre a serra. A evidência: construções avançando pelas áreas mais altas. Circular na cidade é deparar-se com inúmeras casas edificadas à beira de barrancos. 

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Legenda: Áreas foram cobertas com lona para evitar novos deslizamentos
Foto: Fabiane de Paula

Na hora da ocorrência, o agricultor Francisco Jario, marido de Samara, foi atingido pela força do deslizamento. “Senti aquela coisa estranha. As bananeiras caindo. Ela foi colocar ele (João Gabriel) para dormir. Quando vi a casa desmoronou e juntou com bananeira, tudo, e a pressão do vento me jogou do outro lado”. 

No dia que ficará marcado pela catástrofe e sofrimento, Jario testemunhou atordoado, a casa em que morou por 32 anos ruir e soterrar a esposa e o filho. “Nunca tinha acontecido” algo assim na região, garante ele. A construção de casas em pontos mais altos na área, explica Jario, pode ter contribuído com o desastre. 

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Legenda: Área em que houve o desabamento
Foto: Fabiane de Paula

Possibilidade de mais chuva

Na quinta-feira, quando ocorreu o deslizamento por volta das 12h, caía sobre Aratuba uma precipitação intensa. O acumulado de chuvas concentrado entre 12h e 13h15min de 54mm, e durante 24h o total de 74mm, segundo informado pela Prefeitura com base em um relatório da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). 

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Legenda: A pequena cidade serrana vive um cenário de famílias desalojadas, casas interditadas e perigos iminentes.
Foto: Fabiane de Paula

Neste fim de semana, em Aratuba, há perigo de chuvas intensas (com precipitações de 100 milímetros e ventos de até 100 km/h), como aponta um aviso do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). 

A Prefeitura garante que a Defesa Civil Municipal e a Estadual, bem como o Corpo de Bombeiros seguirão na cidade realizando os trabalhos preventivos e diagnósticos. 

Até sexta-feira (17), a situação era a seguinte: 

  • 3 pessoas mortas
  • 3 vítimas feridas
  • 15 residências familiares foram desalojadas;
  • Dessas 15, 2 duas casas totalmente destruídas e 13 interditadas com risco iminente de colapso; 
  • 45 pessoas abrigadas em hotéis da cidade, ou aluguel social 

“É preciso verificar outras áreas”, reforça o prefeito Joerly Rodrigues. De acordo com ele, a tragédia das mortes em decorrência da chuva “é a primeira vez que isso acontece na cidade. Não tem histórico”. Diante da ocorrência sem precedentes, ele reconhece: “o levantamento das áreas de risco que a Prefeitura tem é muito genérico. Não era tão detalhado”. 

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Legenda: Moradores foram desalojas devido aos riscos de desabamento
Foto: Fabiane de Paula

Na Rua do Mussum, na área próxima em que as casas desabaram, conta ele, “as outras famílias deixaram as casas sem problema algum”. Já na parte mais alta da rua, “há mais resistência”. 

No trabalho realizado na sexta-feira (17), o Corpo de Bombeiros verificou outra região na qual ocorreu também deslizamento: uma área na Rua Sebastião Monteiro. Mas segundo o prefeito, só havia bananeiras e terra no local. 

Decreto de emergência

Diante da situação, a Prefeitura decretou estado de emergência por 90 dias e o governador do Estado, Elmano de Freitas, em visita ao local, garantiu trabalhar para homologar o decreto o mais rápido possível. 

O Governo do Estado garante que foram enviadas equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), incluindo a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Ceará (Cedec); da Polícia Militar do Ceará (PMCE); e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). 

Caso o Governo Federal reconheça a emergência em Aratuba, o município em estado de emergência terá acesso a recursos federais de forma mais fácil e ágil e pode também fazer compras emergenciais sem licitação. 

 

 

 

 

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