Mostra inédita 'Cenas de Quarentena' reúne filmes que abordam o período de isolamento social

Trabalhos são inéditos e buscam refletir por meio da expressão audiovisual o momento da pandemia. As obras serão exibidas nos canais da TV Unifor e o público pode escolher as três produções que mais se destacaram no projeto

Escrito por Redação ,
Legenda: Projeto divulga a expressão artística de estudantes (de diferentes cursos de graduação e pós-graduação da instituição) durante o período de isolamento social. Os curtas-metragens caseiros têm duração de até três minutos.

A pandemia trouxe um cenário social nunca antes visto. O isolamento, arma contra a propagação da Covid-19, restringiu o cotidiano à intimidade do lar. Num futuro mais próximo, que história dessa tragédia em escala global iremos contar? 

Essa é uma das provocações da Mostra “Cenas de Quarentena”. A iniciativa realizada pela Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, apresenta 11 filmes cearenses produzidos durante os dias de reclusão. Os curtas-metragens estão disponíveis no canal da TV Unifor no YouTube

O público pode escolher as três produções que mais se destacaram. A votação segue até 15 de julho e usa como critério a quantidade de “curtidas” que cada vídeo ganha. Os trabalhos são inéditos, feitos em casa e contam com duração de até três minutos. O prêmio é de um tablet para o diretor ou diretora vencedora. 

Mais de quarenta inscritos participaram do processo de seleção. Mais da metade destas obras eram de estudantes de outras áreas da graduação, como Engenharia Civil e psicologia. A ideia de uma mostra nesse formato partiu do aluno Leão Neto, do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza. 

O produtor, professor e diretor da TV Unifor, Max Eluard, detalha é positiva a procura de outras áreas da graduação. “Revela como o cinema e o audiovisual são uma arte que mobiliza as pessoas”, defende. 

Olhar 

A regra principal é de que cada participante filmasse em casa, com apenas celulares e iluminação ambiente. O intuito é aflorar as expressões individuais e definir obras que narrem o presente. A diversidade de temas abordados nos 11 filmes é um diferencial.

“É um momento em que lidamos muito com nós mesmos, com nossas angústias. Também tem a busca por uma relação mais leve com o que acontece. São filmes que trazem gestos importantes”, argumenta Eluard. 

Além de Eluard, participaram da curadoria Lis Paim, Marcelo Müller, Bárbara Cariry e Emilly Guilherme, ambas realizadoras e produtoras em audiovisual. Os filmes também serão transmitidos pela TV Unifor (canal 181 da NET e 14 da Multiplay), junto a entrevistas com os realizadores. 

“Cenas de Quarentena” aproxima o debate entre plataformas móveis (celulares) e as novas formas de contar histórias no meio cinematográfico. “Os celulares hoje, e cada vez mais, serão uma ferramenta de se contar histórias. De trabalhar o audiovisual com suas particularidades. Sua textura, sua qualidade de imagem peculiar. É mais uma opção para os realizadores”, conclui Max Eluard. 

Filmes participantes

Angústia, de Dinorá Melo Ximenes.
O curta documentário apresenta, a partir de uma série de imagens da rotina pessoal da autora, os efeitos do isolamento social. Outra ferramenta é o registro em áudio, trocado através das redes sociais. A obra adentra o convívio em quarentena e como o período afeta as pessoas próximas de nós. “O curta procura relegar a cada uma dessas dimensões a vivência de pessoas durante a quarentena. As imagens mostram percepções do meu dia a dia”, descreve a realizadora.
Legenda: Angústia, de Dinorá Melo Ximenes. O curta documentário apresenta, a partir de uma série de imagens da rotina pessoal da autora, os efeitos do isolamento social. Outra ferramenta é o registro em áudio, trocado através das redes sociais. A obra adentra o convívio em quarentena e como o período afeta as pessoas próximas de nós. “O curta procura relegar a cada uma dessas dimensões a vivência de pessoas durante a quarentena. As imagens mostram percepções do meu dia a dia”, descreve a realizadora

Legenda: "Aniversário de um ano", de Eziele Rebeca Girão da Silva. Uma investigação da infância por fotografias. No aniversário de 20 anos, a diretora resgatou fotos de quando era apenas um bebê e estava aprendendo a andar. Fazer o curta, diz a criadora, ajudou no auto conhecimento e curar algumas inseguranças. “Tenho sentido vontade de investigar minha infância. Pedi de volta as fotos, e achei a que usei para fazer o filme: eu, no meu aniversário de um ano, aprendendo a andar. Foi uma experiência legal para experimentar”, resgata a diretora

