Carnaval de hoje: Foliões cearenses aliviam saudade com 'festa virtual' e ‘dentro de si’

No ano que ficará marcado pela ausência de festejos, admiradores do carnaval apostam em alternativas para viver o período em isolamento

Escrito por Roberta Souza e Lívia Carvalho , verso@verdesmares.com.br
Legenda: Brincante do Maracatu Solar, Walnysse Gonçalves celebra nova idade no que seria a ressaca do carnaval
Foto: Camila Lima

O que restou de confete, glitter e fantasia do ano que passou está escondido nas gavetas da saudade que 2021 deixará. Sem carnaval, o Brasil é um pouco menos Brasil. E ao folião cabe buscar alternativas para atravessar esse período de pandemia sem perder a esperança de festejar como se gosta num futuro breve. 

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Da janela de casa, na Rua João Cordeiro, a arquiteta Tatiana Medina suspira a ausência do burburinho clássico desse período. “Quando vim morar aqui, em 2012, já fui alertada: (pré)-Carnaval, ou fica ou sai logo cedo e volta tarde, porque tem muita gente e ainda passa o Bloco Cheiro. E é desse jeito! Nossa varanda passou a ser o camarote todo ano”, recorda.

Ver vídeos na galeria do celular desse tempo que passou é o único conforto de Tatiana diante da necessidade de distanciamento social. “Saudade vai ter sim, mas com a certeza de que quando passar tudo isso, poderemos curtir com saúde e segurança outros carnavais. Espero que já em 2022, é claro!”, projeta.

Legenda: A arquiteta Tatiana Medina e sua filha contemplam a rua João Cordeiro esvaziada
Foto: Camila Lima

Para o fotógrafo Igor Barbosa, a festa é sinônimo de liberdade, daí ser tão conflitante com o enclausuramento provocado pela pandemia. “Esse ano naturalmente é um ano triste. Nós somos muito sociáveis, então vai ser difícil por estarmos isolados”, entende.

O carnaval de Igor, no entanto, é maior que a pandemia, por isso planeja festejar em casa, ouvindo as músicas que gosta, fazendo videochamadas e aproveitando as lives programadas para esses dias. “Quero manter esse espírito independentemente do local, pois o Carnaval vive em mim”, afirma o fotógrafo.

Legenda: Esse ano, Igor Barbosa, que reside próximo ao Polo da Mocinha, planeja um carnaval virtual
Foto: Camila Lima

Tal ideia é compartilhada pela professora Walnysse Gonçalves, brincante do Maracatu Solar, que celebra nova idade nesse período. “Ano passado, eu disse: ‘Ano que vem, meu aniversário vai ser o dia da ressaca do Carnaval’. Mal sabia eu que esse gosto de ressaca seria de 2020”, lembra.

Walnysse compreende que não há o que comemorar com o número de mortos dessa pandemia, ainda crescente no Ceará, e propõe um jeito de encarar o momento.

“Este ano, nosso Carnaval precisa ser diferente. Não tem como pensar em grandes aglomerações nesse momento. Precisamos nos conscientizar disso e dar esse tempo agora para podermos promover uma grande festa no ano que vem com todos aqueles que amamos. Como diz o trecho da loa 2021 do Maracatu Solar, esse ano ‘O Carnaval é dentro de Si’”, defende.

Legenda: "Este ano, nosso Carnaval precisa ser diferente. Não tem como pensar em grandes aglomerações nesse momento", defende Walnysse Gonçalves
Foto: Camila Lima

Projeto virtual

Quando chegar a “quarta-feira de cinzas”, conheceremos visualmente a história do ano sem Carnaval, por meio de um webdoc produzido por um grupo de amigos comunicadores residentes no Ceará. Quem explica melhor essa proposta é Marcela Benevides, uma das idealizadoras do projeto @saudadesdefevereiro no Instagram.

A gente entrevistou pessoas que estavam inseridas no ciclo carnavalesco de Fortaleza, além de um ambulante que ficava nas redondezas da Rua dos Tabajaras pra vender bebidas durante esse período”, destaca ela, que desenvolveu o trabalho com Bianca, Lia, Roberto, Márcio e Maurício. 

Desse grupo, Roberto, que é moçambicano, nunca viveu um carnaval. “Tô sendo apresentado mais a festa agora com o projeto e tá sendo bem interessante. Estamos percebendo o quanto o Carnaval movimenta para as pessoas que precisam dele pra sobreviver”, observa, certo do desejo de experienciar a festa quando a vacinação for concluída.

“Embora não dê pra saber se tudo vai voltar ao normal, porque acho que ainda vai demorar, acho que, após essa fase, as pessoas vão precisar de um momento para descontrair, então o carnaval vai ser perfeito”.

Legenda: O que virá em 2022 ainda é incerto, mas, no que depender de ações e projetos cearenses, não ficaremos sem memórias festivas
Foto: Camila Lima

Para Marcela, o @saudadesdefevereiro foi uma maneira de ressignificar a festa em meio a pandemia. “Realizar esse projeto é se colocar nesse lugar de ouvinte e conseguir disseminar isso para um maior número de pessoas a fim de mostrar que, mesmo num ano complicado para muita gente, principalmente para os artistas, existe algum tipo de respiro, a lembrança, e que podemos tirar algo proveitoso”.

O que virá em 2022 ainda é incerto, mas, no que depender desses corações carnavalescos, não ficaremos sem memórias festivas, mesmo em isolamento.

Legenda: Registro realizado pela equipe do projeto "Quanta saudade cabe em fevereiro?"
Foto: Divulgação

 

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