Eixão, Ramal, Malha e Cinturão das Águas: entenda o que são e como abastecem o Ceará

Investimentos buscam diversificar a captação e distribuição dos recursos hídricos por todas as regiões

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
Foto da paisagem com o canal do Cinturão das Águas com fundo de áreas verdes e caminhão na lateral
Legenda: Parte já em funcionamento do Cinturão das Águas ajuda a transpor Rio São Francisco ao Castanhão
Foto: Antonio Rodrigues

Abastecer um Estado com quase 9 milhões de habitantes distribuídos em 184 cidades, num clima semiárido e após um longo período de seca, não é tarefa fácil. Por isso, o Ceará vem buscando diversificar, através de grandes empreendimentos, a distribuição de água para garantir a segurança hídrica de todos os territórios. 

Somados, os investimentos atuais ultrapassam cerca de R$10 bilhões, segundo o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), Fernando Santana. Em conversa com o Diário do Nordeste, ele detalhou o andamento das maiores obras da atualidade na área: Eixão das Águas, Cinturão das Águas, Malha D’Água e Ramal do Salgado.

De forma integrada, quando esse sistema está em pleno funcionamento, as águas do Rio São Francisco chegam até o açude Castanhão, o maior do Estado, via Cinturão das Águas (e futuramente via Ramal do Salgado); e de lá, por meio do Eixão, seguem até a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). 

Apesar da importância dessas obras, a construção de novas etapas depende da captação de financiamentos. Por isso, lembra o secretário, o Governo se compromete com a qualidade das entregas para “servirem de exemplo” e o Banco Mundial, por exemplo, “veja que estão funcionando”.

O conjunto de obras, observa ele, visa a “ter água em abundância para que a gente não entre mais no risco de colapsar como já entramos em anos atrás”. Entre 2012 e 2018, o Ceará vivenciou seis anos de seca, o pior período de sua história. 

Veja também

Entenda abaixo como cada obra hídrica funciona:

Cinturão das Águas

Mapa do Cinturão das Águas do Ceará (CAC)
Legenda: Cinturão das Águas deve facilitar o transporte de água na região do Cariri cearense
Foto: SRH

Ao sul do Ceará, na região do Cariri, está a construção do Cinturão das Águas (CAC), hoje com execução em 86%. A estrutura abastecida pelo Eixo Norte do Projeto da Transposição do Rio São Francisco (Pisf), por meio da barragem de Jati, terá 145 km de extensão, compreendendo segmentos de canal a céu aberto, túneis e sifões.

Ele foi dimensionado para uma vazão de 30 m³/s (30 mil litros por segundo) e concebido para viabilizar maior capilaridade das vazões transpostas, ou seja, distribuir mais facilmente as águas do Velho Chico pelo interior cearense.

O Cinturão já faz a transposição de água para o Riacho Seco, saindo do leito natural até o Rio Salgado, Rio Jaguaribe e por fim, o Castanhão, mas também servirá para transportar a água da barragem Jati, no município de mesmo nome, até as nascentes do Rio Cariús, no município de Nova Olinda, na região do Alto Jaguaribe.

Na prática, o CAC leva a água do Projeto São Francisco a todos os municípios da bacia do Rio Salgado e aumenta a disponibilidade hídrica para múltiplos usos - consumo humano, pecuária, agricultura, indústria, etc. - na região do Cariri.

Fernando Santana afirma que a previsão de entrega da estrutura é junho de 2026. O investimento total é de R$2,4 bilhões, com estimativa de beneficiar cerca de 800 mil pessoas. 

Ramal do Salgado

Outra importante obra para a garantia da segurança hídrica no Ceará é o Ramal do Salgado, também parte do Pisf. Com 35 km de extensão, ele sai do km 30 do Trecho IV (Ramal do Apodi), na divisa entre Ceará e Paraíba, e tem atualmente 10,45% de execução.

Com capacidade de vazão de 20 m³/s (20 mil litros por segundo), o Ramal promete mais eficiência para abastecer o Castanhão, que pode atender Fortaleza e sua Região Metropolitana. 

