Sobre amor, família e empatia: os livros essenciais para o Dia das Crianças escritos por cearenses

Voltadas para todas as idades, obras revelam uma literatura cada vez mais sensível aos apelos e necessidades dos pequenos, com temáticas indispensáveis

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Literatura cearense é uma ótima opção de presente no Dia das Crianças e além da data
Foto: Shutterstock

Se não costuma presentear com livros no Dia das Crianças, repense o gesto. É maneira bonita de aproximar os pequenos das letras e do mundo. A literatura cearense, com grandes títulos no segmento, segue cada vez mais pulsante ao investir em temáticas fundamentais para pensar a infância no século XXI – das alegrias às dores, das descobertas à consciência.

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Aqui está uma lista com obras recentes e essenciais escritas por autoras e autores da terra. A maioria recém-publicados, alguns serão lançados na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE) neste mês dedicado às crianças. 

São eles: “Lillo e seu maior tesouro”, de Roberta Sena; “Anabela - Uma ovelhinha que se achava muito bela”, de Frederico Brito e Thais Evangelista; e “Bingo, o aventureiro”, de Marilena Barbosa de Oliveira.

Confira a seleção com títulos já lançados, todos publicados neste ano:

“A melhor mãe do mundo”, de nina rizzi

Escritora e professora, nina rizzi reúne toda a experiência trilhada na profissão e na vida pessoal neste livro sobre maternidade. Entre as páginas, acompanhamos uma criança que nos apresenta a própria mãe. Ela joga bola, ajuda na lição de casa e está sempre pronta para auxiliar quem precisa. Essa mãe pode até não estar por perto, mas se faz presente da melhor forma possível: com o amor que preenche cada detalhe da relação.

Segundo a autora, “as crianças, muito mais que muitas pessoas adultas, estão super antenadas e livres de tantos preconceitos. Sabem que existem outros jeitos de brincar, de fazer, de amar, de ser mãe e, portanto, de ser filhas e filhos. E eu queria (e quero) muito que as crianças cujas mães estão nessas condições pudessem dizer em alto e bom som: a minha mãe é a melhor mãe do mundo! Assim como queria (e quero) que essas mães possam ouvir que são sim, as melhores mães, independentemente de onde estejam no momento”.

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“Leila” e “Os Invisíveis”, de Tino Freitas

Finalista do prêmio Jabuti, Tino Freitas assina duas recentes obras em colaboração cuja proposta é estreitar o olhar sobre os pequenos. “Leila” é concebido com Thais Beltrame e metaforiza o poder da força vital, do inconsciente e do infinito. A baleia que dá nome ao título é assediada pelo Barão que, contra a sua vontade, a beija, sussurra seduções, pede segredo e ainda corta os cabelos dela. O terror toma conta de seu ser e ela desiste de nadar, mas, ajudada pelos amigos, retoma a própria essência, dando fim às ameaças do agressor. 

Por sua vez, “Os Invisíveis” traz a história de um menino que é o único na família com um superpoder: ele consegue ver os invisíveis. Assim, somos convidados a refletir sobre personagens cotidianas muitas vezes ignoradas pelas pessoas adultas. Um idoso sentado em um banco de praça, a multidão do centro da cidade, pessoas em situação de rua, uma mulher no mercado de trabalho... Conforme o tempo passa, porém, o menino também vai se tornando adulto. O que acontecerá com o poder dele?

“Antonino Peregrino”, de Osvaldo Costa Martins

Escrito por Osvaldo Costa Martins e ilustrado por Luci Sacoleira, “Antonino Peregrino” é uma engenhosa aula de História. As questões implicadas em Canudos, presentes também hoje, são evidenciadas no texto: segregação, tentativa de silenciamento do Nordeste pelo Sudeste, exclusão, concentração de renda, de terra, o racismo, a xenofobia, as mentiras produzidas por certos centros de poder para esvaziar a força popular. Tudo isso está em jogo.

“O Arraial de Belo Monte, fundado por Conselheiro, teve um final trágico, mas a história continua”, garante Osvaldo Costa Martins, natural de Quixeramobim. “Antonino Peregrino” foi um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2019 e ganhou reedição no ano passado.

“O Bicho singular”, de Lia Sanders

Da psiquiatra e professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Lia Sanders, “O Bicho Singular” aborda a busca por nossa singularidade – algo que atravessa a infância, adolescência e, às vezes, torna-se uma constante na vida.

A protagonista tenta de todas as formas se encaixar em uma turma. Para isso, se disfarça de vários animais – jacaré, toupeira, pato, castor – mas todas as tentativas são inúteis. Quando finalmente aceita a própria individualidade, vai descobrir algo surpreendente.

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“Liz e seus amigos, o poder da inclusão”, de Thiago Krening

O livro ilustrado é baseado nos personagens criados por Daniel Brandão e Milene Correia. A edição é adaptada em braille e fonte expandida, integrando um projeto com diversos conteúdos inclusivos – vídeos em libras, contação de histórias, audiodescrição, entre outros.

Em resumo, Liz é uma menina muito esperta e curiosa. Um dia, ela conhece Nico, um novo colega de turma que vê o mundo de forma diferente. Junto com os amigos Juninho e Emylle, Liz e Nico criam um grupo para fazer um trabalho de aula proposto pela professora: contar uma história sobre inclusão. Esse é o começo de uma jornada de muito aprendizado para as crianças. É hora de aprender sobre acessibilidade e respeito pelas diferenças.

