Série artística promove reflexões sobre democracia, diversidade e pertencimento em contexto de crise

Com 15 apresentações virtuais, Centro Dragão do Mar inicia o ciclo programático “Atos de Liberdade: caminho se faz ao andar”, apresentando trabalhos de 17 artistas cearenses

Escrito por Redação ,
Esta é uma imagem de Gil Rodriguês
Legenda: Trabalho "...reverberações de um diálogo em silêncio..." provoca a reflexão sobre o sentimento de pertencimento ao lar em contexto de distanciamento social
Foto: Divulgação

Democracia, diversidade e pertencimento apresentam significados distintos, mas são questões que caminham juntas no fortalecimento do coletivo diante do cenário mundial de crise. Partindo desta premissa, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura inicia nesta segunda-feira (15) o ciclo programático “Atos de Liberdade: caminho se faz ao andar”, que traz 15 trabalhos inéditos, cujos conceitos remetem a esses três eixos.

“Quando a gente pensou em democracia, a gente pensou em pertencimento ao grupo, a um país, a uma cidade, e diversidade é a possibilidade dentro da democracia que nós sejamos diferentes, mas que sejamos respeitados”, diz a superintendente do Centro Dragão do Mar, Natasha Faria. 

Ela explica que o projeto é uma oportunidade de levar essas questões para o debate público. Para isso, Natasha conta que foram escolhidos artistas experientes com atuação nas periferias e comunidades, de modo que, a partir desses laços já estabelecidos, eles possam discutir essas temáticas de forma mais ampla com o público. 

Para ampliar ainda mais o alcance das discussões artísticas, o formato do projeto foi desenvolvido para ser veiculado, sobretudo, no Instagram, devido ao seu caráter viral e imediatista, afirma a superintendente. As performances foram pensadas no formato de vídeos curtos para o IGTV, com duração de até 10 minutos, que serão disponibilizadas às segundas, quartas e sextas de fevereiro no Instagram e no YouTube do equipamento. 

“A gente cria, partindo de uma necessidade, de uma questão pessoal, mas também a gente pode provocar uma criação para certos temas, para certos eixos temáticos que foram esses que a gente escolheu e que tem a ver realmente com o momento atual do Brasil”, diz.

As apresentações são norteadas pelo jogo surrealista “cadavre exquis”, metodologia criada na França que propõe a união de trabalhos de autores distintos sem que a criação de um seja previamente conhecida pelos demais.

Nos vídeos, atores, dançarinos, dramaturgos, performers e artistas circenses lançam ao público suas respostas-interpretações sobre “democracia, pertencimento e diversidade”, dando origem a uma obra cênica independente e ao mesmo tempo interligada, com uma programação que reúne esquetes, coreografias, leituras dramáticas e números circenses, entre outras linguagens artísticas.

“É um projeto que não está separado do cotidiano que a gente tem vivido, do nosso dia a dia, a partir dos laços afetivos que todos esses artistas constroem com o seu público nas suas comunidades é que a gente vai ver uma participação, uma possibilidade de reflexão”, completa Natasha.

Afeto

Foi a partir desse afeto que o artista Souza Frota desenvolveu o seu trabalho “MicroPolítica dos afetos”, que será disponibilizado nas redes sociais do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura nesta sexta-feira (19). Para iniciar o processo criativo, mecanismos das plataformas digitais foram empregados para garantir a conexão com as pessoas. 

Entre os recursos, Souza escolheu realizar enquetes no Instagram, realizando duas perguntas: “O que cabe num abraço?” e “Cabe no abraço a dor, a solidão e a traição?”. Com as respostas, ele foi construindo “um caminho de escuta afetiva” que resultou na escrita do texto presente na última cena do trabalho.

“Eu acredito que o afeto permeia, transita, transmuta entre esses três conceitos: a democracia, o pertencimento e a diversidade.(...) Eu acredito que nós precisamos democratizar os afetos entre os diferentes, o afeto entre homens e homens, o afeto entre mulheres e mulheres, o afeto entre as raças, o afeto entre o território”, afirma.

Já o trabalho de Gil Rodriguês, “ ...reverberações de um diálogo em silêncio…”, é construído a partir do sentimento de pertencimento que a residência dele proporciona durante o período de distanciamento social. Percorrendo os cômodos, paredes e chão da casa, o artista realiza uma dança acrobática por um viés de uma “mulher máquina”. 

"Gostava de me ver entre duas janelas. Era como se eu imaginasse que esse olhar estar me captando. Eu gostava muito de dançar e brincar com as acrobacias dentro da minha casa. Como eu não estava e não estou saindo, eu queria imaginar as possibilidades que a minha casa proporciona de pertencimento. E ai eu fui me pertencendo nesses quadros, nesses lugares", conta.

A apresentação também será disponibilizada nesta sexta (15) nas redes sociais do Centro Dragão do Mar. 

“A arte vem em um contexto de refletir e questionar esse momento em que a gente está vivendo. Não necessariamente toda arte tem que ser política porque existe arte de várias formas, mas é muito importante refletir sobre o atual momento conservador que a gente vive, sobre o atual momento pandêmico que estamos vivendo”, aponta.

Para completar as apresentações do dia, o artista João Paulo Lima apresenta a performance "O perigo de uma única história para o corpo", na qual ele realiza uma breve exposição sobre o próprio corpo, partindo para uma leitura dramática e contação das suas histórias e experiências como homem com deficiência, artista, professor e pesquisador. 

"A minha deficiência faz parte do meu corpo, não é doença, não é submissão, não é passividade. Ao contrário, ela é condição e  característica do corpo que me torna o João Paulo Lima. Ela não é um problema, é uma característica da minha própria existência, como eu construí a minha história e como eu vou construindo uma nova história pro meu corpo a cada momento", afirma.

"O perigo de uma única história para o corpo" busca disparar nos espectadores a necessidade de se pensar na diversidade dos corpos, afirma João Paulo. "Vem a tona vários pré-textos e contextos, o meu lugar de fala como homem, como pessoa com deficiência. (...) E essas vozes se entrecruzarem não para entrar na política do cancelamento como tá em voga, mas para perceber que eu tenho que entender primeiramente a minha diversidade e em consequência entender que o outro também é diverso", completa.

Serviço

“Atos de Liberdade: caminho se faz ao andar”

De 15 a 26 de fevereiro, às segundas, quartas e sextas, a partir das 20h, no YouTube e no Instagram do Centro Dragão do Mar. Gratuito. Mais informações no site.

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