Mapa do Ramal do Salgado interligado ao sistema de água do Ceará
Legenda: Ramal do Salgado (em verde) deve encurtar caminho das águas do São Francisco ao Castanhão
Foto: SRH

Atualmente, a água que chega ao Castanhão precisa atravessar quase 200 km de extensão via Cinturão das Águas. Contudo, por meio do novo Ramal, a água deve chegar mais rapidamente, “economizando” cerca de 150 km do percurso das águas.

Segundo o Governo do Estado, o equipamento deve ser entregue em 2027 e beneficiar mais de 5 milhões de cearenses, em 54 municípios. A estrutura conta com mais de R$ 622 milhões investidos pelo Governo Federal.

Eixão das Águas

Falando em Castanhão, outra obra que se relaciona com o gigante cearense é a duplicação do Eixão das Águas, um grande canal de 256km que liga o açude à região de Fortaleza. Ao todo, ele deve alcançar 27 municípios e impactar mais de quatro milhões de pessoas.

Com a duplicação, a capacidade de adução passará de 11 m³/s para 22 m³/s (22 mil litros por segundo) e, consequentemente, aumentará a oferta de água do Castanhão para a RMF e para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

No caminho, o canal também atende três distritos industriais (Maracanaú, Horizonte e Pacajus) e os distritos de irrigação Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas. O investimento na duplicação é de R$1,2 bilhão, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mapa do Eixão das Águas do Ceará saindo do Castanhão até a Região de Fortaleza
Legenda: Mapa do Eixão das Águas do Ceará
Foto: SRH

O Eixão das Águas “original” foi construído entre 2003 e 2014, com metade da vazão permitida (3 bombas), o que era suficiente para a época. Com o aumento da demanda, a duplicação instalará mais três grupos de motobombas na estação de bombeamento e a segunda linha de tubulação em aço carbono.

Só usamos água do Castanhão quando os reservatórios que se avizinham a Fortaleza não têm a capacidade de abastecer. Há anos não usamos, mas se preciso for, teremos essa capacidade dobrada do Eixão. Com a duplicação, não teremos problemas de abastecimento por muitos anos à frente.
Fernando Santana
Secretário dos Recursos Hídricos do Ceará

A previsão é que os primeiros dois lotes da obra sejam concluídos em dois anos, no segundo semestre de 2026.

Foto aérea do canal do Eixão das Águas chega ao açude Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza; obra busca duplicar transporte
Legenda: Canal do Eixão das Águas chega ao açude Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Cid Barbosa

Malha D’Água

Por fim, o Projeto Malha D’Água busca maior abrangência e garantir água tratada para 179 cidades do Ceará. O objetivo é implantar sistemas adutores de água em mananciais de maior garantia hídrica, com a implantação das estações de tratamento anexas para enviar água já tratada aos núcleos urbanos integrados ao sistema.

Com isso, busca-se uma maior eficiência na gestão dos reservatórios, com a diminuição das perdas na perenização dos rios por meio da evaporação ou infiltração no solo.

Originalmente, ele foi planejado para ser implantado durante 25 anos, de 2016 a 2041. O desenho é ousado: criar 35 Sistemas Adutores Principais, com 4,3 mil km de linhas adutoras e 305 Estações de Bombeamento.

Mapa do projeto Malha D'Água em todas as áreas do Ceará
Legenda: Malha D'Água busca a implantação de 35 sistemas em todo o Ceará
Foto: SRH

No entanto, o sistema piloto só foi inaugurado na última quarta-feira (18). Trata-se do Banabuiú-Sertão Central, que atenderá 9 cidades e 38 distritos - incluindo o município de Milhã, que corre risco de colapso hídrico nos próximos meses. Ao todo, foram investidos R$643 milhões.

“Não há nada mais inovador, nada de mais moderno nesse momento, do que o Malha D’Água no Estado do Ceará. É da mais alta tecnologia”, pensa Santana.

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