Artistas abrem as portas dos próprios ateliês para visitação e homenagem a Azuhli neste sábado

Próxima edição do Ateliês do Pocinho acontece neste sábado (27), de forma gratuita; ao todo, 14 artistas apresentarão os próprios trabalhos e modos de criar

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Os artistas da mais nova edição do evento Ateliês do Pocinho: diversidade, abrangência e aconchego
Foto: Flávia Almeida

Que tal conhecer os lugares onde artistas produzem as próprias obras? É a experiência proporcionada pelo Ateliês do Pocinho - Abertos. Rico em ideias e conexões, o evento gratuito acontece neste sábado (27), das 14h às 18h, no edifício Palácio Progresso, Centro de Fortaleza. Ao todo, 14 nomes apresentarão trabalhos e modos de fazer.

Diego de Santos, Dely Ribeiro e Geovania Lima, Eric Barbosa, Gustavo Diógenes, Igor Gonçalves, M. Dias Preto, Marina Pinto, Oliver Benício, Ramon Alexandre, Ramon Sales, Raoni Freitas e Sérgio Gurgel são os participantes desta edição. Juntos em cada cantinho, eles promoverão diálogos e aprofundamentos tendo como ponto de partida a arte.

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A iniciativa contará com 13 espaços e será dedicada à memória de Azuhli. A artista, outrora ocupante dos Ateliês do Pocinho, faleceu no último mês de maio e deixou grande legado para a criação cearense e brasileira. Mais do que isso: ajudou a consolidar a parceria entre os pares de ofício. “Azuhli e sua obra seguirão importantes”, diz Diego de Santos.

“Nosso convívio sempre foi tranquilo e, embora estivéssemos em salas diferentes, estávamos atuando coletivamente, seja conversando sobre o trabalho, discutindo ações para os Ateliês do Pocinho ou nos ajudando quando um precisava do outro. Nossa paisagem também era um assunto do trabalho dela, se apresentando por meio das cores vivas e pela luz que ela fazia refletir de sua pintura”, completa.

Legenda: Diego de Santos no próprio ateliê: "Considero importante o público perceber o caráter profissional de um espaço de criação"
Foto: Diego de Santos

Formado em Artes Plásticas pelo IFCE (2010), Diego trabalha com diferentes linguagens e incorpora elementos do próprio cotidiano ao debate de classe sobre moradia e transformações sociopolíticas. Segundo ele, visitar os Ateliês do Pocinho é relevante porque o público se distancia um pouco do formato expositivo institucional. 

Nos espaços, o convite é para imergir no processo. “Você entra em contato com outro instante do trabalho e pode conversar sobre as questões importantes para a pesquisa do artista, o que nem sempre é possível em um museu ou galeria. Além disso, considero importante o público perceber o caráter profissional de um espaço de criação, onde elaboramos poética e burocraticamente o trabalho”.

Legenda: Diferentes linguagens e trabalhos serão conferidos no evento, como estes desenhos de Igor Gonçalves
Foto: Flávia Almeida

Em clima de preparação da sala onde ocupa, Diego adianta o que os visitantes encontrarão por lá. Ele quer que todos conheçam, o mais próximo possível, o que o espaço é na rotina. Ou seja, um recanto de processos, pesquisa, experimentação e convivência.

“Além de obras em processo, tenho muitos trabalhos finalizados da série mais recente, intitulada ‘Acabamentos’, em que utilizo cerâmicas que sobram de construções como suporte. É um debate em torno da indústria imobiliária e a exploração da natureza, então retrato um cotidiano que vem desaparecendo em função do crescimento desordenado das cidades”.

Diversidade artística

O artista visual e designer M. Dias Preto é outro integrante da ação. Para ele, esta edição conversa muito sobre diversidade artística. “Somos mais de 10 ateliês ocupando um prédio comercial do Centro de Fortaleza. Isso é revolucionário para as artes visuais do Ceará”, vibra em ritmo de celebração por pertencer a uma comunidade.

Há um ano, ele expôs pela primeira vez um trabalho num ateliê aberto por meio de um convite feito por Diego de Santos. Agora, após esse tempo, M. ocupa uma sala do edifício e transforma o espaço por meio da própria singularidade como artista.

Legenda: “Somos mais de 10 ateliês ocupando um prédio comercial do Centro de Fortaleza: isso é revolucionário", diz M. Dias Preto
Foto: Flávia Almeida

“Remonto e desmonto um lugar que, ao entrar, estava tomado por divisórias. Agora está mais amplo e repleto de obras que conversam sobre as fases da minha vida, principalmente infância e adolescência.  Uma forma de conversar sobre amadurecimento, conexão mãe-filho e novas formas de auto gestação. Pouco será mostrado dessa nova fase, mas saliento essa virada de chave”.

O artista também ressalta a venda das obras – a fim de iniciar um novo processo/pesquisa artística “com a vontade de ser tão crua quanto o mar” – e, feito Diego, evidencia a grande contribuição de Azuhli para as Artes Visuais. “Nos encontramos nas cores, formas e no afeto”, diz.

“Mesmo que nossa relação não tenha sido de grande proximidade, acredito que eu entendo bem o universo criado por ela. Há muito em comum entre nossos universos. Lamento não ter dado tempo entrelaçar nossas estéticas. Mas fico feliz que haja uma movimentação para que seu trabalho seja mantido e expandido”.

 


Serviço
Ateliês do Pocinho - Abertos
Neste sábado (27), de 14h às 18h, no Palácio do Progresso (Rua do Pocinho, 33, Centro). Entrada gratuita.

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