Clássico do Carnaval, o frevo ganha um novo olhar no disco “Orquestra Frevo do Mundo”

Idealizada por Pupillo (ex-Nação Zumbi), a coletânea reúne vários artistas. De Caetano Veloso a Duda Beat, o álbum aproxima o gênero do pop 

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Pupillo, ex-Nação Zumbi, idealizou e produziu "Orquestra Frevo do Mundo"
Foto: Foto: Dovile Babraviciute

Embora o Carnaval ferva mesmo no período de quatro dias da festa, os ecos da tradição são sentidos durante o ano inteiro. Não à toa, gêneros musicais como o frevo se consolidaram no cenário da cultura brasileira marcados pelos apelos do ciclo carnavalesco. Passada a “edição” 2020, esse movimento permanece. 

Baterista, percussionista e produtor musical, o pernambucano Pupillo (ex-Nação Zumbi) preparou o primeiro volume da Orquestra Frevo do Mundo. O disco reúne 8 releituras do frevo, que levam o gênero, associado ao Carnaval, à linhagem da música pop.  

Medalhões como Caetano Veloso e Arnaldo Antunes dividem o repertório com nomes mais jovens da MPB, a exemplo de Céu, Otto, Siba e Duda Beat. O material está disponível nas plataformas digitais desde o início deste mês.     

“Nós pernambucanos participamos da festa porque isso vem de gerações em gerações. E o disco vem da necessidade de colocar o frevo em diálogo com outras épocas do ano. Sinto que o frevo tem potencial e capacidade de dialogar com o universo pop”, observa Pupillo.  

Desde setembro de 2018, o músico saiu da formação da Nação Zumbi (CE), após 23 anos de dedicação, e passou a se dedicar mais à produção musical. É dele a assinatura dos últimos discos da cantora Céu (com quem forma um casal), Paulo Miklos, Erasmo Carlos, dentre outros. No entanto, ter saído do grupo criado por Chico Science não impediu Pupillo de direcionar novos olhares para a cultura popular.  

“A experiência com a Nação Zumbi foi toda calcada nessa pesquisa. Hoje, num mundo tão globalizado, muito do que a gente vê de ‘original’ no pop tem a ver com o resgate de elementos da cultura popular de cada lugar. Pernambuco é contemplado pela diversidade, e a gente juntou o que há de mais ‘roots’ com elementos da música pop que sempre ouviu”, reflete.  

Legenda: Caetano Veloso, Céu, Otto e Duda Beat (em sentido horário): artistas foram convidados para reler o frevo
Foto: Fernando Young (Caetano Veloso), Fábio Audi (Céu), Kenza Said (Otto) e Ana Alexandrino (Duda Beat)

Versões 

Pupillo pensou em gravar as versões do disco depois de tocar em uma festa, chamada ‘Enquanto isso na Sala de Justiça’, no Recife (PE). No repertório, o músico reuniu frevos de Pernambuco e os que marcaram a cena baiana também.  

Difundido pelo compositor pernambucano Nelson Ferreira na Bahia, o frevo sofreu uma “repaginada” depois desse deslocamento. “Nos anos 70, o Nelson participou do Carnaval da Bahia, e isso influenciou Armandinho, Caetano, Moraes Moreira. E eu queria criar esse elo entre os dois lugares, e quebrar um pouco do bairrismo”, revela Pupillo.  

O “frevo baiano” ganhou a qualidade da guitarra baiana, símbolo dos trios elétricos, e influenciou toda uma nova geração de músicos. Para o segundo volume, a ideia do produtor ainda é reunir artistas diferentes do universo do frevo. “Já tenho alguns nomes na cabeça, mas por enquanto estamos curtindo o lançamento do volume 1”, pontua.  

Destaques 

Da primeira à última faixa, o volume 1 da Orquestra Frevo do Mundo envolve um clima distinto, sem exceção. Dentre os destaques do disco, Otto (PE) apresenta uma versão mais robusta e ainda empolgante da sua “Ciranda de Maluco”. Beto Barreto (Baiana System) cuidou do arranjo da guitarra baiana na faixa. “A Filha da Chiquita Bacana”, cantada por Caetano Veloso e Céu, ganha uma interessante roupagem radiofônica. 

Duda Beat solta uma versão descolada do clássico “Bloco do Prazer” (composição de Moraes Moreira em parceria com o cearense Fausto Nilo). Na faixa, a presença do naipe de metais e a melodia original garantem o transporte do ouvinte ao momento mais introspectivo dos bailes de Carnaval.  

“Frevo Mulher” (Zé Ramalho), na versão de Tulipa Ruiz (SP), ganha uma dimensão bem diferente dos frevos tradicionais e se desenvolve num arranjo pesado, mais rock e com clima de suspense. Almério canta “Vida Boa”, conhecida na gravação do Eddie (PE). A música flerta com a eletrônica e soa mais pop em relação à original, sem perder sua graça que dá vontade do ouvinte assobiar enquanto escuta.  

Legenda: Orquestra Frevo do Mundo/ Vários artistas/ Independente/ 2020, 8 faixas/ Disponível nas plataformas digitais

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