Escola que uniu BBBs cearenses Eva e Renata, Edisca atua há mais de 30 anos na arte e na assistência social

Para além da excelência artística, escola de dança tem como missão 'formar cidadãos', afirma a idealizadora Dora Andrade

Escrito por
Ana Beatriz Caldas beatriz.caldas@svm.com.br
Espetáculo 'Periferia', da Edisca, contou com balé composto por 200 crianças
Legenda: Espetáculo 'Periferia', da Edisca, contou com balé composto por 200 crianças
Foto: Ricardo Rios/Divulgação

Participantes da nova edição do Big Brother Brasil, que estreou no último dia 13, as bailarinas Eva Pacheco, 31, e Renata Saldanha, 32, são as representantes do Ceará na disputa. Amigas há 25 anos, as duas se conheceram durante o período em que estudaram na Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca), instituição que há 33 anos dá suporte a famílias em situação de vulnerabilidade na Capital por meio da educação artística e da assistência social.

Dentro e fora do programa, as sisters comentaram sobre a importância do projeto em suas trajetórias pessoais e profissionais. Foi por meio da Edisca, por exemplo, que a dupla viajou pela primeira vez de avião. Os laços afetivos que se formaram ainda na infância são outra “herança” importante da escola.

A história da escola, idealizada pela coreógrafa e empreendedora social Dora Andrade, começou com um grupo de dança – mas logo se tornou uma missão de vida.

Inicialmente, o plano de Dora não era atuar na área social, mas na área artística. As demandas dos alunos e o olhar atento para as comunidades de Fortaleza foram, pouco a pouco, transformando o projeto em algo muito maior. 

Atualmente, 300 crianças e adolescentes são atendidos pela Edisca
Legenda: Atualmente, 300 crianças e adolescentes são atendidos pela Edisca
Foto: Isabelle Maciel/Edisca/Divulgação

“A principal janela da Edisca são os espetáculos de dança, então é natural que as pessoas vejam a  Edisca apenas como uma escola de dança, mas isso é um reducionismo imenso. Temos uma pedagogia e uma estratégia de ação bastante sofisticada”, afirma Dora Andrade. 

“Primeiro, a gente resolve as questões básicas – as crianças têm duas refeições diárias de extrema qualidade. Aqui não se serve sequer suco de polpa, é de fruta natural, com sobremesa, com dignidade”, completa. 

A escola ainda conta com programas de fortalecimento à escola formal, com laboratórios de matemática e português e aulas de redação, parcerias com escolas privadas para fornecer bolsas de estudo e um programa voltado para o empoderamento de mulheres e meninas, entre outras atividades. As sisters cearenses, por exemplo, são fluentes no inglês porque acessaram o idioma na Edisca, conta a idealizadora.

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Não é apenas a dança. A dança, a vivência na arte é muito importante, e produz resultados extraordinários, mas sozinha não é suficiente para as transformações que a gente vê acontecer na vida dos meninos e meninas que passaram pela escola (...) A gente não pode pensar em educação, pensar em arte, enquanto as pessoas não estão comendo. Nada antecede a fome.”
Dora Andrade
Idealizadora da Edisca

Até hoje, a escola já beneficiou mais de 2.500 crianças, adolescentes e jovens. Atualmente, 300 educandos estão matriculados. As audições de novos alunos levam em conta a situação financeira das famílias, priorizando os que têm menos acesso à educação, cultura e assistência social como um todo.

Dora Andrade e alunas da turma de 2018 da Edisca. Escola atua há mais de 30 anos na Capital
Legenda: Dora Andrade e alunas da turma de 2018 da Edisca. Escola atua há mais de 30 anos na Capital
Foto: Centro de Documentação do Sistema Verdes Mares (Cedoc)

“A Edisca foi criada para atender os filhos dos mais pobres”, ressalta Dora. “Numa seleção, se eu tiver uma vaga e tiver cinco crianças que tenham vocação para os para o estudo da dança, a vaga será da criança que esteja em situação de maior vulnerabilidade pessoal e social. Esse é o nosso perfil”, afirma.

Com orgulho, a idealizadora ressalta que, apesar de a escola formar bailarinos notáveis, que seguem carreira na arte e se tornam grandes artistas e professores, o mais importante é ver os ex-educandos prosperando – independentemente da área profissional.

