Águas-vivas se multiplicam na orla de Fortaleza e podem causar danos; saiba como agir em acidentes

Aparecimento está ligado a desequilíbrio ambiental e pode se tornar mais comum com o aquecimento global

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Aparecimento dos animais é mais comum no período chuvoso
Foto: Fabiane de Paula

Quem vai à orla da capital cearense, desde a última semana, pode ver águas-vivas com mais facilidade na Praia do Mucuripe e na Praia do Futuro. Isso porque o período chuvoso leva mais nutrientes para o ambiente marinho e o aquecimento do Oceano favorece à reprodução dos animais.

Contudo, os grupos de águas-vivas – mesmo embelezando o mar – podem oferecer risco em contato com os banhistas: os sintomas vão da ardência à necrose superficial. Em Fortaleza, 5 espécies são mais comuns, mas 3 delas são mais perigosas.

No momento, as águas-vivas do tipo Chrysaora lactea são as que mais aparecem no litoral e podem causar fortes irritações na pele. Já a Physalia physalis, conhecida como caravela, surge mais no segundo semestre, sendo levada até a praia pelo vento.

Legenda: Águas-vivas podem oferecer risco para banhistas
Foto: Fabiane de Paula

As águas-vivas são risco, principalmente, em lugares mais calmos, como piscinas naturais. Em áreas abertas, como na Praia do Futuro, os acidentes são mais evitáveis. Isso não dispensa o cuidado na hora do lazer.

Também há a presença da Chiropsalmus quadrumanus, que pode ocasionar riscos mais sérios à saúde, contudo aparece em menor quantidade em Fortaleza. Além da Capital, registros de águas-vivas são feitos na Praia do Paracuru e na Taíba, ambas na Região Metropolitana (RMF).

O Ministério da Saúde, numa publicação sobre acidentes com águas-vivas e caravelas, explica que o contato com tentáculos de cnidários (grupo destes animais) podem causar ardência e dor intensa no local, de 30 minutos a 24 horas.

Também surgem placas lineares na pele e a gravidade depende da extensão da área comprometida pelas águas-vivas. Em crianças ou com animais grandes, os sintomas podem ser:

  • Cefaleia
  • Mal-estar
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Espasmos musculares
  • Febre
  • Arritmias cardíacas 

Marcelo Soares, pesquisador e professor no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que os acidentes acontecem por meio de um mecanismo próprio.

"Esse aparato gera veneno e em contato com a pele pode causar lesões na pele, problemas no sistema nervoso e no muscular. Então, algumas pessoas têm choque anafilático ou reações alérgicas pesadas", destaca.

No período da quadra chuvosa, entre fevereiro e maio, há mais recorrência do animal no mar de Fortaleza. "Uma curiosidade é que os pescadores sempre entenderam que as águas-vivas aparecem na época da chuva", contextualiza Marcelo.

Alguns trabalhadores do mar acreditavam, inclusive, que os animais eram resultado da água da chuva que não se misturava com a água do mar. Porém, a multiplicação das águas-vivas está ligada a um desequilíbrio ambiental.

"Porque existe a poluição causada por esgotos que aumentam as águas-vivas e o Oceano nunca esteve tão quente. A gente monitorou e a temperatura deu praticamente 30° todos os dias", acrescenta o especialista.

Deveriam ter mais estudos de monitoramento desses animais venenosos, chegam casos na rede pública, mas os profissionais não sabem quais são espécies. A tendência, com o aquecimento global, é aumentar esses organismos
Marcelo Soares
Professor no Labomar

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O que fazer em casos de acidentes

Apesar de comumente ser chamado de queimadura, o que acontece na pele é um envenenamento citotóxico com dor em queimação. O banhista já pode sair do mar com marcas e dor.

A indicação do Ministério da Saúde é que, inicialmente, sejam usadas compressas geladas com a própria água do mar gelada, ou com vinagre. De modo algum deve ser utilizada água doce, porque o quadro do envenenamento pode piorar.

Caso fiquem tentáculos, os pedaços devem ser removidos de forma cuidadosa com uso de pinça ou com a mão enluvada. Os pacientes devem procurar assistência médica para avaliação clínica e a necessidade de tratamento complementar. 

Confira as orientações para evitar acidentes:

  • Evite áreas onde há presença de águas-vivas e caravelas
  • Pergunte ao guarda-vidas sobre a presença destes animais no local
  • Não toque nos animais, mesmo mortos
  • Use calçados para caminhar na praia e evitar pisar em tentáculos dos animais
  • Usar roupas de mergulho que cubram grande parte do corpo em esportes náuticos

No Ceará, o Corpo de Bombeiros atua nos casos de acidentes com águas-vivas e podem auxiliar as vítimas para os primeiros socorros.

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