Estudante cearense em universidade dos EUA é aprovado em seleção para o Google

Participação em olimpíadas educativas e uma bolsa de estudos foram os primeiros passos

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Cearense atua no desenvolvimento de produtos para uso interno do Google
Foto: Acervo pessoal

Davi despertava antes do Sol nascer, enfrentava vários ônibus e foi assaltado duas vezes durante o período do Ensino Médio, realizado numa escola privada de Fortaleza. Em retrospecto, o cearense valoriza a trajetória até a aprovação em Ciência da Computação na Universidade Northwestern, nos EUA, e o estágio no Google.

Davi Maciel, atualmente com 22 anos, está no último ano da graduação – feita com bolsa integral dos custos de matrícula e de alimentação – e começou a trabalhar na gigante da tecnologia ainda no ano passado, em Nova Iorque, e agora atua na Califórnia.

"No meu segundo ano da faculdade, eu me candidatei para estágios de engenharia de software na Microsoft, Amazon e Google. Também passei na Amazon, mas escolhi um cargo no Google”, detalha sobre as primeiras experiências profissionais fora do País.

Veja também

"Eu estou trabalhando num time interno, algo experimental, estamos tentando criar novos produtos para uso do Google", completa. A nova realidade inspira amigos e familiares, criando uma perspectiva até então inimaginável. De Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, para o Mundo.

"A Educação mudou a minha vida, a vida da minha família, e muitas oportunidades foram criadas através dos estudos. Tive que batalhar bastante, mas eu consegui muitas conquistas e sou muito grato por todo o apoio que recebi", aponta.

Esse “apoio”, inclusive, veio da mãe que não o deixava ir sozinho para aulas extras, dos professores que ofereceram cursos de preparação para olimpíadas estudantis e do projeto Primeira Chance no qual são disponibilizadas bolsas de estudos.

Quero começar minha carreira como engenheiro de software, aprender o que significa ser um bom profissional. No futuro, com experiência, quero liderar times na área da tecnologia e usar isso para trazer impacto na vida das pessoas
Davi Maciel
Estudante

Coleção de medalhas

O início do percurso de Davi tomou gosto por ser o “aluno nota 10”, com todas as atividades de casa em dia e o boletim de dar orgulho. No 6º ano do Ensino Fundamental, foi apresentado à Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).

"Eu consegui uma menção honrosa e fiquei muito feliz com esse resultado, porque foi a minha primeira conquista à nível nacional e isso me motivou a estudar mais", lembra. De forma autônoma, o estudante começou a adiantar o conteúdo de matemática do livro da escola e voltou a disputar a Obmep.

"No ano seguinte, eu consegui uma medalha de prata, que foi um resultado incrível para mim e até para a escola. Eles colocaram um cartaz na entrada me parabenizando", detalha. A partir de então, não parou mais. "Devido ao meu resultado, eu fui convidado a participar de um programa de iniciação científica, que basicamente coloca os medalhistas juntos para ter aulas aos sábados e foi uma oportunidade muito boa para mim”, reflete.

As aulas eram mais aprofundadas e a turma compartilhava o mesmo objetivo: ser destaque em olimpíadas. "Pela primeira vez, eu estava tendo aula num lugar com boa infraestrutura, foi a primeira vez que eu estudei numa sala com ar-condicionado."

Davi era sempre acompanhado pela mãe que o “esperava lá o dia inteiro para, de noite, pegarmos mais ônibus", diz ao reconhecer o esforço. Outra oportunidade de curso temporário surgiu numa escola privada e as aulas se estendiam até às 21h. 

"Eu fui assaltado em uma dessas voltas, perdi minha mochila com minhas anotações, lista de exercícios, mas eu não desisti. Continuei indo para as aulas, mesmo com medo, porque eu estava pensando na oportunidade de conseguir uma bolsa de estudos, o que na época, era o meu maior objetivo.”

Mas como o caminho também é cheio de “nãos”, Davi ficou não conseguiu a bolsa de cara. Sem aulas de redação, a aprovação ficou difícil. Perto de concluir o Ensino Fundamental, numa premiação de olimpíada, recebeu um convite para um curso de férias.

Legenda: Estudante passou a viver uma nova realidade fora do País
Foto: Acervo pessoal

"Eu, imediatamente, aceitei a oportunidade e comecei a fazer um grande esforço. Eu acordava às 4h30, pegava o ônibus, ia para a sede no Centro de Fortaleza e de lá íamos para uma sede em outro lugar da cidade", detalha.

Foi quando descobriu o Primeira Chance, foi entrevistado e conseguiu uma vaga, em setembro de 2016. Mais medalhas chegaram e, entre elas, o tão sonhado ouro na 4ª participação da Obmep.

"O começo foi muito desafiador porque eu tive de fazer muitas provas que eu tinha perdido e que os outros estudantes já tinham feito. Eu tive que, basicamente, aprender todo o conteúdo que a galera via desde o retorno das férias", reflete.

Mudança de rota

Com a vaga no Ensino Médio garantida, o objetivo passou a ser aprovação no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). "Eu sabia que a turma ITA tinha o nível de matemática, física e química lá em cima. Eu não tinha muita base de Física na época, então, pensando em não perder a bolsa, eu peguei emprestado o livro que a gente ia usar e fiquei estudando nas férias", considera.

Davi passou a participar também de olimpíadas ibero-americana de física, conseguindo ouro, em 2017, na disputa em El Salvador. Também garantiu a prata na olimpíada internacional da área

Nas minhas estimativas, eu dediquei cerca de 4.600 horas estudando Física no Ensino Médio, resolvi mais de 60 mil problemas, umas 50 provas anteriores como simulado e uns 12 livros de nível universitário
Davi Maciel
Estudante

A participação na disputa internacional abriu a mente do estudante. "No final do meu 3º ano, tomei a decisão de tentar fazer o processo seletivo para universidades americanas, o que era uma ideia que eu pensava no Ensino Médio por ver outros estudantes da escola e do Primeira Chance."

Ao terminar os estudos, passou a estudar inglês e ser acompanhado numa mentoria para estudantes brasileiros que tentam graduação fora do País. Foram 10 candidaturas, em dezembro de 2020, e aprovação em três delas. 

"Quando eu terminei o primeiro ano da faculdade, eu voltei para o Brasil para trabalhar numa empresa, fiz estágio como engenheiro de software virtual para um escritório de São Paulo", pontua.

Ainda fora do Brasil, consegue ver o impacto das próprias decisões. “Minha irmã se inspirou na minha trajetória e conseguiu bolsa, agora está estudando para o ITA para ser engenheira civil”, conclui.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados