Governo não deve 'devolver' hospital para a PM até garantir continuidade de serviços, recomendam MPCE e MPF
Com sede em Fortaleza, o Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar operava como o Hospital Central da Polícia Militar até 2011, quando saiu do comando da corporação e passou para a estrutura organizacional da Sesa
![Fachada do HMJMA](/image/contentid/policy:1.3611170:1738088783/WhatsApp%20Image%202025-01-28%20at%2015.26.16.jpeg?f=16x9&h=574&w=1020&$p$f$h$w=cc76197)
O Ministério Público do Ceará (MPCE) e o Ministério Público Federal (MPF) recomendam à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) não "devolver" o Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA) à Polícia Militar até o Governo garantir a plena continuidade dos procedimentos, exames e consultas prestados atualmente pela unidade.
A intenção de transferir o hospital com sede em Fortaleza para a corporação militar foi comentada no ano passado pelo governador Elmano de Freitas (PT). Em solenidade de posse de oficiais, o gestor afirmou que a devolução ocorreria até o encerramento de sua gestão à frente do Executivo e que negociações já estariam, inclusive, em andamento.
Contudo, no documento que recomenda a não transferência, assinado nessa segunda-feira (27) pela promotora de Justiça Ana Cláudia Uchoa de Albuquerque Carneiro, pela promotora de Justiça auxiliar Ana Karine Serra Leopercio e pelo procurador da República Alessander Wilckson Cabral Sales, o MPCE e o MPF exigem que nenhuma mudança seja feita sem aprovação do Conselho Estadual de Saúde (Cesau) e que o Governo comunique e justifique toda e qualquer retirada de material ou equipamento da unidade.
A Sesa tem até dez dias para responder os questionamentos feitos pelo Ministério Público. Caso descumpra a recomendação, a pasta pode ser alvo de medidas judiciais e extrajudiciais, incluindo o ajuizamento de Ação Civil Pública para obrigação de fazer e/ou Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa.
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, a pasta informou que foi notificada pelos órgãos nesta terça-feira (28) e que dará retorno "em tempo hábil". A reportagem também contatou a Casa Civil, a Polícia Militar e a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para repercutir o assunto e aguarda retorno.
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Histórico do hospital
Fundado em 1939, o Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA) operava como o Hospital Central da Polícia Militar. A unidade passou a atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 1993, o que a levou à classificação de "média complexidade", e, em 2004, foi habilitada e regulamentada pelo Ministério da Saúde.
Só em 2011, o hospital foi incluído na estrutura organizacional da Sesa e passou a se chamar HMJMA, focando na atuação em obstetrícia e neonatologia, clínica médica e clínica cirúrgica.
Atualmente, a unidade é considerada "de retaguarda" e tem projetos "em andamento", conforme o site da Sesa, para ser regularizada como de atendimento terciário, ou seja, de alta complexidade.
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Capacidade de atendimento
No documento enviado à Sesa, o MPCE e o MPF argumentam que a capacidade de atendimento do hospital saiu de menos de 300 cirurgias ao ano, entre 2008 e 2011, quando estava sob o comando da Polícia Militar, para cerca de 4 mil cirurgias realizadas em 2023, sob o guarda-chuva da Saúde.
O HMJMA é um equipamento de nível secundário essencial da rede pública de saúde, prestando atendimento a pacientes de todo o Estado, incluindo leitos de retaguarda para o Hospital Geral de Fortaleza [HGF] e o Hospital César Cals, além de exercer a função de instituição de ensino, recebendo internos e residentes de especialidades diversificadas."
Os órgãos também ressaltaram a capacidade de assistência hospitalar para além do campo cirúrgico, com atendimento a 2 mil pacientes só na maternidade, ano passado, e com a oferta de serviços como endoscopia, colonoscopia, histeroscopia, laringoscopia, retossigmoidoscopia, imagem, fisioterapia, laboratório, pediatria, ensino e pesquisa, totalizando mais de 230 mil procedimentos em 2024.
Dada essa dimensão, o Ministério Público considera que a "devolução" da unidade para a Polícia Militar acarretará "graves prejuízos" aos pacientes atendidos pelo SUS, se não houver a garantia de atendimento equivalente em outro hospital da rede pública estadual.