Em única apresentação no Ceará, Amelinha canta a poesia de Belchior

Cantora abre a programação do IX Encontro Sesc Povos do Mar. É a primeira vez que a artista canta o disco "De primeira grandeza - As canções de Belchior" na terra-natal

Escrito por Redação ,
Legenda: A obra traz, entre outras peças, interpretações de temas como "A palo seco" (1973), "Mucuripe" (1972), "Paralelas" (1975) e "Alucinação" (1976)
Foto: Divulgação

A estreita relação de poetas e compositores nordestinos com o mar guarda especial interesse aos olhos de Amelinha. Dias antes do show gratuito de abertura do "IX Encontro Sesc Povos do Mar", programado para domingo (22), às 20h, no Sesc Iparana, a cantora filosofa em torno das conexões entre arte e natureza. A voz firme divide o quanto os verdes mares do Ceará é elemento poderoso em estabelecer conexões.

"Somos 'praieiros' e tudo termina no mar. Sempre inspirou muito. As tardes das praias do Ceará são inigualáveis. A atmosfera, o vento. O calorzão e a brisa", descreve ao comentar as expectativas da noite de reencontros. Amelinha cantará para um público também formado por moradores de comunidades nativas do Estado e, além de sucessos da carreira, a bagagem ilumina a poesia do amigo Belchior (1946-2017). 

Trata de repertório baseado no disco "De primeira grandeza - As canções de Belchior" (2017). A obra traz, entre outras peças, interpretações de temas como "A palo seco" (1973), "Mucuripe" (1972), "Paralelas" (1975), "Alucinação" (1976), "Comentário a respeito de John" (1979) e "Passeio" (1974). O cenário da apresentação e a força do concerto na terra-natal inspira e a faz lembrar dos primeiros momentos com os amigos de longa data.

Memórias

"Me lembra quando eu conheci o Belchior e toda a turma do Ceará. Morava em São Paulo e com a morte do meu pai, em dezembro de 1970 voltei a Fortaleza. Encontrei o pessoal no Bar do Anísio. Foi ali que ouvi 'Mucuripe' pela primeira vez com o Fagner. Depois o Belchior chegou e me cantou outra versão. Me remete a estes primórdios. Quando o vi (Bel) chegando num gordini (carro compacto produzido à época pela Renault) com cabelo cor de mel nos ombros. Traz a importância deles todos. Um é ligado ao outro. É uma turma que também tem essa relação com a nossa identidade".

Legenda: A obra traz, entre outras peças, interpretações de temas como "A palo seco" (1973), "Mucuripe" (1972), "Paralelas" (1975) e "Alucinação" (1976)
Foto: Divulgação

Amelinha até questiona a demora em ainda não ter apresentado o disco em Fortaleza. Porém, aponta que o momento atual é até "mais leve" para ela. A comoção em torno da morte do parceiro ainda era algo sentido poucos meses atrás. No intervalo entre a gravação do disco homenagem e o show do próximo domingo, a artista protagonizou turnê comemorativa do "Janelas do Brasil", entre outras apresentações.

A chama do álbum de releituras iniciou-se por volta de 1996. Após encontrar Bel nos bastidores de uma emissora de TV em São Paulo, ouviu do colega o convite para interpretar a canção "De primeira grandeza". A chance da gravação poderia ter ocorrido em 2000, momento em que a dupla gravou ao lado de Ednardo o disco "Pessoal do Ceará", produzido por Robertinho do Recife. Quis o destino que o convite fosse concretizado postumamente.

Novas gerações

No palco, a artista terá a companhia dos músicos Julinho Brau (violão e guitarra), Nelson Renovato (baixo), Leandro Campanate (teclado) e Tamir Case (bateria e percussão). Os grupos de Maracatu AZ de Ouro (celebrando 83 anos de fundação), Nação Baobá, Vozes da África e os bonecos gigantes Universo Negro de Aracati apresentam-se às 18h.

Semelhante às ondas do mar, as lembranças e reencontros obedecem a um ritmo prazeroso para a cantora. A poesia de Belchior ainda inflama e segue como farol para uma geração bem mais jovem. Amelinha tem pela frente uma noite única na carreira. Existe grandeza em voltar ao lar e ter uma voz ainda relevante e firme para instigar e apaixonar.

Uma festa para todos os cearenses

Legenda: Grupos de reisado estarão presentes nos cinco dias de evento
Foto: SAULO ROBERTO

Ao longo dos anos, as tradições, culinárias, danças, cantos e artesanatos característicos do litoral cearense são o tema da Rede Sesc Povos do Mar. De Chaval (margem oeste) até o extremo leste de Icapuí, comunidades praianas de 24 municípios participam do projeto de socialização de práticas e saberes.

De 22 a 26 de setembro, o IX Encontro Sesc Povos do Mar recebe na reserva ecológica do Sesc cerca de cinco mil pessoas, entre participantes, público visitante e grupos nativos das comunidades costeiras. São mestres de cultura, rendeiras, pescadores, indígenas das 14 etnias do Ceará e grupos de tradição que se encontram para apresentar o e dividir um dom único: a sabedoria de quem tem a vida ligada diretamente ao mar.

A programação contempla mais de cem ações educativas, divididas em cinco eixos ligados aos aspectos das relações comunitárias. "Saberes e Saúde" ensina a culinária tradicional criada pelas famílias de pescadores, assim como a medicina popular. O "Feito à Mão" é dedicado ao artesanato, com a feira "Onde há rede, há renda", que expõe peças de bilro, labirinto, crochê, louças de barro, entre outros.

Em "Meio Ambiente e Sustentabilidade", as experiências de preservação ambiental de praias e mangues. No núcleo "Os Cantos, Danças e Brincadeiras" é a oportunidade de os visitantes mergulharem nos folguedos. Um grande desfile de Castelos, Reisados, Bois, Pastoris, Coco, Caninha Verde, Maracatu, Calungas, Cassimiros e Mamulengos em atividade no Ceará. Completa os temas do Encontro o "Dragões do Mar", que homenageia os conhecimentos e habilidades dos mestres jangadeiros no controle das embarcações.

Logo após o Povos do Mar,dia 26 de setembro reserva a realização do V Encontro Herança Nativa. A atividade é destinada aos povos originários advindos de 35 cidades do Estado. Trata de uma chance única de interlocução entre indígenas, quilombolas, ciganos, sertanejos, povos de terreiro, dentre outros ricos povos do Ceará.
 

 


 

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