Deputado Glauber Braga (Psol-RJ) anuncia greve de fome e dorme na Câmara após cassação ser aprovada

Parlamentar diz ser alvo de esquema arquitetado pelo antigo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), quem chamou de "bandido" em diversas ocasiões

(Atualizado às 07:41)
Imagem mostra deputado federal Glauber Braga, alvo de processo de cassação na Câmara do Deputados, na tribuna do Casa legislativa
Legenda: Apesar do fim do mandato ter sido aprovado pela Comissão de Ética, o processo ainda cabe recurso
Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A cassação do deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) foi aprovada, nessa quarta-feira (9), pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, por 13 votos a cinco. Em reação, o parlamentar anunciou que fará greve de fome e, conforme o jornal O Globo, dormiu no chão dos plenários de comissões da Casa, onde promete permanecer até o fim do processo que pode culminar com o fim do seu mandato. 

O psolista diz ser alvo de um esquema arquitetado pelo antigo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, segundo ele, atuaria nos bastidores para assegurar o revés contra o parlamentar do estado do Rio de Janeiro.  

"Tomei a decisão inconciliável, irrefutável de que não vou ser derrotado por Arthur Lira, não vou ser derrotado pelo orçamento secreto, não vou ser derrotado pelo sócio minoritário dessa história que foi o MBL [Movimento Brasil Livre]", disparou Glauber após a decisão. "Vou permanecer aqui, nessa sala, no Congresso Nacional, até a finalização do processo. [...] A partir de agora, eu não vou me alimentar", anunciou. 

A deputada Luiza Erundina (Psol-SP), de 90 anos, defendeu que outros integrantes do partido permaneçam na casa com o parlamentar, sem sair do Congresso.

Cassado ou não?

O deputado Glauber Braga foi cassado ou não? Apesar de ter sido aprovado pela Comissão de Ética, ainda cabe recurso ao processo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Caso o caso avance após a votação nesse colegiado, caberá ao plenário decidir sobre o fim do mandato de Glauber Braga.

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O que motiva a cassação

Aberto em 2024, o processo foi em razão do episódio em que Glauber expulsou um integrante do MBL da Câmara dos Deputados aos chutes. O caso aconteceu em 16 de abril de 2024, quando o parlamentar do Psol expulsou o influenciador Gabriel Costenaro, integrante da sigla alinhada à direita.

Na ocasião, o criador de conteúdo fez insinuações sobre a mãe do deputado, a ex-prefeita de Nova Friburgo, Saudade Braga, que na época estava doente. Ela faleceu 22 dias após o ocorrido.

O que diz o deputado Glauber Braga?

O deputado do Psol afirmou, em diferentes sessões do Conselho de Ética, que o relatório foi "comprado" pelo então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que exercia o cargo no ano passado. O parlamentar ainda chamou o alagoano em diferentes oportunidades de "bandido".

Relator do processo de cassação, o deputado federal Paulo Magalhães (PSD-BA) e Glauber colecionam entreveros desde o início do processo. Em agosto de 2024, o representante da Bahia se defendeu das críticas. "Sua defesa se incrimina. Não faço conluio com ninguém. Minha relação com o presidente Arthur é discreta". "Discretíssima", ironizou Glauber.

Logo então, Magalhães devolveu os ataques, chamando o colega de "inconsequente e responsável" e afirmou que ele merece ser cassado. "Não quero lhe cassar. Mas que vossa excelência merece, merece sim", afirmou o relator.

Na sessão dessa quarta-feira, Glauber chegou à sala da comissão acompanhado de dezenas de militantes, que gritavam o lema "Glauber, fica". Em discurso a apoiadores, ele novamente chamou Lira de "bandido" e o militante do MBL de "minibandido".

Ele lembrou que Magalhães, em 2001, agrediu com um pontapé um jornalista que denunciou em livro o tio do parlamentar — o ex-presidente do Senado e ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães — e saiu impune

Esta é a segunda vez que o Conselho de Ética aprova a cassação de um deputado nesta legislatura. A primeira aconteceu com Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), no ano passado.

Ele foi preso preventivamente sob acusação feita pela Polícia Federal de ser o mandante do assassinato da ex-vereadora do Rio Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Apenas um deputado, Gutemberg Reis (MDB-RJ), votou contra a cassação e somente um se absteve: Paulo Magalhães, o relator do caso de Glauber.

O parlamentar preso há mais de um ano continua com o mandato parlamentar, já que o processo não foi votado no plenário, responsável pela decisão final. Como mostrou o Estadão, desde que foi detido, em março de 2024, ele já custou mais de R$ 1,8 milhão à Câmara.

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