Escrever sobre humanidades plurais é pensar sobre cidadania e direitos de travestis e transexuais
Passados quase oito anos desde o assassinato de Dandara, uma pesquisa ganha agora a forma de livro, que será lançado nesta segunda-feira (16)
Em 2017, O assassinato cruel de Dandara em Fortaleza repercutiu na imprensa internacional, pautando um intenso debate sobre transfobia e políticas públicas para LGBTI+. Dandara não foi a primeira e infelizmente não foi a última pessoa trans cuja vida foi covardemente ceifada no Ceará, mas a inédita produção midiática sobre o caso me trouxe algumas inquietações: quais narrativas foram produzidas pelos veículos de comunicação acerca do caso? Qual a repercussão dessas publicações no debate mais amplo sobre os assassinatos de travestis?
Foi buscando responder a tais perguntas que defendi uma dissertação de mestrado em 2022, no Programa Associado de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Ceará e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Passados quase 8 anos desde o assassinato de Dandara, a pesquisa ganha agora a forma de livro, que será lançado nesta segunda-feira (16).
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“Dando o nome”: Narrativa de Humanidade de travestis integra a coleção Flecha (Editora da UFC), que reúne outras quatro obras e celebra os 70 anos da Universidade Federal do Ceará. Neste livro abordo o combate à travestifobia no Ceará a partir de uma análise das notícias publicadas na imprensa acerca do assassinato de travestis em Fortaleza, especialmente no que se refere à produção jornalística sobre o caso de Dandara.
É uma alegria aprofundar o debate público sobre a travestifobia através de uma publicação e a coluna de hoje é um convite a quem possa se interessar pelo tema, por uma produção de conhecimento em primeira pessoa, forjada entre as sociabilidades das ruas, da Universidade e do ativismo por direitos. Não o faço para “me mostrar”, mas por entender a importância da partilha como um exercício de encorajamento aos meus pares, à minha “irmandade travesti”, tornando visível a possibilidade de fissurar as estruturas cisheteronormativa, inclusive no mercado editorial.
Tomar a sério e com detalhes os processos de organização das travestis no Brasil é fundamental para refletir sobre a situacionalidade e o papel dessas sujeitas organizadas para fazer frente ao debate de respeito e de inclusão; consolidar lideranças que acumularam experiências no campo da educação não formal para pautar questões importantes no marco do ativismo, como referência ao tempo da cidadania é fundamental para a luta por Direitos Humanos como nos ensinam as mais “velhas” do movimento nacional de travestis, a exemplo de Jovanna Cardoso e Keila Simpson.
O movimento social de direitos humanos de travestis e transexuais no Brasil é um espaço de construção coletiva de saberes e de proposição de políticas públicas importantes para a construção de uma sociedade do respeito e do reconhecimento de outras possibilidades de vivências que não sejam as conhecidas pelo Ocidente e impostas como únicas possibilidades de sexualidades e de identidades.
Escrever sobre humanidades plurais é uma estratégia para pensar (e lutar) sobre cidadania e direitos humanos de travestis e transexuais e essa tarefa é coletiva. Se puder, compareça ao lançamento, leia uma travesti. Thina Rodrigues nos ensinou que a luta tem que continuar.
Serviço
Seminário Enxergar o Futuro – Lançamento da Coleção Flecha Data: 16 de dezembro de 2024
Local: Auditório da Reitoria da UFC (Av. da Universidade, nº 2853 – Benfica)
Horário: 16h
Gratuito