Rotina para grande parte da população, o uso da internet deixou de ser um desafio para se tornar uma forma de melhorar a autoestima, a socialização e o empoderamento de muitos idosos Brasil afora. Prova disso é que, os dados de um suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) revelam que aumentou 55,4% o número de idosos acessando a rede de computadores entre 2016 e 2023.
Os números foram divulgados no último mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostraram também que, em 2016, na Região Nordeste, 13,3% dos idosos acessavam a internet. Ao todo, 88% da população com 10 anos ou mais de idade usaram a web em 2023.
Para mim, foi um divisor de águas. Uma benção! Eu fiquei muito feliz em conseguir me comunicar com as pessoas pelo celular. Eu falo com amigas na França e na Itália por chamada de vídeo
A aposentada Maria Célia Viana, de 76 anos, faz parte dessas estatísticas e descreveu, em entrevista ao Diário do Nordeste, que o curso onde aprendeu a usar a internet foi uma experiência única na vida. Suas aulas, no Ceará, foram realizadas no Instituto Idear, instituição que promove a inclusão digital desse público através de capacitação em uso das ferramentas tecnológicas do dia a dia.
Neste ano, o Instituto certificou 821 pessoas com mais de 60 anos que aprenderam a utilizar o celular e tablet do zero. Quem também passou por esse processo de aprendizagem foi a irauçubense Maria Eusirene Moura, de 61 anos. Além de aprender a usar o celular e o tablet, a comunicação e socialização desenvolvidas nas atividades com outras pessoas foram primordiais para desenvolver habilidades pessoais.
“Eu sempre fui muito tímida, mas, graças ao curso, eu consegui deixar a timidez de lado. Aprendi a me comunicar melhor com as pessoas e a fazer muita coisa no curso. Antes, eu não sabia compartilhar e nem salvar um novo contato. Eu também aprendi a fazer pix, porque eu não sabia fazer. Esse curso foi muito bom para mim!”
César Moreira Régio, servidor público aposentado, de 78 anos, conheceu o curso em uma conversa com amigos e ficou interessou porque não tinha “muita intimidade” com a tecnologia. Ele descreve que se surpreendeu com muita coisa, pois imaginava que a experiência seria de uma forma mais complexa, no entanto aprendeu na prática que era de outra maneira.
“Antes eu não sabia acessar as redes sociais. Hoje, eu mexo no WhatsApp, no Instagram, acesso lives e aulas remotas. Converso com os meus amigos por mensagem”, detalha César.
'Chá' incentiva acesso à tecnologia
Os dados do IBGE também mostraram que, entre as pessoas acima de 60 anos, a proporção de quem usava a internet em 2023 foi de 66% (22,5 milhões), a menor entre todas as faixas etárias. Apesar disso, esse grupo é o que mais cresce, proporcionalmente, desde 2019, quando menos da metade (44,8%) já havia informado que tinha contato com a internet. A expansão foi de 21,2 pontos percentuais. Em 2016, menos de um em cada quatro (24,7%) idosos acessava a rede.
Este cenário reflete o trabalho do projeto “Chá Tecnológico e Social” do Instituto Idear. Além da formação tecnológica, a instituição tem outros projetos voltados para as crianças, juventude e público adulto, e há 17 anos promove a inclusão digital em diferentes cidades do Ceará e de outros locais do Nordeste.
Além das atividades de aprendizado sobre como usar as funções do celular, como pesquisar na internet, redes sociais e outros, os idosos recebem conteúdos voltados para o bem-estar físico e emocional, como exercícios de desenvolvimento cognitivo e ensino de novas habilidades para a prática cotidiana, incluindo, culinária, ginástica, crochê, canto, desenho e pintura, cidadania, educação financeira, fotografia digital e outros.
Após a conclusão do curso, Maria Célia permanece na instituição, participando do coral, que iniciou durante as aulas remotas de inclusão digital, e hoje, acontece de forma presencial. Já Maria Eusirene, optou pelo curso de hortas. Ela contou à reportagem que cultivava algumas plantas em casa, mas que não sabia cuidar muito bem, já que algumas morriam e após os aprendizados, ela conseguiu plantar diversas hortaliças.
A coordenadora do projeto, Cristina Luz, detalha que a formação não tem o objetivo de fazer apenas a inclusão digital, mas também oferta aulas de desenvolvimento cognitivo. “Nós oferecemos essas aulas para exercitar o cérebro de forma paralela às aulas de inclusão digital. Após duas semanas de aulas, eles podem escolher entre as 14 opções ofertadas, duas atividades que eles se interessem mais, como fotografia, crochê, culinária, cultivo de plantas, canto, turismo digital, educação financeira e por aí vai”, explica a gestora.
Além dos impactos já esperados, a gestora aponta outros impactos na vida dessas pessoas. “A socialização proporcionada pelo curso é muito boa para eles e traz benefícios para a saúde mental. Aqui, também oferecemos rodas de conversas com uma psicóloga sobre temas específicos, como o luto, ansiedade, depressão, saúde e muito mais. Também temos as palestras, em que abordamos diversos temas, como estatuto do idoso, defesa do consumidor e como prevenir acidentes domésticos.”
Como ter acesso a cursos grátis de tecnologia para idosos
O projeto acontece em diferentes cidades do Estado e, para participar, é necessário atender a alguns requisitos, como:
- Ter +60
- Ser alfabetizada
- Está em vulnerabilidade socioeconômica
- Ter disponibilidade de tempo
Atendendo aos requisitos, o idoso pode realizar a pré-inscrição por meio de link disponível no site do projeto ou entrar em contato pelo telefone (85) 3382-3580 ou pelos números de WhatsApp (85) 99277-2854 ou (85) 99219-7496.