Aos leitores,
Neste ano, entregaríamos pela quinquagésima vez o Troféu Sereia de Ouro, motivo de grandes emoções em nossa família e de enorme responsabilidade perante a sociedade. Contudo, o momento é excepcional. Levar adiante a premiação, com respeito e honradez, no nível de exigência que temos com a comenda, requeria mudanças.
Nasceu assim uma campanha em homenagem ao cearense, enaltecendo a força, a luz e a garra de nosso povo. Reunimos histórias de 50 personagens que transmitem a toda sociedade o nosso sentimento diante dos desafios atualmente impostos ao mundo. Somos fortes! Temos tenacidade, presença de espírito e bom humor para vencer as adversidades que nos sejam apresentadas.
O nosso povo não se dobra. Através destes exemplos de superação e ação, veremos o quanto devemos ter orgulho da nossa terra, do nosso sangue e das contribuições do nosso povo. Quando um cearense ganha o mundo, o mundo ganha.
Assim, o evento que já aconteceu por 49 vezes deu lugar, neste ano, a uma campanha que vem sendo vista na TV Verdes Mares e na TV Diário durante o mês de setembro e que será publicada, a partir de hoje, no Diário do Nordeste.
Agradecemos aos nossos convidados pelo apoio e exemplo, com suas histórias de cearensidade que estimulam a trilhar o sucesso com perseverança renovada, pois essa é uma característica marcante de quem somos e que nos dá orgulho.
Obrigado a todos os cearenses, por existirem e resistirem. Contamos com nossa força sempre!
Abelardo Rocha
Presidente-executivo do Grupo Edson Queiroz
O legado cearense
Destacar o mérito de cearenses vitoriosos em suas atividades profissionais: foi com essas palavras que Dona Yolanda Vidal Queiroz definiu, com precisão, o objetivo do Troféu Sereia de Ouro, na apresentação do livro editado por ocasião dos 40 anos da comenda. A condecoração foi instituída por seu marido, o industrial Edson Queiroz, em 1971, um ano depois da fundação da TV Verdes Mares. O troféu foi inspirado no símbolo da emissora, a sereia desenhada pelo artista Mino Castelo Branco.
Por causa da pandemia e da exigência de serem adotadas medidas de proteção para minimizar riscos de contágio, neste ano não será realizada a premiação do Troféu Sereia de Ouro. Por consequência, não haverá entrega de comendas nem sereiados. Ainda assim, o Sereia de Ouro se reinventou em sua edição 2020. Ao longo de setembro, uma campanha especial tem destacado 50 personagens, referências do povo cearense.
Os critérios da honraria
“Ao instituir a comenda, o chanceler Edson Queiroz estabeleceu como critérios para escolha dos agraciados a honradez, o talento e o sucesso profissional, qualidades que constituem um modelo cívico para novas gerações”, relembrou Dona Yolanda Queiroz, na entrega da honraria de 2009.
“A galeria dos sereiados apresenta um perfil abrangente do caráter e da genialidade do povo cearense, podendo-se dizer que uma grande parte da história do Estado é traçada pelas realizações das personalidades detentoras do Troféu”, delineou.
Com edição anual, a comenda do Sistema Verdes Mares premiou, anualmente, a partir de sua primeira edição, quatro personalidades notáveis, de áreas diversas, convergindo num espírito de civismo, de inquestionável talento e capacidade de transformação em benefício da sociedade – não apenas da comunidade cearense, diga-se.
Ao longo dos anos, o Troféu também trouxe para primeiro plano pessoas que, nascidas em outros estados, deram importante contribuição para o Ceará; e cearenses que, fixando-se em outras partes do Brasil e do mundo, levaram consigo a tenacidade e a criatividade que são marcas do povo dessa terra.
A definição do que leva alguém a ter seu nome escolhido encontra uma fórmula precisa em outro discurso de Dona Yolanda Queiroz, proferido na cerimônia de 1990:
“Temos exaltado, pelo merecimento, destacadas figuras da vida brasileira, notadamente aquelas cujas atividades transcenderam interesses pessoais e particulares e espalharam benefícios, favores e notoriedade à terra alencarina e ao seu povo”.
A cerimônia
Em 49 edições presenciais, o Troféu Sereia de Ouro destacou a trajetória de sucesso de 196 personalidades cearenses. A seleção de cada ano traduz a pluralidade do talento cearense – contempla homens e mulheres das ciências, das artes, dos negócios, da iniciativa privada, do serviço público, além de figuras abnegadas, reconhecidas por sua doação aos mais necessitados.
A primeira cerimônia de entrega foi realizada nos jardins da TV Verdes Mares e repercutiu instantaneamente. “Foi uma festa que tomou uma dimensão tão grande na cidade, à época, de maneira tal que foi se avolumando o número de convidados, de pessoas interessadas em participar da comenda. Em pouco tempo, Dona Yolanda achou que a solenidade estava muito informal e sugeriu reformular tudo”, reconstitui o jornalista Pádua Lopes, ex-diretor superintendente do Diário do Nordeste, que esteve presente na ocasião.
