Primeira visita do público dos museus costuma acontecer ainda na escola

A visitação ocorre, geralmente, dentro de uma atividade obrigatória da escola, "valendo nota" em sala de aula. Gestores debatem como tornar esse contato mais prazeroso para professores e alunos 

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Trecho da exposição “Estúdio de Arte Irmãos Vargas Encontra Martín Chambi”, no Museu da Fotografia

Grande parte do público teve seu primeiro contato com os museus, na escola. A pesquisa “Narrativas para o Futuro do Museus”, do Oi Futuro, aponta que existe um “ranço” nessa mediação: como a visita dos estudantes normalmente envolve a cobrança de relatórios e outras atividades valendo nota, em sala de aula, os alunos associam o espaço museológico à tensão das obrigações escolares.  

“E o estudante fazer relatório e prova sobre a visita ao museu é muito chato. É importante desescolarizar os museus”, observa Mário Chagas, diretor do Museu da República (RJ), durante a apresentação da pesquisa.   

Questionada sobre como tornar esse contato mais prazeroso entre alunos, educadores e os mediadores dos museus, Carla Vieira, diretora do Museu do Ceará, situa que a gestão do equipamento realiza a oficina “Como visitar um museu histórico”, voltada, sobretudo, aos professores de história.  

Por ora, tanto a oficina quanto a visitação pública do Museu do Ceará estão suspensas: o equipamento passa por reformas e deve reabrir em um prazo de 120 a 150 dias, segundo Carla. O custo aproximado das obras é de R$ 410 mil. A intervenção visa a manutenção preventiva do Palacete Senador Alencar, prédio histórico que sedia o equipamento.   

“A gente faz a oficina tanto pra (visita) não ser uma mera atividade de lazer, mas também como estímulo ao conhecimento. E para que não seja estressante e o estudante não precise anotar desesperadamente tudo o que viu, porque vai ser cobrado. Que eles se divirtam sim, mas no final da visita tenham aprendido algo”, orienta ela.  

Para o diretor do Museu da Fotografia Fortaleza, Silvio Frota, o trabalho dos monitores dos museus é fundamental para tornar a visita das escolas mais agradável. Frota situa que os mediadores são treinados para contar histórias por meio das obras. “Quando as pessoas vão ao Museu da Fotografia, elas não têm, assim, somente um contato visual com as exposições”, especifica.  

Graciele Siqueira, diretora do Mauc, percebe na diversidade da programação dos museus uma das saídas para contornar a impressão da visita como obrigação escolar. “Acredito que realizar exposições temporárias, oficinas, seminários, palestras, lançamentos de livros e rodas de conversas façam total diferença para a formação do público, bem como sua fidelização”, vislumbra a museóloga. 

Ela acrescenta que não é apenas a mediação dos professores que reforça o estereótipo do museu como um lugar “chato, de coisa velha”. Dentro de casa, crianças e jovens precisam encontrar outro olhar nesse sentido. “Em especial, os grupos familiares precisam mudar hábitos e falas sobre estes lugares de memória”, especifica.   

Em tempos em que os debates políticos têm fabricado uma série de (novos e velhos) estereótipos sobre toda a cadeia da cultura, a museóloga Marília Bonas, diretora do Memorial da Resistência de São Paulo, percebe como, enquanto uma referência cultural e de educação no País,

os museus são repositórios vivos de humanidade, contra a barbárie. Muitos objetos de museu antecedem e sobrevivem a nós. A Monalisa (de Leonardo Vinci) sozinha, dentro de uma caixa, não seria a Monalisa”, reflete a gestora.

Serviço
Museu da Fotografia Fortaleza

Visitação de quarta a domingo, das 12h às 19h, na Rua Frederico Borges, 545, Varjota. Acesso gratuito. Contato: (85) 3017.3661 - museudafotografia.com.br

Mauc
Visitação de segunda a sexta, das 8h às 17h, na Av. da Universidade, 2854, Benfica. Acesso gratuito. Contato: (85) 3366.7481 - mauc.ufc.br 

Museu do Ceará
As visitas estão suspensas por causa das reformas. A pesquisa ao acervo segue funcionando de segunda a sexta, das 9h às 17h, na Rua São Paulo, 51, Centro. Contato: (85) 3101.2610 - secult.ce.gov.br   

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