Uso de formol para alisar cabelo é crime e causa graves riscos à saúde

Após fazer uma escova progressiva, uma paranaense sofreu parada cardiorrespiratória neste mês de agosto. A mulher ficou internada por três dias na (UTI)

Escrito por Redação ,
Imagem: Divulgação
Legenda: Embora o uso do formol tenha restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelos riscos causados à saúde, a substância ainda é utilizada em procedimentos para alisar o cabelo
Foto: Pixabay

O movimento de aceitação e valorização dos cabelos naturais tomou corpo nos últimos anos. Celebridades como Taís Araújo, Juliana Paes e Maisa Silva vem embarcando na proposta de manter cachos e fios crespos longe da química. Porém, o uso de químicos para deixar os cabelos lisos continua sendo utilizado em alguns locais e causando danos por vezes irreversíveis.  

O formol, quando utilizado nos alisamentos capilares, pode entrar na corrente sanguínea, afetar o coração, fígado, olhos e sistema circulatório, podendo causar cegueira e até morte súbita. Embora o uso da substância tenha restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) devido aos riscos causados à saúde, o composto ainda é utilizado em procedimentos para alisar o cabelo. Na última semana, uma paranaense sofreu parada cardiorrespiratória após fazer uma escova progressiva. A mulher ficou internada por três dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

Os procedimentos à base de formol com proposta de alisamento capilar mais utilizados são as escovas progressiva ou definitiva, a inteligente, de chocolate e o botox capilar. Adicionar o formol a esses produtos é infração sanitária (adulteração ou falsificação) e crime hediondo, de acordo com o art. 273 do Código Penal. No entanto, nos cosméticos, incluindo os destinados a alisar o cabelo, a Anvisa permite apenas a concentração de até 0,2%, percentual. Mas, segundo o dermatologista Dimitri Luz, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD),  atualmente, não existe uma maneira segura ou legal de alisar os fios capilares com procedimentos à base de formol.

 "Isso porque uma  concentração de  0,2% de formol pode ser encontrada e permitida pela Anvisa nos produtos cosméticos e capilares, maior do que isso não é liberado. E essa qualidade não é suficiente para realizar um alisamento", reafirma o médico. A Anvisa ainda permite o uso de concentração de 5% da substância em produtos endurecedores de unhas.   

Complicações

As principais complicações à saúde do corpo, relacionadas à aplicação de alisante capilar com formol, ocorrem com a inalação ou quando a substância absorvida pelo couro cabeludo entra na corrente sanguínea e ataca órgãos, a exemplo do coração, provocando cardiotoxicidade, aumento do coração, redução da frequência cardíaca e até morte súbita. 

Para além dos danos ao coração, o percurso feito pelo formol nas vias sanguíneas é uma ameaça à saúde do fígado, dos olhos e da circulação. A alta toxicidade do produto pode desencandear hepatite, intoxicação, aumento do órgão e, com a frequente reaplicação do alisamento, é possível que se desenvolvam células cancerígenas no aparelho respiratório e até mesmo a leucemia.

Nos olhos, o dermatologista destaca irritação, coceira, vermelhidão, dor, lacrimejamento, embasamento da vista e o alto grau de toxicidade, o que pode causar cegueira irreversível.

"Na circulação, os sintomas são mais sistêmicos e  imediatos, sendo eles, mal-estar generalizado, incluindo quadro gripal, tosse, espirro, febre e náuseas", complementa Dimitri Luz.

"A absorção da toxicidade do formol pelo corpo é facilitada pela vascularização própria do couro cabeludo. Quando a substância alcança a corrente sanguínea, os prejuízos à saúde, em alguns casos, se tornam irreversíveis", pontua o médico.

Contato com a pele

No contato direto com a pele, seja ela do couro cabeludo ou de qualquer parte do corpo, o composto pode provocar dois tipos de dermatites: irritativa e alérgica. A irritativa, uma queimadura local, pode acontecer logo na primeira aplicação, provocando quebra e queda do cabelo. Já a alérgica, ocorre por sensibilidade ao reagente. Portanto, é possível que o ato de reaplicar o procedimento gere o desenvolvimento de uma alergia.

Os danos à saúde do corpo ocasionados pelo uso de alisantes com formol são graves, porém, o dermatologista lembra, a resposta à toxicidade do produto acontece de maneira diferenciada.  "Cada individuo é único. Pode ser que uma determinada pessoa faça uma intoxicação logo de cara, por ela ter o organismo mais predisposto à reação. Como é possível  que na primeira aplicação a pessoa passe ilesa e, somente a partir da exposição frequente a esse tipo de reagente, ela passe  a apresentar intoxicação com resultados graves", ressalta.

Segura e legal

Outro alerta do dermatologista Dimitri Luz está relacionado à composição dos produtos. A  Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda que, antes de adquirir ou autorizar a utilização do produto, verifique-se as informações sobre o conteúdo da fórmula expostas na embalagem. Caso tenha a indicação de formol, o ideal é verificar se o produto tem o selo de aprovação que pode ser consultado no site da Anvisa

De acordo com a Resolução RDC nº 36, da Anvisa, é proibida a venda do formol em drogarias, farmácias, supermercados e lojas de conveniência. A medida, estabelecida em junho de 2009 tem o objetivo de restringir o uso da substância como alisante capilar. Para conferir os alisantes capilares liberados pela Anvisa, acesse o guia do formol no site www.sbd.org.br

Parecer

Os profissionais cabeleireiros Naugusto Freire e Flaviana Araújo relatam suas experiências diárias e ambos confirmam baixa considerável na procura por alisamento capilar, especialmente pelos que contêm formol.

Defensor do desuso do serviço, Naugusto diz que a técnica da escova progressiva provoca efeito muito prejudicial ao cabelo. “O método faz uma blindagem no cabelo e fecha a cutícula do fio. Isso dificulta a aplicação de outros procedimentos. Ou seja, no momento da coloração, reflexo ou mechas, o efeito dos cosméticos não responde 100% como em um cabelo que não tenha se submetido ao alisamento”, revela.

Nos últimos anos, a própria indústria reduziu a fabricação de cosméticos para alisamento. O público mudou suas necessidades relacionadas à beleza capilar. Ao longo do tempo, foi observado que os resultados negativos do procedimento superam os desejos de um cabelo liso e sem volume. 

O auge da progressiva, vivido aproximadamente entre os anos 2000 até 2010, foi a época em que os profissionais atenderam as maiores demandas de cabelos sensibilizados e quebrados, em seus salões de beleza, confessa Naugusto.

"O fato é que muitos dos adeptos ao alisamento, há 10 anos, hoje têm cabelos brancos e preferem optar pela coloração com resultado 100% da tonalidade. Estamos vivendo o momento de valorização do cabelo natural. As pessoas estão se libertando do padrão cabelo alisado e assumindo os cachos, ondas. Enfim, o movimento é de aceitação da fibra natural do cabelo e deixar para trás o alisamento capilar".

Com a mesma proposta de Naugusto Freire, a cabeleireira Flaviana Araújo evita trabalhar com produtos de alisamento. Porém, quando ocorre demanda, ela indica a aplicação da escova orgânica. Uma técnica, segundo a hairstylist, livre de formol. 

“O procedimento é composto por ácidos, o principal deles é o glioxilico. A escova orgânica alisa até 100% do cabelo, não arde nos olhos e não tem cheiro forte (característico da inteligente ou progressiva). Proporciona ainda um efeito mais natural se comparada aos alisamentos com formol, além de agredir menos os fios. Porém, por ser incompatível com a amônia, a substância não pode ser aplicada em cabelos loiros”, alerta a profissional.

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