Mateus Fazeno Rock lança novo álbum com reflexões sobre amor, coletividade e bem viver; ouça

Produzido em parceria com Fernando Catatau e Rafael Ramos, 'Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem' é o terceiro disco do artista cearense

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
(Atualizado às 11:31)
Artista é um dos principais nomes da música cearense contemporânea
Legenda: Artista é um dos principais nomes da música cearense contemporânea
Foto: Jorge Silvestre/Divulgação

Pouco mais de dois anos após o lançamento de “Jesus Ñ Voltará”, álbum que o projetou nacionalmente, o cearense Mateus Fazeno Rock lançou, nesta sexta-feira (1º), o terceiro álbum de estúdio, “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”.

Com um título que dá continuidade às histórias narradas em Rolê nas Ruínas (2020), álbum de estreia do artista, e JNV (2023), Lá Na Zárea foi disponibilizado nas plataformas junto a um álbum visual e explora novas nuances da lírica e da produção musical de Mateus, desta vez com foco nos instrumentos de base, como guitarra e bateria.

Primeiro disco do artista distribuído pela Deckdisc, uma das gravadoras mais conhecidas do País, o álbum foi produzido por Mateus em parceria com Fernando Catatau, que também atuou nas guitarras, e Rafael Ramos, diretor artístico e produtor da Deck. 

Capa do álbum tem ilustração de Suellem Cosme e design de Pedro Hansen
Legenda: Capa do álbum tem ilustração de Suellem Cosme e design de Pedro Hansen
Foto: Reprodução/Deckdisc

Com dez faixas que trazem referências de diferentes ritmos musicais, o disco se configura, sobretudo, como um álbum de rock, apesar da presença pontual de outros gêneros, como reggae e MPB.

A crueza proposital do trabalho, comandada pela guitarra inconfundível de Catatau e pelos sintetizadores de Suzannah Quetzal, não o impede de ser majoritariamente composto por músicas leves, que tratam de temas como amor, lazer, descanso e saúde, narrativas bem diferentes das cantadas nos dois primeiros discos do artista.

Mesmo em faixas com foco no amor romântico e jeito de balada, como “Melô do Sossego”, “Daquilo que Nois Merece” e “Quando Você Volta”, Mateus não deixa de lado a verve política de seu trabalho. Mais do que falar de momentos de descanso, saúde e lazer, o disco coloca em destaque a importância de garantir o direito de acesso a esses momentos, comumente negados a quem mora “na zárea”.

O single-manifesto “Arte Mata”, por exemplo, primeiro a ser divulgado e posicionado no meio do álbum, é um lembrete contundente do viés de protesto do trabalho – que busca ir além da discussão sobre ser artista e toca em discussões sobre as desigualdades de modo que qualquer trabalhador precarizado, em qualquer área, se encontre ali, segundo Mateus.

Em entrevista ao Verso, o artista detalhou as temáticas que perpassam o álbum, o processo criativo e os planos para a nova fase da carreira e contou o que os cearenses podem esperar do novo show, que chega a Fortaleza pela primeira vez no próximo dia 23 de agosto, no Anfiteatro do Dragão do Mar.

“Além da dor e do sofrimento, existem pessoas sonhadoras”

Natural de Fortaleza, artista tem se projetado nacionalmente
Legenda: Natural de Fortaleza, artista tem se projetado nacionalmente
Foto: Jorge Silvestre/Divulgação

Se “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem” parece um pouco distante em sonoridade dos primeiros álbuns de Mateus, para o artista, a poética do trabalho segue o “caminho natural” da esperança em um “imaginário de prosperidade”.

Isso porque, desde o primeiro álbum, o artista tem se dedicado a falar sobre temas difíceis e urgentes, como racismo estrutural, violência policial, juventude e as “contradições” da vida na periferia. Desse modo, apesar de não deixar essas temáticas de lado, era chegada a hora de ampliar o discurso, tanto para o público, quanto para si mesmo.

Além de compor e interpretar, Mateus também foi um dos produtores do álbum
Legenda: Além de compor e interpretar, Mateus também foi um dos produtores do álbum
Foto: Pâmila Liuk/Divulgação

“Venho falando sobre as histórias da minha vida, as histórias do meu bairro, venho falando sobre perdas, sobre morte, sobre adoecimento – que são assuntos ainda urgentes, ainda necessários e não vão deixar de ser de hoje para amanhã, porque a gente vive, na verdade, um país em disputa que continua fazendo a manutenção de todas essas violências”, pontua. 

