Clube da Viola celebra o repente e a cantoria por meio de programação mensal gratuita

Entidade tem 30 anos de história e é responsável pelo projeto Quinta com Verso e Viola, cuja próxima edição acontece neste dia 29, na CDL Fortaleza

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Jonas Bezerra, Chico Alves e Jonas Rodrigues são alguns dos representantes do Repente
Foto: Honorário Barbosa

“Sertão, argúem te cantô,/ Eu sempre tenho cantado/ E ainda cantando tô”. Feito Patativa do Assaré, centenas de pessoas se dedicam à arte do repente e da cantoria no Ceará. O Clube da Viola celebra essas linguagens ao realizar programação inteiramente nordestina e gratuita para quem deseja conhecer ou mergulhar ainda mais na temática.

A entidade sem fins lucrativos existe desde 1994 e nasceu em Quixadá, município do Sertão Central cearense. O objetivo sempre foi o mesmo: preservar, divulgar e dar mais visibilidade ao repente e aos artistas que o fazem. Para isso, encontros de poetas cantadores e outra diversidade de ações convidam o público para mais perto.

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Nesta quinta-feira (29), por sinal, mais uma edição do carro-chefe da programação do Clube cumpre essa meta. A Quinta com Verso e Viola ocupa a CDL Fortaleza, no Centro, a partir das 19h30, com apresentação dos repentistas João Lourenço e Zé Eufrásio. Trata-se da 126 ª vez que a iniciativa acontece, motivo de contentamento e orgulho.

“O projeto nasceu em março de 2007 a partir de um convite da direção do teatro SESC Emiliano Queiroz ao Clube da Viola para organizar um evento naquele teatro. Em virtude do sucesso, convidaram o Clube para continuar com a ação, em edições mensais. O projeto ficou em cartaz por 11 anos, até a chegada da pandemia de Covid-19, quando precisou pausar”.

As palavras são de Orlando Queiroz, fundador e atual presidente do Clube da Viola. Segundo ele, hoje o projeto acontece sempre na CDL Fortaleza durante as últimas quintas-feiras de cada mês, com entrada franca. “Para além disso, temos um canal no YouTube com publicações dos eventos organizados exclusivamente pelo Clube”.

Primeiros registros

Bebendo de raízes sertanejas, a arte do repente e a cantoria de viola são manifestações seculares. O primeiro registro de um encontro entre poetas cantadores é de 1870. Foi na Serra do Teixeira (PB), envolvendo Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira – este, escravo alforriado. De lá para cá, a manifestação cresceu e ganhou cada vez mais adeptos.

Conforme Orlando, por ser uma atividade artística exclusivamente nordestina, possui público fiel e muito participativo, notadamente entre aqueles que vieram do sertão para as grandes cidades. “Creio que a seriedade que o Clube da Viola imprime nos próprios eventos é fundamental para a longevidade desse projeto”, situa o presidente da entidade.

Legenda: Por ser atividade artística exclusivamente nordestina, evento possui público que veio do sertão para as grandes cidades
Foto: Divulgação

“Quem frequenta o Clube – sem sede física, apenas uma legenda criada para organizar eventos de Cantoria de Viola – revive as próprias lembranças ao ouvirem um embate poético entre os repentistas”, completa Orlando. Ainda assim, uma das razões da existência do Clube da Viola e a manutenção do projeto Quinta com Verso e Viola é exatamente renovar a plateia.

Felizmente, o intento está sendo alcançado. Existe uma parcela significativa da plateia composta por pessoas citadinas, que nunca moraram no sertão e, mesmo assim, admiram a Arte do Improviso. É forma de preservar a manifestação e destacar o trabalho de vários que já passaram e ainda passam pelo projeto.

Ivanildo Vila Nova, Geraldo Amâncio, Oliveira de Panelas, Os Nonatos, Sebastião da Silva, Sebastião Dias, entre outros integram os mais de 100 repentistas que já participaram de alguma ação promovida e organizada pelo Clube da Viola. “Com o êxodo rural, alguns cantadores visionários levaram a cantoria para as capitais, garantindo, assim, a sobrevivência e o fortalecimento dessa arte”.

Necessidade de preservação

Em que pese a importância da cantoria de viola para a Cultura Popular Nordestina, Orlando considera a expressão ainda pouco divulgada pelos meios tradicionais de comunicação. Não à toa, defende que seja necessário surgir outras entidades capazes de entender a necessidade de preservar a própria cultura como forma de identidade do povo. 

Legenda: Da esquerda para a direita, Jonas Bezerra, Orlando Queiroz e Jeferson Silva: dedicação integral à arte do repente e da cantoria
Foto: Divulgação

“Neste ano de 2024, o Clube da Viola completou 30 anos de existência. Foram centenas de eventos musicais, além da produção de CDs e DVDs de Poetas Cantadores. A pretensão é continuar essa empreitada em prol de uma das artes populares mais complexas e magníficas que existem: A Arte do Repente, o cantar de improviso ao som de uma viola”.

 

Serviço
Quinta com Verso e Viola 
Nesta quinta-feira (29), às 19h, na CDL Fortaleza (Rua 25 de Março, 882, Centro). Entrada franca. Mais informações pelas redes sociais e pelo canal do Clube da Viola no YouTube

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