“Dona Yolanda era a alma mater das cerimônias da Sereia de Ouro”, precisou a escritora Ângela Gutiérrez, agraciada na edição de 2016 do Troféu, em seu discurso de agradecimento. “Durante quase cinco décadas, Dona Yolanda dignificou a entrega do Troféu Sereia de Ouro com a fortaleza dos cearenses que enfrentam a vida de cabeça erguida e a gentileza dos filhos de nossa terra acolhedora”, relembrou, na ocasião, a atual presidente da Academia Cearense de Letras (ACL).
Foi em 1975 que a cerimônia ganhou sua forma definitiva. O Troféu passou a contar com um roteiro bem urdido e seguido à risca. É conhecido pela elegância, uma marca de seus organizadores. Um novo espaço foi necessário para receber a cerimônia que havia se transformado em festa, com jantar de gala. Nos próximos anos, o Troféu Sereia de Ouro passou a ser entregue no salão nobre do Ideal Clube, onde ficou até 2006.
A única exceção aconteceu no ano de 1982, por causa da morte de Edson Queiroz. Chegou-se a aventar a possibilidade de adiar a edição daquele ano, mas a família do industrial não teve dúvida em mantê-la, mesmo no momento de luto. A entrega do Troféu foi mantida, mais uma vez destacando quatro importantes personalidades. Contudo, o momento exigiu uma cerimônia mais restrita, realizada no antigo Centro de Convenções.
O crescimento de Fortaleza e a dificuldade de operacionalizar um evento de tal dimensão motivaram sua mudança de local. Depois de duas edições no La Maison Dunas, a solenidade foi levada para o centenário Theatro José de Alencar, em seu palco nobre e nos jardins.
Panteão
Uma forma privilegiada de se reconstituir as últimas cinco décadas do Ceará, no que elas tiveram de melhor, é a partir da lista de personalidades agraciadas com o Troféu Sereia de Ouro. Para o jornalista Pádua Lopes, ao rememorar os nomes dos agraciados, é possível se ter a noção exata da “evolução do pensamento e do sentimento da sociedade cearense em cada época”, pois a comenda “acompanha os tempos e os fatos positivos que estão em maior evidência”.
“A lista de agraciados com o Troféu Sereia de Ouro é um verdadeiro panteão, ou seja, estão ali heróis do Ceará. Pode-se contar a história do Estado, a partir da comenda, na arte, na literatura, no empresariado, na vida militar e na religiosa. Todas as profissões estão contempladas, de alguma forma, nessa relação. É um caleidoscópio que você pode olhar e se encher de orgulho”, define.
Sobre o momento da outorga, Pádua Lopes não titubeia: “a força da festa está no brilho dos próprios escolhidos. Eles são as estrelas que iluminam o palco naquele dia”.
Sentimento comum entre os agraciados é justamente o de se felicitarem com admirável companhia. “A comenda oportunizou, de maneira irrestrita, aos cearenses conhecerem irmãos e irmãs responsáveis por soerguer a reputação do Estado. Ela aproximou o legado destes conterrâneos à memória da sociedade local”, avalia o professor e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Roberto Cláudio Frota Bezerra, agraciado com a distinção em 2002.
“O Sereia de Ouro é um troféu que todos nós, empresários, almejamos”, explica Beto Studart, um dos quatro homenageados de 2018. “O desejam, principalmente, aqueles que são trabalhadores, que vivem para o negócio e são preocupados com seu Estado. Eu sempre o almejei”, revela o empresário, que já esteve à frente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Exemplo
Reconhecido internacionalmente pelo trabalho à frente do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), que desenvolveu um curativo para queimados a partir da pele de tilápia, o cientista Odorico de Moraes afirma que a projeção dada à carreira pela comenda é sem par. “Continua repercutindo até hoje”, conta ele, outro dos agraciados de 2018.
Em sua sala, o Troféu fica ao lado da Ordem Nacional do Mérito Científico (2010), mais alta distinção dentre os cientistas brasileiros. Odorico explica que viu, em sua homenagem, uma aclamação à ciência, por parte da sociedade. “É o reconhecimento de um trabalho que faço há mais de 40 anos nesse ramo da pesquisa. Demonstra a valorização da sociedade e também sublinha o nosso trabalho”, explica o cientista.
“Se espelhar no criador do Troféu Sereia de Ouro é bom. É fazer uma transformação enorme para si e pelos demais”, ensina o empresário Honório Pinheiro, homenageado em 2009. “Para os cearenses é um destaque singular. Para mim, não foi diferente. É uma escolha que, além de nos deixar honrado, nos faz crescer pelo ponto de vista da responsabilidade que você assume, como cidadão e cearense”, enaltece.
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Os valores destacados pelo Sereia de Ouro têm suas raízes na história de pioneirismo do povo cearense