QUE NEM TU: Mateus Fazeno Rock quer mostrar, através da música, a multiplicidade da favela

 Mateus Henrique Ferreira do Nascimento, 29, mais conhecido como Mateus Fazeno Rock, vem conquistando espaço no Brasil com um gênero musical que ele chama de Rock de Favela. Ele mistura ritmos como rock, hip hop, dub, reggae, funk e R&B a letras fortes e potentes que falam como é viver em uma periferia de uma grande cidade. Ele traz histórias muito suas, mas que também podem ser de tantos outros meninos e meninas que trabalham, estudam, festejam e lidam com as desigualdades espalhadas pelo Brasil.

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O cearense contou, em entrevista ao Que Nem Tu, desta quinta-feira (2), sobre seu processo criativo, sobre furar bolhas e conquistar espaços. Ele relembra sua história e reconta as preocupações de quem não sabe ser sozinho. Mateus quer fazer seu som, mas quer que os seus amigos, parceiros e artistas periféricos- como ele- também tenham seus trabalhos valorizados. 

"Tem uma visão muito limitada do que é fazer arte na periferia. A periferia só faz um tipo de música, só se veste um jeito, só pensa de uma forma, como se existisse um padrão. A periferia é múltipla, muito diversa. Acho que a periferia produz muita coisa para além de arte. Produz ciência, produz conteúdo intelectual, produz moda, alimentação, organização de vida, administração. Muitas coisas que são invisibilizadas", disse Mateus.

O multiartista diz não querer se resumir a um talento de periferia, mas reconhece a potência do que é ser múltiplo e poder apresentar essas várias possibilidades para os seus e para as elites. "Enquanto eu, uma pessoa que faz música, esteja do outro lado. Não numa intenção de levantar uma bandeira, mas mostrar através da música uma multiplicidade do nosso cotidiano a partir do que eu vivi". E isso ele faz muito bem.

Com “Jesus ñ voltará”, segundo disco do artista, ele vai para outros estados mostrar seu som para públicos que estão fora da bolha. Abre show, no Rio de Janeiro, da Nação Zumbi no Circo Voador e em 3 de dezembro desembarca em São Paulo para o  festival Primavera Sound. Ele chegou a ser indicado para o prêmio Multishow. Mesmo assim, ele reconhece que ainda falta ocupar espaços maiores em sua terra natal.

Com tranquilidade de quem tem muito claro na cabeça seu objetivo, ele reforça que- por enquanto- sua música precisa falar com sua galera. A mensagem que o jovem quer passar é urgente e, por mais que seja dura, também é alento.

"De um modo geral eu acho que esse disco Jesus Ñ Voltará é um convite à vida mesmo. É uma conversa com os meus. Que a população branca, que a população rica veja o que a gente passa. Não é sobre isso. Nunca foi sobre isso. É uma conversa muito direta com os meus no intuito de instigar, de dizer assim: ' A gente tá vivo. Se a gente tá aqui, agora, vivo nesse plano presente, vamos encontrar um jeito de manter essa continuidade'", conclama.

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Um tema muito conversado neste episódio foi sobre saúde mental. Preocupação que também ilustra faixas de seus álbuns. Mateus ressalta a necessidade de pensar a saúde mental de uma forma vital para aqueles que vivem em meio à faltas e violências. Estar bem é estar plenamente vivo.

"Como eu falo de temas muito dolorosos, principalmente no segundo disco, coisas mais densas, histórias mais tristes. Tudo isso faz parte de um processo de violência que as pessoas negras no Brasil vivem. Não dá pra falar disso sem falar das sequelas que ficam. Não consigo pensar sobre meu futuro sem pensar que preciso estar bem alimentado, saudável, com perspectiva de futuro. Sonhar tem muito a ver com saúde mental. Uma pessoa depressiva, sem alta estima, ela vai perdendo as perspectivas. Vai deixando de sonhar, vai achando as coisas mais impossíveis, vai perdendo o ânimo", alerta.