Apoio à educação formal e programa de nutrição e saúde fazem parte das estratégias de cuidado da escola
Legenda: Apoio à educação formal e programa de nutrição e saúde fazem parte das estratégias de cuidado da escola
Foto: Isabelle Maciel/Edisca/Divulgação

“Foram crianças que, em suas histórias familiares, não tiveram ninguém que tivesse acessado o nível superior, a universidade. Então, eles estão quebrando paradigmas super importantes”, celebra, destacando que Renata é bailarina e especializada em ginástica olímpica, e Eva, além de bailarina, se formou em fisioterapia.

Questionada sobre a expectativa para a participação da dupla de ex-alunas no programa – considerando o alcance que o programa tem no País e o que as duas podem conquistar a partir disso –, Dora responde que acredita que as duas “vão jogar um bolão, porque são lindas, talentosas, educadas e têm trajetória”.

Renata e Eva se conheceram na Edisca há 25 anos
Legenda: Renata e Eva se conheceram na Edisca há 25 anos
Foto: Reprodução/Instagram

“A Eva e a Renata são mulheres – e sempre foram adolescentes e jovens – extraordinárias. Primeiro, ambas são extremamente talentosas. Meninas de muito caráter, meninas extremamente trabalhadoras”, elogia. 

Eva, além de ex-aluna, é filha de uma das idealizadoras do projeto, Jerusa Pacheco, e estudou no espaço devido a um programa que permite que todos os filhos de funcionários da casa possam se desenvolver na Edisca.

A projeção das duas na televisão nacional, para Dora, não é diretamente uma conquista da Edisca, mas pode trazer novos olhares importantes para talentos oriundos de projetos sociais – já que, muitas vezes, o olhar da mídia para quem mora nas periferias é estereotipado e só se volta para questões negativas.

“Na periferia não só tem problema, não só tem pessoas envolvidas com qualquer tipo de contravenção. Existem pessoas de extremo valor, as pessoas que estão sim aparecendo nos jornais por grandes feitos, porque são talentosos”, pontua.

Novidades da escola incluem reinauguração de teatro e remontagem de espetáculo

Teatro Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa foi reinaugurado em novembro de 2024
Legenda: Teatro Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa foi reinaugurado em novembro de 2024
Foto: Isabelle Maciel/Edisca/Divulgação

Rumo aos 35 anos em atividade, a Edisca tem se voltado, nos últimos dois anos, “para dentro”. Segundo Dora Andrade, a instituição tem revisitado programas e estratégias de gestão para “perceber e celebrar o que está dando certo, mas também ter a coragem de revisitar e reconstruir o que não está respondendo de forma plena aos nossos propósitos”, detalha.

O processo de análise inclui consultorias em diversos temas e revitalização da estrutura física, e deve perdurar neste ano. “Nós trabalhamos muito e muito seriamente. A gente tem um compromisso de vida com a causa social, mas a problemática social só se agrava. E ela se agrava por vários motivos. A pobreza não acabou e os motivos que geram a pobreza só se agravam”, pontua Andrade. 

Por isso, a equipe que compõe a escola – atualmente formada por 40 pessoas – tem estudado, por exemplo, como se atualizar e repassar os novos conhecimentos necessários para que os alunos desta geração também consigam adentrar no mercado de trabalho e prosperar, mesmo em meio a um cenário cada vez mais desafiador.

Uma conquista recente para seguir com o trabalho foi a reinauguração do Teatro Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa, feita a partir de recursos oriundos da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE). A casa voltou à ativa no fim de novembro passado, com uma apresentação especial do espetáculo “Estrelário”. A estrutura interna e externa da escola também foi reformada para atender às futuras atividades. 

Em meio às novidades, há também a revisitação do acervo da escola. Em 2025, o grande espetáculo de fim de ano da Edisca será uma remontagem de “Koi Guera”, criado em 1997, que trata do etnocídio indígena – tema que também segue atual, mesmo após tanto tempo.

“Trazer o Koi Guera é, pra gente, uma alegria muito grande, porque todos os espetáculos da Edisca, além do entretenimento, têm uma vontade muito grande de poder produzir uma reflexão no espectador e algum tipo de compromisso”, explica. A remontagem deve estrear no fim de 2025.

Acompanhe a Edisca nas redes sociais: @edisca

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