Legenda: "Corpo calado", de Vitória Régia Cunha Aderaldo. Uma viagem à memória através dos sonhos, aponta a sinopse do curta. “No silêncio todas nossas dores emergem, ‘Corpo Calado’ foi criado a partir de uma dor sempre existente mas potencializada ainda mais nos dias de isolamento. Um encontro comigo mesma, uma reflexão sobre os barulhos dos meus sonhos e de onde eles vieram. Meu corpo precisava falar. Corpos como o meu existem e precisam ser vistos, tocados e amados”, reflete a criadora

Legenda: "Destroço", Gabriela Santos Jardim e Livia Soares Castelo Meireles. As autoras lançam um questionamento: “Qual é o gatilho? Quanto a gente suporta com os pés no chão? Algo pode acontecer a qualquer momento e destroçar” O filme abraça a sensação de que o isolamento social nos coloca constantemente à beira de um desastre, de um destroço, de um desmantelo das tensões. Nesse mesmo cotidiano, nos lançamos na tentativa de manter algo que resta em algum lugar

Legenda: "Fiat Lux", de Antônio Augusto Vasconcelos de Moura, Eziele Rebeca Girão da Silva e Kauê Nogueira da Silva. A ideia do trio é explorar a forma como a luz modela os objetos ao nosso redor. O filme era inicialmente mudo, porém, ao longo do processo, surgiu a ideia de utilizar frequências graves para encorpar a música e desenvolver um jogo rítmico com a montagem da obra. Segundo Antônio Augusto, essa imersão no poder da imagem foi um diferencial para o atual instante. “Foi uma experiência única”.

Legenda: "Macio como vidro", de Julia Pierre Luz. Um caco de vidro na cama desperta uma série de dúvidas. A sensação do vidro na pele junto ao lençol macio é intrigante. Parece ilustrar a realidade da quarentena em família. “Passei a entender aquele acontecimento peculiar como uma metáfora, na qual encontrei uma correspondência com os conflitos que eu estava vivendo dentro de casa. A partir disso, comecei uma busca por imagens que dariam conta de representar a situação”, comenta a diretora

Legenda: "Nada", de aniel Sobral da Silva. O curta costura observações sobre as pessoas que fazem tudo e aquelas que fazem nada. Um relato da pandemia na Avenida Dom Luís, durante o isolamento social. Em cena,os barulhos de sirene, motos de entregadores e obras. ‘Nada’ nasceu para registrar esses momentos. Mesmo com várias pessoas fazendo nada, ainda há aqueles que fazem tudo. Não precisa ir muito longe para tirar uma conclusão dessa época; e, sim, olhar pela janela”, descreve o diretor

Legenda: "Passa Tempo", de Gabriela de Castro Nogueira e Clara Gomes de Andrade. Em meio ao isolamento social, duas amigas tentam passar o tempo juntas, apesar das barreiras físicas. Manter os laços afetivos de maneira criativa e divertida, prova que a distância física não define conexões ou limites criativos. Com isso, duas vivências resgatam o passar dos dias. “Durante todo o processo, nosso objetivo principal foi combater a solidão e continuar estando próximas”, comentam as criadoras

Legenda: "Pneumatófaros", de Livia Soares Castelo Meireles e Gabriela Santos Jardim. A obra discute toda uma pessoal relação com o cotidiano. “Respiramos em um mundo de cabeça para baixo. Conectamos raízes e trocamos informações. O que dizemos neste encontro é urgente”, descrevem as realizadoras. O nome vem das raízes de árvores dos mangues que se elevam à superfície para respirar. Em cena, uma turma de acrobacia que desde o início da pandemia mantém suas atividades estritamente online

Legenda: "Reflexo Adentro", de Alian Souza Minerva. O pai o deixou cedo demais, mas ele nunca se foi totalmente. Algo continua enquanto ligação. A memória continua sendo espelho e os recentes dias esgarçam toda essa sensação. O filme fala de presença. É alguém que se você parar e olhar no espelho, consegue vê-lo ali mesmo, bem em você. “Diariamente alguma coisa me vem à cabeça, e registro como essa presença se coloca para mim. Sei que ainda há muito para sentir. E continuo”, aponta o diretor

Legenda: "Violão em quarentena", de Jorge Alberto Nunes Falcão de Oliveira Interpretação da música “Estudo em mi menor”, de Francisco Tárrega, composta para violão clássico. A obra é dedicada às vítimas da pandemia e aos respectivos familiares e amigos que tiveram de enfrentar a face mais cruel desses tempos. “Este é o meu primeiro curta-metragem. Voltei a praticar violão regularmente na quarentena. Decidi usá-lo para homenagear a todos que têm passado por sofrimento durante a pandemia”, afirma o autor

Serviço

Mostra Unifor "Cenas de Quarentena". Exibição dos filmes pelo canal  no canal da TV Unifor no YouTube e  TV Unifor (canal 181 da NET e 14 da Multiplay).
Votação aberta até 15 de julho. Três filmes com mais "likes serão premiados com um tablet cada.