É rojão, minha santa! Sobre o esgotamento de quem luta

São muitas as pautas que diariamente invadem o noticiário e requerem um olhar do ativismo pelos Direitos Humanos, nos exigindo uma dose a mais de energia

Escrito por
Dediane Souza ceara@svm.com.br
(Atualizado às 14:35)
Legenda: É necessário refletirmos sobre o processo do esgotamento físico e mental de quem luta por direitos humanos no Brasil
Foto: Paula Pinto/Agência Brasil

Olha, a travesti está exausta! É o crescimento da ultradireita nos Estados Unidos, é o avanço dos grupos conservadores no Congresso brasileiro, é a escolha do novo líder da igreja católica... São muitas as pautas que diariamente invadem o noticiário e requerem um olhar do ativismo pelos Direitos Humanos, nos exigindo uma dose a mais de energia.

Precisamos estudar, apresentar um posicionamento, construir estratégias políticas e lidar com as consequências desse jogo, tudo isso enquanto o feijão cozinha, os boletos chegam e a novela passa na TV. Particularmente, me sinto afetada pela sobrecarga de demandas do ativismo e penso que é necessário refletirmos sobre o processo do esgotamento físico e mental de quem luta por direitos humanos no Brasil. 

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A esta altura você já percebeu que me incluo nesse “povo dos Direitos Humanos”, nessa galera que teima em encontrar um “nós” na indignação cotidiana e que busca dias melhores para as nossas coletividades. Hoje, a partir dos movimentos LGBTI+ e negro, minha percepção é de que precisarmos fortalecer as musculaturas e – principalmente – de muitas sessões de terapia para encarar as lutas que futuro nos reserva, porque o jogo segue desequilibrado.
 
Os movimentos sociais que reivindicam uma vida mais digna e se organizam a partir de suas bases territoriais têm enfrentado há tempos as grandes instituições, o poder político constituído e as grandes potências econômicas mundiais.

O fato de sempre ter sido uma luta desigual não minimiza o pensamento de que “tá babado”, como falamos entre nós.

Sem contar que todas as pautas de cidadania parecem ter entrado numa frenética disputa por visibilidade e sobrevivência em tempos de efêmera mobilização social e de cooptação político-institucional dos quadros de luta, aí é cada grito que a gente tem que dar, minha irmã.

Peço que não confundam o desabafo com desesperança, tratamos de outra coisa. É que estou convencida de que, para falar de ativismo em direitos humanos, também há de ter espaço para falarmos sobre o cansaço, sobre o cuidado urgente das pessoas que seguem nas trincheiras de luta por dias melhores.

Estamos exaustas, mas também estamos vivas e vigilantes. Cuidem(os) de nós!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.