“Mas pensando no meu trabalho e na minha obra, era um caminho natural eu também traçar outros horizontes, até porque, querendo ou não, é uma demanda física, mental e espiritual também defender um álbum com o nome ‘Jesus Ñ Voltará’, passar três anos cantando ‘Nome de Anjo’, passar três anos cantando ‘Do Harlem a Cajazeiras’. Não são músicas fáceis de cantar, de defender”, completa. 

“Precisava buscar outro lugar para cantar, para eu conseguir também ficar vivo e conseguir continuar defendendo essa luta e essa ética que tem dentro do trabalho do Fazeno Rock.”

Para além das demandas pessoais por um momento profissional mais leve, com canções que exaltem outros sentimentos e tracem novas possibilidades, o artista lembra que o álbum visa destacar que nas periferias, “na zárea”, há um universo imenso além da violência.

“Ele reforça esse imaginário de que, para além da dor e sofrimento, existem pessoas sonhadoras. Nós somos pessoas sonhadoras. Somos pessoas que estamos querendo férias, descanso, lazer, saúde – enfim, acesso, na verdade, a tudo que nos foi e é negado”, conclui. 

Circular a partir do Ceará, com artistas do Ceará

A 'família Fazeno Rock': Larissa Ribeiro, Rafael Lima, Mateus, Raffar Ygá, Jocasta Britto, DJ Viúva Negra e Mumutante
Legenda: A 'família Fazeno Rock': Larissa Ribeiro, Rafa Lima, Mateus, Raffar Ygá, Jocasta Britto, DJ Viúva Negra e Mumutante
Foto: Jorge Silvestre/Divulgação

Foi defendendo a arte feita no estado natal e as vivências das periferias de Fortaleza que Mateus construiu seus dois primeiros álbuns, produzidos de forma independente e quase a conta-gotas, conforme havia recursos financeiros e as faixas podiam, uma a uma, ser materializadas.

Apesar dos desafios de diversas ordens, o trabalho rendeu frutos: em 2023, Mateus foi premiado como Artista Revelação do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), numa das principais premiações culturais do País. Desde então, o canto de Mateus rodou palcos no País inteiro, especialmente em festivais, e angariou novos fãs para além do já fiel público cearense.

“Foram dois anos de muito aprendizado, porque essa inserção da gente no mercado, esse movimento de circular, acaba que não foi uma coisa linear”, destaca o artista.

“Cada movimento desse, para circular pelo Brasil, exige um esforço muito grande para acontecer – no intuito de circular a partir do Ceará, porque a gente não é artista cearense que reside em São Paulo; somos artistas daqui do Ceará, de Fortaleza, que residimos aqui, que trabalhamos aqui e temos feito esse movimento de circulação a partir daqui”, destaca.

Rafael Ramos, Mateus Fazeno Rock e Fernando Catatau
Legenda: Rafael Ramos, Mateus Fazeno Rock e Fernando Catatau
Foto: Pâmila Liuk/Divulgação

Com “Lá Na Zárea”, o processo de produção foi cheio de novidades: com um contrato assinado com a Deckdisc para a gravação de dois novos álbuns, a certeza de que o trabalho poderia ser feito com mais tranquilidade fez com que o artista elaborasse um novo momento da vida também nas letras, fechando um ciclo e vislumbrando um futuro melhor.

As composições foram feitas de forma espaçada, em diferentes momentos da vida de Mateus, que completou 31 anos nesta quinta-feira (31), um dia antes da chegada do terceiro disco. Alguns dos rascunhos existiam antes mesmo do disco de estreia; outros foram escritos durante o processo “oficial” de gravação, que começou por volta de setembro, na casa de Mateus, e chegou ao estúdio no fim de novembro do ano passado.

Nas gravações, os produtores se uniram a parceiros musicais antigos do artista, incluindo membros da chamada “família Fazeno Rock” ou “baile Fazeno Rock”, em mais uma demonstração da importância da coletividade para o resultado final do trabalho que leva o nome do artista.

Montagem de fotos dos artistas Mumutante, Raffar Ygá, Jocasta Britto, Dj Viúva Negra, Larissa Ribeiro e Rafael Lima que formam o Baile Fazeno Rock
Legenda: Mumutante, Raffar Ygá, Jocasta Britto, Dj Viúva Negra, Larissa Ribeiro e Rafa Lima formam o Baile Fazeno Rock
Foto: Jorge Silvestre

“A escolha dos músicos e pessoas que participaram do álbum tem muito a ver não só com o tipo de sonoridade que eu estava buscando, como também com o meu compromisso com as pessoas mesmo. Com todas essas pessoas eu já tive trocas em outros momentos, e achei que seria uma oportunidade massa de a gente estar junto num melhor contexto estrutural”, pontua.