“Ester conhece Paulo Freire”, de Alê Oliveira

Mais uma aula de História em brochura – talvez até mais, de Cidadania. “Ester conhece Paulo Freire” nasceu em homenagem a um dos maiores educadores do País e a todos os outros que, feito ele, exercem uma educação dialógica. Nada mais pertinente e atual.

Ester é uma menina com medo de compartilhar ideias com os colegas. Mas a professora Dalva propõe um desafio a ela que vai transformar o mundo da garota. Autora da obra, Alê Oliveira é jornalista, mestre e doutora em Educação, que resolveu transitar do meio acadêmico para o universo infantil após o nascimento do filho Jonas. As ilustrações são assinadas por Cauex Pascoa. 

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“Olhar bem de perto”, de Anna K. Lima

Publisher da Aliás Editora – casa especializada em publicar somente livros escritos por mulheres – Anna K. Lima apresenta às crianças “Olhar bem de perto”. A protagonista é Celita, uma menina muito esperta que tinha problemas para enxergar até que, um dia, recebe um par de óculos como presente da mãe. 

A partir desse momento, a personagem começa a ver o mundo em novas óticas. Ao longo da narrativa, os leitores são confrontados com as descobertas da pequena. Curiosa e arrojada, ela consegue transformar os óculos em um verdadeiro portal para um universo cheio de estímulos. Ilustrações de Milena Fernandes, projeto gráfico de Jéssica Gabrielle Lima e coordenação de Isabel Costa. 

“João e Maria”, de Drycca Freitas

Visando contribuir com a construção de uma cultura de paz, Drycca Freitas propõe uma análise e a reformulação da clássica história criada há 700 anos e repassada oralmente na Idade Média. Reciprocidade, empatia, gratidão, criatividade, reflexão e, principalmente, a não-violência são os temas centrais do novo conto.

“Proponho o estímulo ao desenvolvimento das habilidades emocionais, que auxiliam nossas crianças na criação de relações mais saudáveis e harmoniosas, seja na escola, como também, na sociedade em geral, através do processo de identificação com as situações presentes nessa releitura, que podem espelhar e, ou, modelar, um comportamento mais criativo, empático e pacífico de cada situação vivenciada”, pontua a autora, também atriz e produtora cultural.

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“João e Júlia”, de Léo Mackelenne

Outra duplinha especial de personagens. Agora, a obra narra momentos do cotidiano – os quais geralmente damos pouca importância − em que acontecem diálogos espontâneos entre pais e filhos sobre assuntos diversos. Eles revelam o quão profundos podem ser os aparentemente simples questionamentos de uma criança, seja quando pergunta do significado de uma palavra banal, seja quando chama para brincar no quintal.

Mesmo aí, nessas perguntas repetidas tantas vezes, reside o gérmen da mais profunda filosofia. Conforme escreveu a cearense Argentina Castro, “é um livro, portanto, de filosofia de criança para criança”.

“Uma família musical”, de Maria Amélia Mamede

São três os personagens principais dessa história, artistas reconhecidos no Ceará e todos pertencentes à família Silvino: Izaíra, Francisco e Aparecida. Ao contar a trajetória deles, o livro aborda, de maneira lúdica, temáticas relevantes para a socialização infantil, a exemplo da importância do protagonismo feminino, da igualdade entre raças, da valorização do patrimônio material e imaterial e, principalmente, o despertar do gosto pela leitura.

Com ilustrações de Natália Matos, a obra também confere visibilidade à história da música cearense ao levar às novas gerações o conhecimento da memória do cancioneiro em nosso Estado. Lindo e imperdível.

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“O menino Bernardo”, de Mônica Mota

A proposta de Mônica Mota – escritora natural de Pentecoste, filha de agricultor e neta de professora – é mostrar que a infância deve ser um espaço seguro, colorido e cheio de brincadeiras. Os adultos, assim, precisam assumir a responsabilidade de ouvir e proteger os pequenos. “O menino Bernardo” segue essa linha ao destacar a importância do diálogo entre gerações, ensinando estratégias de autoproteção. 

Em resumo, na obra conhecemos a vida de uma criança cadeirante que gosta muito de estar com os amigos. As brincadeiras sempre incluem Bernardo e a cadeira de rodas vermelhas dele. “Menino Bernardo” traz o alerta para a pouca atenção dada às pessoas com deficiência. 

“Minha infância na pandemia”, do projeto comunitário Sorriso da Criança

Extremamente atual, este livro é resultado de uma construção coletiva de escrita do projeto CulturArte Viva, sonhado em 2019, gestado em 2021 e que virou realidade em 2022. 

Como o próprio título sugere, o leitor poderá conferir uma seleção de textos sobre a vivência de crianças durante a pandemia de Covid-19, enfocando nos olhares, escutas, sentimentos e narrativas escritas e desenhadas de cada uma delas.

“O menino que despertou”, de Paola Tôrres

A proposta da obra é recontar a procura de um jovem príncipe que a tudo renuncia e se torna um mestre. Até hoje, ele vive no íntimo dos próprios sucessores e sucessoras. O que faz dele alguém tão importante? Que ensinamentos repassou e que perduram tanto?

As perguntas são respondidas – e outras lançadas – pela médica e multiartista Paola Tôrres. Também professora de Medicina da Universidade de Fortaleza e da Universidade Federal do Ceará, é idealizadora da Cordelteca da Unifor e presta um esmerado serviço de cuidado das pessoas e potencialização da arte.

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