Conheça a escritora do CE que aos 10 anos é embaixadora de biblioteca nos EUA: 'aprendi a ler aos 4'
Leitura na infância estimula a criatividade e o desenvolvimento da imaginação, além de resgatar conexões pessoais
Stella Torelli, ou apenas Stellinha, simulava ler obras infantis antes mesmo de aprender a decodificar as letras, o que, inclusive, aconteceu cedo: aos 4 anos. O mundo lúdico, traduzido na fala da menina, se concretiza nas conquistas literárias. Stella teve o primeiro livro publicado aos 7 anos no Ceará e se tornou embaixadora de biblioteca nos EUA.
No Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado nesta terça-feira (18), o Diário do Nordeste apresenta a pequena contadora de histórias de 10 anos. A data foi instituída pela Lei Nº 10.402, de 2002, para homenagear Monteiro Lobato, que nasceu em 18 de abril de 1882.
O escritor, aliás, aparece em segundo lugar na lista dos livros preferidos de Stella. “São primeiro os meus”, admite com uma risada sapeca. “Depois os livros dele e da Clarice Lispector”, conclui a menina, que está no 5º ano do Ensino Fundamental.
Veja também
O “Memórias de Emília” cria uma identificação com a pequena. “Gosto muito da Emília porque é muito sincera, fala tudo que pensa. Eu gosto de aventuras e quanto mais eu leio, mais tenho vontade de escrever”, completa. E assim foi.
Com o caderninho “de princesas” e um lápis, a menina fez aquilo próprio dos escritores: colocou sentimentos em palavras. Naquele momento, ela estava com saudade da coelhinha de estimação, que ficou em Goiás depois da vinda da família para Fortaleza, em 2019.
“Eu tive a ideia de escrever, peguei um caderninho e lápis, comecei a escrever tudo que eu imaginava e criei várias histórias. Tive inspirações de outras que eu já tinha lido, muitas coisas mirabolantes. E quando vi, ponto final, li para os meus pais e fiquei muito feliz”.
Assim surgiu o livro “A Coelhinha Aninha” que passou a ser tema de transmissões nas redes sociais durante o isolamento social por causa da Covid. Em uma delas, um grupo de leitura fez um anúncio que apenas os pais da menina sabiam.
Os escritos foram ilustrados e formatados num livro. “Quando eu vi o nome do livro e ‘autora Stella’ dei um grito. Eu era escritora”, conta sobre o momento em que soube da surpresa.
Aprendi a ler com 4 anos por influência dos meus pais e com um jogo que formava sílabas. Quando fui ver já conseguia ler direitinho e fiquei muito feliz porque era o meu sonho.
Embaixadora de biblioteca
Com tanta desenvoltura, a menina se tornou Embaixadora da Biblioteca Lib-Boston, que tem um acervo de livros em português nos Estados Unidos. Em meio à participação de eventos literários, a menina recebeu o convite para integrar a equipe da biblioteca internacional.
“Eu faço contações de histórias e as crianças assistem. Também tínhamos um projeto de arrecadar 1.000 livros para a biblioteca (Lib-Boston) e nós conseguimos”, comemora sobre as atividades internacionais.
Stella já lançou o segundo livro, “Laços de Amizade”, e participa de 3 coletâneas com outros autores.
“Era o meu sonho fazer o lançamento, com autógrafos, mas devido a pandemia não teve como. Quero fazer lançamentos dos meus próximos livros e já estou com um no forno”, adianta a menina que já sabe até criar expectativa entre os leitores.
Leituras de Stella
A pequena escritora foi inspirada pelas histórias que ouvia antes de dormir e passou a ficar imersa nos livros e na escrita. Ainda pequena, os passeios eram por livrarias e prateleiras de livros coloridos.
“Ouvia a Chapeuzinho Vermelho e modificava um pouco a história, queria que ela fosse amiga do lobo e os meus pais deixavam”, detalha. Após a saudade da coelhinha, Stella usou a escrita também para contar uma experiência pessoal em “Laços de Amizade”.
“Fala de uma menina chamada Lúcia que adorava ler e brincar com a suas bonecas, que no caso sou eu. Ela não tinha muitos amigos na vizinhança e quando passou a ir para escola fez muitos amigos”, conta.
E os benefícios da leitura na infância acontecem no estímulo à criatividade e desenvolvimento da imaginação como analisa, Cleudene Aragão, professora do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
“Nós vivemos sempre contando histórias, descrevendo coisas, refletindo sobre nossos sentimentos, e a Literatura fomenta essas habilidades”, resume. A leitura, inclusive, resgata uma conexão importante de sociabilização.
Os pais vivem hoje um grande desafio: recuperar os afetos e as conexões pessoais, em detrimento da sedutora oferta do mundo digital. Isso só se faz com tempo de qualidade e com a decisão (nem sempre possível para todas as famílias brasileiras) de fomentar o encontro com a leitura desde o berço e pelo acesso a livros e ofertas culturais.
Por isso, o tema passa por políticas públicas para formação de leitores e leitoras, com apoio à criação literária, ampliação de bibliotecas e apoio à mediação de leitura. “Felizmente nosso País está voltando a construir isso com o renascimento do Ministério e sua Secretaria de Formação, Livro e Leitura”, analisa.