Paul McCartney lança álbum radicalmente solo e reforça time dos bons discos deste ano

O músico britânico compôs e gravou o trabalho praticamente sozinho

A regra não está escrita em lugar algum, mas poucas exceções são capazes de fugir a elas. No universo pop - onde, claro, o rock também está incrustado, as grandes obras costumam ser criações dos primeiros anos de carreira, enquanto a maturidade longeva revisita incessantemente, nos palcos, os grandes feitos do passado.

Repertórios fartos em hits e superproduções movem milhões, lotam turnês e renovam a base de fãs, a despeito das críticas à idade e aos propósitos financeiros de artistas dessa casta. Em um ano privados de shows e turnês, era de se esperar que essa turma desse pouco o que falar. Contudo, o ano trouxe boas surpresas de gente consagrada: AC/DC, Pet Shop Boys, Bruce Springsteen e Bob Dylan.

O mais recente deles é Paul McCartney. Na sexta-feira, chegou às lojas e plataformas de streaming o álbum "McCartney III". Os lançamentos do britânico são sempre muito aguardados, dada a devoção dos fãs, sólida desde que ele integrava os Beatles. Contudo, "Egypt Station" (2018), seu trabalho anterior, figura fácil entre as suas obras menos inspiradas.

"McCartney III", contudo, se distancia bastante de se predecessor. É o terceiro de uma série de álbuns radicalmente solos. O primeiro, de 1970, foi também sua estreia solo, gravado quando ainda integrava os Beatles. Com um som cru e caseiro, funcionava como uma antítese dos superproduzidos trabalhos da fase final do quarteto. Sua sequência, lançada há 40 anos, documentava McCartney se distanciando dos Wings, banda que o acompanhou na década anterior. Era mais dançante e cheio de sintetizadores, e ganhou status de cult. O novo dialoga mais com o primeiro da trilogia. É mais orgânico e básico, sem tentativas de parecer antenado.

McCartney fez uma aposta alta, mexer com a história de dois álbuns destacados de sua discografia, mas o resultado foi bem sucedido. Assim comprovam canções como "Find my way" e "Deep Deep Feeling".