Além de Mateus e Catatau nas guitarras, as gravações contaram com a música Suzannah Quetzal e Catatau nos sintetizadores; o produtor musical glhrmee na bateria; Marcos Au Coelho no baixo; as cantoras Mumutante e Jocasta Britto nos backing vocals; e percussões e efeitos do Afrokaos.

Pela primeira vez, as guitarras e os synths chegam na frente do álbum, em parte pela forte identidade musical de Catatau, impressa na maioria das faixas, em parte pelas novas pesquisas musicais e o interesse de Mateus no instrumento. 

Nos shows da nova turnê, aliás, Catatau passa a dividir as guitarras com o artista na maioria das apresentações, até agora a única mudança na composição original do Fazeno Rock.

Parceria com Catatau e Rafael Ramos

Processo de gravação começou em novembro
Legenda: Processo de gravação começou em novembro
Foto: Pâmila Liuk/Divulgação

Para Mateus, a conexão artística com Catatau – que também foi parceiro de composição na faixa “Daquilo que Nois Merece” – é parte essencial do novo álbum e trouxe novas camadas ao que o artista já sonhava para o terceiro disco. 

Mateus conta que o encontro musical entre os dois começou de forma natural, com trocas de ideias sobre músicas novas que os dois estavam produzindo separadamente. “As nossas criações conversam, de alguma forma, apesar de várias diferenças geracionais e outras”, pontua.

Inicialmente, Catatau entraria apenas como produtor convidado para auxiliar nos arranjos, mas acabou se tornando parte importante da formação, como guitarrista. “A guitarra do Catatau é muito característica e muito única. É uma guitarra que, realmente, onde ele estiver tocando, você vai saber que é ele. É uma qualidade que o Catatau tem enquanto artista: a guitarra dele tem a ‘voz’ dele”, elogia.

Já Rafael Ramos entrou se tornou principal a ponte entre a gravadora e o projeto que Mateus já tinha produzido em formato demo. Produtor experiente, o diretor artístico já trabalhou com destaques da música brasileira, como Elza Soares, Pitty e Los Hermanos.

“Foi um momento massa para conhecer o Rafa e como funciona essa coisa de estar na gravadora, e também pra ele me conhecer enquanto artista, entender as pretensões e as ideações do meu projeto em si”, completa Mateus.

Show de lançamento em Fortaleza

Quem quiser conferir o novo repertório de Mateus Fazeno Rock em Fortaleza ainda pode adquirir ingressos para o show de lançamento no Anfiteatro Sérgio Motta, no Dragão do Mar, que será realizado no próximo dia 23. Com o Baile Fazeno Rock completo e Catatau na guitarra, a apresentação também contará com identidade visual e figurinos completamente reformulados.

“A energia do show vai mudar bastante a partir desse novo disco, que traz toda uma outra carga. E tá sendo muito divertido criar isso. Acho que as pessoas vão se divertir muito nesse show, porque tem sido assim dentro da sala de ensaio”, conta Mateus.

“Como a gente está querendo trazer um show que fala sobre saúde, sobre bem viver, sobre prazer e sobre tesão, de alguma forma, acho que o show tá vindo muito com essa energia”, completa.

Além do lançamento em Fortaleza, o artista já tem apresentações confirmadas em Goiânia, no festival Goiânia Noise, no dia 5 de setembro, e em São Paulo, na Casa Natura Musical, em 28 de setembro. A turnê também deve passar em breve por Bahia, Minas Gerais e alguns estados do Norte.

A expectativa para os próximos meses é retornar a lugares por onde a banda já passou e conta com público cativo, como Recife, Natal e Manaus, além de chegar a novos palcos.

Serviço
Show de lançamento – Álbum “Lá na Zárea Todos Querem Viver Bem”, de Mateus Fazeno Rock
Quando: Sábado, 23 de agosto de 2025
Horário: 19h
Onde: Anfiteatro do Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Ingressos: R$ 60 (inteira) / R$ 35 (meia-entrada - 2º lote) / R$ 45 + item de higiene pessoal (inteira social - 2º lote) | Vendas na bilheteria do Dragão do Mar e no Sympla
Mais informações: @dragaodomar e @mateusfazenorock
Ouça o álbum nas plataformas digitais

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