Circulação de febre oropouche continua no CE e no Brasil e preocupa órgãos de saúde; veja onde há casos
Transmissão da arbovirose no Estado se restringe ao Maciço de Baturité e tem sido monitorada pela Secretaria da Saúde
A cada início de ano, a transmissão de doenças sazonais e típicas de período chuvoso no Ceará, como a dengue, já é esperada. Em 2025, porém, outra arbovirose deve ser monitorada de perto pelas autoridades de saúde locais: a febre oropouche.
O primeiro caso da doença no Ceará foi confirmado em junho do ano passado e, até dezembro, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) confirmou 254 infecções e um óbito fetal, todos concentrados no Maciço de Baturité. Neste ano, a Pasta vai monitorar regiões serranas, como Cariri, Ibiapaba e Meruoca, para rastrear possíveis casos.
No Brasil, foram 11.695 casos em 2024, com disseminação crescente e constante em alguns estados, como o Espírito Santo – o que serviu de alerta para o Ministério da Saúde, motivando a publicação de nota técnica orientando sobre a vigilância dos casos no País.
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Em entrevista ao Diário do Nordeste, nesta terça-feira (7), o secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antonio Silva Lima Neto, reconheceu que “é uma doença que preocupa” e que deve ter “uma vigilância muito atenta” em algumas regiões do Estado.
“No final do ano, se percebeu que a transmissão tem se mantido em alguns locais, tem mostrado força, mais do que o que a gente imaginava. Ou seja, tem a sazonalidade, mas em alguns locais tem se expandido para outros períodos”, pontua.
Tanta explica que há uma “transmissão residual”: não há um surto vigente de oropouche, mas ainda existe circulação do vírus em populações suscetíveis. “Vamos então monitorar áreas novas de potencial transmissão, como o Cariri, a Meruoca e a Serra da Ibiapaba, que têm circunstâncias parecidas e a presença do maruim”.
Outro fator que exige monitoramento constante dos casos são as “complicações que podem estar associadas” à oropouche, sobretudo para grupos de risco, como as gestantes.
No Ceará, em julho passado, uma mulher de 40 anos, grávida de 31 semanas, perdeu o bebê após contrair o OROV. Em novembro, após conclusão da investigação laboratorial e discussão do caso entre Sesa e Ministério da Saúde, foi confirmada a relação entre a oropouche e o óbito fetal.
“Um dos grandes desafios, caso haja uma transmissão importante de oropouche no Ceará e no Brasil, é a capacidade de oferecer uma proteção maior para os grupos de risco para complicações, casos mais severos e que têm se apresentado com problemas neurológicos”, destaca Tanta.
O epidemiologista pontua, por outro lado, que “a transmissão, muito provavelmente, não ocorrerá em áreas que tiveram surto em 2024, porque a imunidade que é conferida é aparentemente duradoura”.
Onde fica o mosquito maruim
A concentração dos registros da arbovirose em oito municípios cearenses acontece por um principal motivo: o transmissor do vírus oropouche (OROV), o mosquito maruim ou mosquito-pólvora, se prolifera em áreas úmidas, próximas a plantações de banana e chuchu.
Ele pertence ao gênero Culicoides e circula em pelo menos sete cidades do Ceará (e não apenas do Maciço de Baturité). É bem menor que as famosas “muriçocas”, e recebeu este nome porque as pessoas “sentem a picada, mas não enxergam”.
A Sesa detectou que os locais de proliferação e reprodução dele envolvem bastante matéria orgânica disponível, como:
- beira de lagos;
- pequenos igarapés e rios;
- acúmulo de folhas e raízes;
- poças de água;
- sistemas de esgotos;
- túneis de drenagem;
- buracos em árvores.
“Então, a transmissão se deu muito por conta da proximidade das casas dessas regiões onde há esse tipo de plantação, que é onde o mosquito tem maior densidade”, reforça o secretário de Vigilância em Saúde da Sesa.
O secretário ilustra que o maruim “não é como a fêmea do Aedes aegypti”, por exemplo. Não frequenta as casas. “Ele só bota ovo em solo, não bota ovo em água. Por isso que as pessoas dizem assim ‘porque não tá dando aqui em Fortaleza?’ Porque não bota ovo no asfalto”, assegura.
“A única possibilidade de isso (casos em Fortaleza) ocorrer é se mudar o transmissor. Experimentalmente, já existem algumas evidências de que o culex, que é a muriçoca, também poderia transmitir. Mas são muito incipientes”, tranquila Tanta.
Na região do Maciço de Baturité, onde se concentram os casos confirmados cearenses, oito cidades tiveram registros até dezembro de 2024, conforme a Sesa, com destaque para Aratuba, com 67 infecções; e Capistrano, com 64.
Dengue no Ceará em 2025
Sobre a arbovirose que mais circula entre os cearenses anualmente, a dengue, o secretário revela que as projeções apontam uma “transmissão de moderada a baixa” ao longo de 2025, uma vez que os sorotipos em circulação já infectaram e geraram imunidade em boa parte da população.
“Enquanto tiver dengue 1 e 2, a gente não vai ter grandes epidemias no Estado. Vai ter surtos localizados em municípios, como tem no Brasil inteiro. Porque já circulou muito aqui. As pessoas têm os anticorpos, você não vai ter grandes epidemias”, reforça Tanta.
Por outro lado, caso o Ceará tenha uma reintrodução do sorotipo 3 do vírus da dengue (denv 3), a preocupação retorna. “Ele está circulando com intensidade em São Paulo, em Minas Gerais, e não circula aqui há mais de 15 anos. Há população (suscetível). Então o nosso grande objetivo é identificar a potencial presença de sorotipo 3, que a gente não tem há muito tempo”.