Sebastião de Paula apresenta 22 obras em nova exposição no Museu da Cultura Cearense

O artista abre a mostra "Memórias que não escrevi" hoje (14), no equipamento do Centro Dragão do Mar. As obras permanecem em cartaz até 14 de junho

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Das 22 obras da exposição, 14 ainda eram inéditas até a abertura de "Memórias que não escrevi"
Foto: Sebastião de Paula

Natural de Morada Nova (CE), o artista Sebastião de Paula viveu no interior do Ceará o tempo suficiente para estranhar os costumes urbanos de hoje. Ele foi criança nas décadas de 1960 e 70 e recapitula como a vivência de 14 anos na região do Vale do Jaguaribe marcou sua formação. "Memórias que não escrevi", sua nova exposição individual, tem reflexos desse período e traz 22 obras visuais assinadas pelo cearense.

Do acervo exposto, 14 trabalhos ainda são inéditos. "Oito delas já participaram de exposições em São Paulo, mas 21 nunca foram expostas em Fortaleza", destaca o artista.

A mostra será aberta nesta terça (14), às 19h, no Museu da Cultura Cearense do Centro Dragão de Mar de Arte e Cultura (Praia de Iracema). A abertura contará ainda com a apresentação do Grupo Toada de Violões (IFCE), em parceria com a Casa de Vovó Dedé e direção musical do professor Eddy Lincolln. A visitação é aberta ao público, até o próximo dia 14 de junho.

O apelo à memória marca várias referências da mostra, além do título do projeto. Sebastião de Paula completa 58 anos de idade na mesma data de abertura da exposição. "Foi proposital, quis festejar pelos dois motivos", detalha. Indagado sobre como percebe esse recorte de 22 obras de sua produção, ele observa que é difícil destacar algo em um contexto de 30 anos de carreira.

No entanto, Sebastião chama atenção a duas questões sobre passado e presente. A obra "S.O.S" traz o desenho de um brinquedinho de mola e cabeça de palhaço. Para o artista, a criação simboliza a perda de hábitos saudáveis na infância.

"Hoje, as crianças não brincam mais, estão todas ligadas no computador, no celular, nas redes sociais. Pelo momento que a gente vive, essa obra traz esse questionamento, nas pessoas viciadas na utilização do celular", identifica.

Foto: Sebastião de Paula

Outra obra de destaque dentre os 22 trabalhos, segundo o artista, denuncia o aumento dos casos de feminicídio na atualidade. Sebastião detalha que a gravura "Só fica quem não sabe..." traça uma arma atirando numa borboleta. "Faz referência às mulheres sendo agredidas de uma forma covarde, quando se esperava que os homens, no século XXI, começassem a ser mais parceiros e compreendessem mais as companheiras", reflete.

Influências

Como gravurista, Sebastião de Paula observa o que lhe influenciou. Professor do curso de Licenciatura em Artes Visuais do IFCE há 15 anos, o artista lembra que foi aluno de Eduardo Eloy, uma das referências da gravura no Ceará. E dentre seus pares, o cearense cita a inspiração no trabalho do pernambucano Gilvan Samico. "Ele tem uma obra maravilhosa, é uma grande referência. E me influenciou muito, principalmente na forma como aplico a cor na gravura. O Samico considera a cor como parte da composição da obra", avalia.

Trajetória

Com Eduardo Eloy, Sebastião estudou xilogravura e gravura em metal no início da década de 1990, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc). Teve ainda na sua trajetória mestres como Artur Luiz Piza e Carlos Martins. No entanto, o cearense é graduado em outra linguagem artística: em 1988, concluiu o Curso de Música da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

"Todo conhecimento contribui de forma significativa para nossa trajetória de vida. Se trabalhamos com arte e convivemos com a linguagem da música, essa contribuição se amplia. É possível constatar isso pesquisando a História da Arte, e as diversas parcerias entre músicos e artistas (de outras linguagens)", avalia o gravurista.

Em torno de três décadas de produção artística, Sebastião de Paula contabiliza participações em mais de 100 exposições coletivas. Em paralelo, realizou oito mostras individuais, seis em Fortaleza e duas em São Paulo. Na França, integrou a sala especial da 5ª Mondial de L'estampe Et de La Gravure Originale Trienalle de Chamalières. A obra do artista cearense ainda circulou por cidades como Recife (PE), João Pessoa (PB), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Londrina (PR); e países como Argentina, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Romênia.

Foto: Sebastião de Paula

Serviço
Memórias que não escrevi

Abertura da exposição do artista visual Sebastião de Paula (CE). Nesta terça (14), às 19h, no Museu da Cultura Cearense do Centro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Em cartaz até 14 de junho. A visitação acontece de terça a sexta, das 9h às 19h; e aos sábados e domingos, das 14h às 21h. Acesso gratuito. Contato: (85) 3488.8600

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